Comprando o colchão

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DIMITRI PETROVIS

Minhas mãos permaneciam fixas no volante, pois eu sabia que se as afastasse poderia querer abraça-la. Isabelle não parecia querer falar sobre o que tinha acabado de acontecer, pelo menos era o que parecia. Seu silencio era mais aterrorizante e perturbador que todos os assassinos que já encontrei.

Tamborilei meus dedos contra o volante assim que parei em um sinal vermelho. A cada segundo ficava ainda mais impaciente com tudo.

— Não vai falar nada? – Perguntei ao encará-la, ignorando as buzinas atrás de mim. – Aquele cara já tinha feito alguma coisa com você?

Foi ele que a deixou assim?

Quis perguntar, mas não tive coragem. Uma vitima não gosta de ser confrontada, eu já sabia sobre isso devido a minha experiência, mas não poderia esperar até que ela se sentisse confortável. Eu queria matar o desgraçado que a machucou.

— Elton não é perigoso – Ela o defendeu. O que diabos havia de errado com aquela mulher? – Ele nunca tentou me machucar. Ele estava bêbado.

— Não pode fazer isso. Você não deve fazer algo assim – Suspirei para controlar a minha voz. Costumava gritar com as vitimas que continuavam a defender seus agressores. – Não é culpada por nada. O desgraçado é ele por ter feito isso ou qualquer outra coisa.

— Já disse que ele nunca fez nada.

— Se eu não tivesse chegado, o que teria acontecido? – Perguntei já sabendo a resposta e avistei em sua face que ela também sabia – Não fique mais sozinha com ele. Irei busca-la agora ou mandarei algum policial.

— Não faça algo assim – Pediu com a voz baixa.

— Estou cuidando de você.

— Esse é o problema. Não quero que cuide de mim.

Eu sabia que havia algo mais por trás de suas palavras.

Não precisei olhar para seus olhos suplicantes e vazios para perceber isso.

— Qual o problema em ser cuidada por mim?

— Não quero ser cuidada por ninguém. Não preciso disso – Sabia que era mentira, pois sua voz estremeceu. Ela não tinha certeza sobre o que falava.

Ela só deseja ser forte para mostrar a si mesma alguma coisa.

—Cuidou de si mesma por anos, agora é a minha vez – Falei o mais calmo que consegui ao tentar solucionar aquele quebra cabeças. Um quebra cabeças que já conhecia a maior parte das peças – Antes de ir para casa, preciso passar em um lugar. Se importa em ir comigo? – Ela negou ao balançar a cabeça sem emitir algum som – Não precisa ter medo.

— Não estou com medo.

Eu estaria se fosse você.

Dei de ombros diante do meu pensamento ao voltar a dirigir seguindo para o centro da cidade. Precisava comprar o meu colchão o quanto antes. Durante o caminho, nenhum de nós dois falou alguma coisa e de certa forma, aquilo me deixou mais confortável. Eu precisava pensar em como fazê-la confiar em mim.

— Chegamos – Anunciei ao parar o carro em uma loja qualquer. Sai do carro e esperei que a fizesse o mesmo – Vou comprar um colchão, não sou bom com isso, então aceito ajuda – Falei tentando soar inofensivo e vulnerável, mas não sei se consegui, pois a vi desviar o olhar e manter seus olhos em um ponto distante. – Ou pode esperar aqui fora – Suspirei ao lhe dar as costas, contudo ao passar pela porta da loja a senti atrás de mim.

Império [Degustação]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora