Prisão Interna

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DIMITRI PETROVIS

Eu havia feito merda.

Os olhares dos outros homens da religião me encaravam com uma expressão entre ódio e repugnância. Todos já sabiam que eu os havia ameaçado, não que eu me importasse, mas Isabelle estava em perigo. Suspirei pesadamente ao parar no centro da vila para avaliar as minhas opções. Poderia fugir pela floresta – já havia analisado todo o local e feito uma fuga alternativa caso precisasse – mas se eu fizesse, jamais conseguiria o poder que desejava. Contudo, não desejava sacrificá-la como um animal. Passei a mão pelos meus cabelos ignorando os olhares.

Precisava encontrar uma saída para aquele empasse.

— Dimitri Petrovis – Virei-me ao escutar a voz de Oliver Fergus, um dos herdeiros de sua família e o único que parecia desprezar a religião mais do que eu – Estou surpreso em vê-lo aqui – Oliver sorriu ao se aproximar trajando uma roupa branca assim como eu. Seus cabelos haviam sido cortados desde a ultima vez que eu o vira. – Veio ameaçar alguém?

— Infelizmente não – Neguei ao observá-lo com mais atenção. – Nunca veio nesses encontros, o que aconteceu? – Perguntei friamente com medo da resposta. Se Oliver tivesse se tornado um deles, eu estaria perdido.

— Fui obrigado a me casar – Revelou sério ao olhar para atrás abaixando a voz em seguida – Disseram que iriam mata-la se eu continuasse me negando. A pobre mulher não tem culpa.

Fiquei em silencio. Oliver passara anos negando aos pedidos de casamento até se ver sem saída. Eu conseguia compreende-lo, pois o mesmo teria acontecido comigo se Isabelle não tivesse fugido.

— E como é a mulher? – Minha curiosidade se deu em saber se ela era alienada como todas as outras ou uma rebelde que poderia nos ajudar futuramente.

Ele pareceu cansado ao revirar os olhos.

— Quieta e sempre chora. Parece que a mãe vivia a ameaçando. Ela não concorda com os ensinamentos da religião, mas também não tem forças para brigar.

Assenti. Poucas pessoas fariam o mesmo que Isabelle.

— Pretende leva-la com você? – Os homens tinham opções quando se casavam. Poderiam levar a mulher para viver com eles ou deixa-la na vila, entretanto tinha que vir visita-la frequentemente.

— Não vou deixa-la sozinha aqui – Deu de ombros – E a Isabelle? Estou curioso para saber como é a neta do ancião.

— Tempestuosa e decidida. – Eu não menti, afinal ela era assim diante de meus olhos.

— E o que fará sobre a punição? Todos estão comentando que se negou a puni-la e ameaçou todos da religião. Isso é algo que você faria normalmente, então não me surpreendeu.

— Pensarei sobre isso.

— Se não fizer isso, estará dizendo que não é fiel a religião.

Assenti.

—Boa sorte – Sorriu ao se afastar. Oliver sempre sorria quando se despedia das pessoas, esse era uma característica que apenas ele possuía. Uma estranha característica.

Continuei andando em direção a casa em que eu estava com Isabelle naquele final de semana. O sol já estava prestes a se por, ou seja, logo deveria me deitar na mesma cama que ela. Sabia que deveria fazer algo para faze-la se sentir segura, mas não tinha muitas opções, pois estávamos sendo vigiados.

Abri a porta surpreso ao vê-la parada, me esperando. Seu olhar era imerso em pensamentos profundos.

— Quando será? – A sua voz estava fria quando indagou. – A punição. – Ela pareceu compreendeu o meu olhar de surpresa – Duas mulheres vieram aqui falando sobre isso.

Império [Degustação]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora