Capítulo 14

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Bonnie


Dizer que eu estou nervosa seria eufemismo diante de tudo o que venho sentido.

A montanha russa sentimental que se tornou a minha vida, vem se mostrando muito mais complicada que o normal, diria até que poderia ser comparada com uma daquelas novelas mexicanas que Marie tanto ama assistir. É tanto drama que se torna até mesmo cansativo acompanhar, a única diferença é que nessas novelas os mocinhos têm seus felizes para sempre.

Não é exagero dizer que tem dias em que estou bem, outros nem tanto. Mas há aqueles em que  simplesmente não tenho a mínima noção de como estou me sentindo, como agora. Acordei cedo e mal toquei no café da manhã, meu estômago parece fechado para qualquer tipo de comida sólida e minha Grãozinha não para quieta, o que de certa forma me anima, pois mostra que ela está a cada dia mais forte. Eu só tenho que tentar me controlar para que esse nervosismo não a atinja diretamente também.

Olho para a tela do celular e marca 08hs55min. É muito tarde para desistir. Mas quando foi que me tornei tão medrosa? Medo era uma palavra que não deveria existir no meu vocabulário, visto que o drama é a palavra que reina.

"Está se sentindo bem, Bonnie?" Olho para Kai, que está em pé ao lado do sofá e balanço a cabeça afirmando. Aquela deveria ser a décima vez que Kai me perguntava a mesma coisa em menos de uma hora. "Tomou o remédio da pressão?"

"E as vitaminas também." Coloco as mãos sobre a barriga quando a bebê chuta com mais força. Mal pisco e Kai se ajoelha na minha frente, olhando-me com preocupação. "Ela só resolveu jogar bola hoje."

"Você precisa colaborar com a mamãe, filha." Kai leva a mão ao lado esquerdo da minha barriga, o que faz a Grãozinha se acalmar como em um passe de mágica. "Deixe para dar socos e chutes nos garotos que se aproximarem de você."

Reviro os olhos e quando vou abrir a boca para reclamar, a campainha toca e o meu coração bate como as asas de um beija-flor.

"Eu abro." Marie passa como um foguete por nós dois.

"Vai dar tudo certo. Estarei aqui." Kai beija minha testa antes de se levantar.

Eu prefiro continuar sentada, pois não confio nas minhas próprias pernas, que provavelmente me abandonariam quando mais precisasse.

Marie aparece na sala acompanhada de um jovem e belo casal. Eles mais parecem com um daqueles casais de seriado de tão bonitos que são. Por um momento me senti tranquila, eles não têm idade para terem uma filha com dezenove anos, mas ao olhar bem, vejo a emoção transbordando dos rostos deles, e algo me diz que, sim, são eles.

"Bom dia." O homem alto e loiro tem a voz forte e ao mesmo tempo gentil, os olhos castanhos profundos.

"Sejam bem-vindos." Kai os cumprimenta. "Você deve ser a Abby." Ele fala ao apertar rapidamente a mão da mulher, que sem tirar os olhos de mim, apenas acena com a cabeça. "Vocês não preferem se sentar?"

Kai indica o outro sofá.

"Eu..." A mulher solta a mão do loiro e se aproxima de mim. Antes que eu possa falar ou fazer algo, seus braços me envolvem em um abraço apertado. "Meu bebê. Esperei tanto por esse momento. Sonhei tanto em tê-la em meus braços." Ela fala entre soluços e sinto minhas lágrimas queimarem quando meus olhos se encontram com os verdes tão parecidos com os meus.

Centenas de vezes me perguntei com qual dos meus pais eu mais parecia, e, agora, olhando para a mulher negra baixa, de olhos verdes e cabelos ondulados, sei perfeitamente que herdei todos os seus traços físicos.

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