Se entregando aos seus beijos

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ISABELLE ORSINI

Meu corpo não se moveu. Nem mesmo por um único centímetro ao perceber que Dimitri havia se deitado na cama. Eu sabia que isso iria acontecer, pois como ele havia dito estávamos sendo vigiados, mas ainda assim era estranho demais.

Intimo demais.

Perigoso demais.

Senti a respiração dele próximo a mim, o peso do seu corpo afundando o colchão levemente e por fim, a forma como sua respiração tornou-se ritmada. Eu deveria ser a única nervosa naquela situação.

— Está acordado? – Acabei perguntando como uma criança que temia o escuro. Talvez esperasse que ele não respondesse para me acalmar, entretanto o som de sua voz preencheu o ambiente rapidamente. E de alguma forma, acabei me sentindo melhor ao escutá-lo. O que tinha de errado comigo? Como eu poderia enxergar nele alguém de confiança?

Talvez ele seja diferente.

Falei para mim mesma sabendo o quão poderia estar enganada.

— Desculpe – Dimitri falou atraindo a minha atenção – Sei Que deve estar assustada, mas prometo não tocá-la. Sou um homem de palavra, Isabelle.

Por alguma tola razão, acreditava nele, e isso era o que mais me aterrorizava. Acreditar na pessoa que eu deveria odiar.

— Por favor, apenas pare de ser gentil – Pedi com a voz baixa tentando esconder o meu rosto na escuridão do quarto.

— Isabelle, o que está falando? Não estou entendendo.

A sua resposta foi a mais normal possível. Quem poderia entender a minha cabeça confusa afinal de contas?

— Quanto mais gentil, mais perigoso será para mim quando finalmente mostrar a sua face. – A minha logica doentia pareceu não fazer sentido para ele. Dimitri virou-se na cama encarando-me.

— Sei que não confia em ninguém, mas precisa aprender a confiar em mim. Isabelle, somente temos um ao outro – Falou calmo ao me encarar. Seus olhos pareciam atravessar a escuridão e compreender todos os sentimentos que tumultuavam o meu coração.

Como ele conseguia fazer isso?

— A sensação que tenho é que você irá me jogar fora assim que não precisar de mim – Confessei incrédula pelas minhas palavras.

— Não sou seus pais e muito menos compactuo com os ensinamentos dessa religião – Disse ao aproximar o seu corpo do meu lentamente – Não fique assustada – Pediu em um fio de voz ao puxar o meu corpo em direção ao dele.

Se fosse outro homem, eu estaria gritando e chorando neste exato momento, contudo estávamos falando de Dimitri, o delegado ogro. Seu corpo por alguma razão acalmava todos os meus nervos.

Eu deveria estar louca quando pousei a minha cabeça em seu peito e deixei que ele acariciasse meus cabelos e tocasse em minhas costas.

— Jamais irei lhe ferir – Dimitri falou baixo em meu ouvido aproximando nossos rostos. Essa deveria ser a hora em que eu deveria me afastar dele, contudo permaneci parada. Senti a respiração dele próximo ao meu rosto e não demorou para seus lábios encostarem nos meus.

O que eu estava fazendo?

Perguntava-me a cada segundo deixando que Dimitri mordiscasse meus lábios e enfim colocasse a sua língua no interior da minha boca.

Aquele era o meu primeiro beijo após o estupro. Não fazia ideia se eu sabia como beijar ou se estava fazendo algo errado. Tentei acompanhar o que ele fazia e em nenhum momento Dimitri forçou algo ou me apertou com mais força. Suas mãos continuaram nas minhas costas e em meus cabelos de forma delicada.

Como um ogro poderia ser tão delicado?

Me perguntava ao sentir seus lábios se afastando dos meus para em seguida depositar pequenos beijos em meu pescoço. Fechei os olhos ficando entregue aos novos sentimentos que invadiam o meu corpo tentando esquecer as duvidas que pairavam em minha mente.

— Desculpe – A voz de Dimtri me surpreendeu no momento em que se afastou de mim abruptamente. – Prometi que não iria te tocar. – Sua voz baixa resplandecia culpa.

Ele estava se sentindo culpado ou percebeu que havia feito um erro ao me beijar?

— Eu não deveria ter feito isso sem a sua permissão – Disse parecendo constrangido. Sem conseguir evitar acabei sorrindo. – O que foi?

— Você é realmente doce – Deixei escapar ficando surpresa ao vê-lo corar. – Você está com vergonha?

—Não – Negou constrangido. Seu rosto continuou vermelho. E enfim consegui enxergar um lado nele. Um lado que provavelmente ninguém havia enxergado antes. Dimitri Petrovis conseguia ser fofo.

****
SOFIA CASTILHO

O que eu estava fazendo?

Eu não fazia ideia. Olhei ao redor da trilha cansada. Já estava procurando pelo suspeito do estupro da jovem por dias sem conseguir pistas. O que havia de errado com aquela cidade?

Suspirei.

—Quando ele vai voltar? – Acabei deixando escapar ao olhar em volta. Havia alguns casais correndo e alguns garotas. Todos pareciam felizes e entusiasmados. – Não sei se ficariam da mesma forma se descobrissem o que ocorreu aqui.

***
DIMITRI PETROVIS

— Qual será a punição? – O ancião indagou ao olhar para todos e eu poderia jurar que vislumbrei um brilho de satisfação em seu olhar. Após acordar com Isabella deitada em meus braços, sabia que deveria ir atrás do ancião para resolver aquela pendencia. Fui procurar o ancião e ele não demorou para convocar uma reunião com todos os homens. Todos olhavam com curiosidade para mim, já que a punição de Isabelle era esperada por todos.

— Eu a puni ontem a noite – Falei alto ao colocar a mão dentro do meu bolso. Se eu nao fizesse isso, iria atacar cada um deles que sorriam ao me encarar. Eu os desprezava.

— E espera que sua palavra seja suficiente? – Um dos homens disse alto fazendo com que os outros sorrissem.

— Sou um Petrovis. Não minto para a religião. – O modo como a minha voz aumentou fez com que alguns abaixassem as cabeças. Gostava dessa submissão cega que eles emanavam. – Como sabem, a minha palavra deveria ser o suficiente para vocês, já que sou de uma das quatro famílias fundadoras. Mas vejo que não acreditam em mim. – Sorri com escarnio ao ver o modo como eles me olhavam com medo. A raiva de um Petrovis poderia interferir durante anos, ou seja, se eu quisesse poderia acabar com toda uma família. – Sou um homem benevolente, mas a minha família não é, e imagino que já saibam disso.

Todos se entreolharam ansiosos.

— Como a puniu? – O ancião indagou.

— Com um chicote – Dei de ombros – Não farei novamente e se desejam brigar comigo, irei me divertir com suas tentativas e com a destruição de todos pela minha família.

— Sua petulância ainda destruir a sua família – O ancião falou com péssimo humor.

— Eles conseguem sobreviver – Sorri. Isabelle estava livre da punição daqueles doentes – E vamos retornar para a cidade esta tarde. Não posso continuar aqui por muito tempo.

— Irá leva-la? Imaginei que ela ficaria aqui para reaprender suas obrigações.

E enfim, o ancião havia mostrado sua verdadeira face. Ele desejava prende-la naquela vila para aplicar todas as punições possíveis. Ele a desprezava por ela ter fugido.

— Ela é minha mulher e como tal deve permanecer ao meu lado. – Uma palavra era como uma ordem, se fosse dita pelos Petrovis. – Ela irá comigo.

Ninguém ousou falar nada, e como poderiam?

Eu tinha o controle enquanto usasse o nome da minha família. A mesma família que me desprezava por eu ter escolhido ser delegado e optado por salvar Isabelle. 

CONTINUA...

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