A vitima: Soraia Vasconcelos

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SORAIA VASCONCELOS

Correr poderia me salvar da dor e daqueles olhos assustadores?

Sabia que não, mas simplesmente não conseguia evitar que meus pés tocassem o chão da floresta a medida que minha respiração tornava-se cada vez mais ofegante. Eu iria ser morta. Conseguia sentir isso a medida que meu cabelo ia de encontro ao meu rosto e sempre que um galho machucava os meus pés.

Estar naquela situação havia sido a minha culpa. Eu havia confiado na pessoa errada.

—Por favor, Deus – Implorei assim que me encostei em uma arvore esperando pela minha morte. Meus ouvidos se tornaram sensíveis a qualquer barulho e mesmo após escutar passos continuei parada no mesmo lugar agora prendendo a respiração. Tinha a certeza de que conseguiria escapar mesmo que meu instinto me falasse para correr. Quando enfim havia apenas o silencio comecei a correr o mais rápido que consegui. O mais rápido que meus pés e pernas aguentaram devido aos cortes que haviam sido feitos. Escorria sangue pelo meu braço e eu tinha certeza que pela minha testa também escorria. Eu deveria estar assustadora e fraca, mas sempre dizem que quanto mais adrenalina temos em nosso corpo, mais coisas extraordinárias conseguimos fazer.

Eu realmente acreditava nisso ao correr pela floresta cegamente.

Eu acreditei que estava a salva quando avistei o final da floresta e consegui visualizar um pouco do asfalto, e talvez em meio ao meu desespero escutei um barulho de carro.

Um sorriso havia se formado em meu rosto até sentir o meu braço ser puxado com violência. Minhas pernas tentaram escapar assim como meu corpo tentou empurrar a pessoa, sem sucesso. Virei o rosto lentamente temendo ver a face da pessoa que havia me torturado antes, contudo era outra pessoa.

Haviam duas pessoas.

— Odeio correr – A segunda pessoa sorriu exibindo dentes perfeitos em meio a uma face demoníaca – E nunca vou entender a fascinação por correr atrás de suas vitimas – Deu de ombros ao segurar o meu pulso com força, puxando-me com facilidade devido a minha fraqueza. Havia gastado toda a minha energia correndo. Tentei gritar, empurrar a pessoa, arranhá-la, mas de nada adiantou. Meu corpo continuava a ser puxado com violência para dentro da floresta até enxergar a pessoa que havia me torturado – Na próxima tome mais cuidado – Falou ao me empurrar em sua direção.

— Essa vez foi realmente divertida. Deveriamos fazer novamente?- Perguntou com sadismo ao sorrir largamente. Engoli em seco ao fechar os olhos e deixar as lagrimas escapar livremente antes de me ajoelhar no chão da floresta olhando para a pequena tatuagem em meu dedo. Uma tatuagem que havia feito com a minha mãe.

A floresta silenciosa pareceu não querer que eu escapasse com vida dali.

Olhei para as folhas no chão, os galhos e as arvores. Jamais havia gostado de natureza e ironicamente iria morrer em uma.

A floresta que seria o meu tumulo.

CONTINUA...

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