Capítulo 39

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Voltar para casa machucado parecia ter se tornado um péssimo hábito que não estava disposto a adotar.

Apesar de tantos remédios e repouso absoluto no hospital, Kai ainda sentia dores bastante incômodas nas costelas, principalmente quando tentava respirar mais fundo. Segundo o médico era normal e com o passar dos dias as coisas iriam melhorando, desde que tomasse os medicamentos e não fizesse esforço.

"Ainda acho que deveria ir para casa. Lá poderia ficar de olho em você." Josette falou outra vez. Estava incoformada que o filho não a escutasse; às vezes, esquecia que os filhos já eram adultos e donos das próprias vidas.

"Eu estou voltando para casa, para a minha mulher e a minha filha." Kai beijou o rosto da mãe, que lhe sorriu compreensiva.

Ric que tinha ido buscá-los no hospital, apertou seu ombro e apontou com a cabeça a porta aberta do elevador.

"Acho melhor nos apressarmos antes que Meredith ligue outra vez perguntando onde estamos."

Os três saíram do elevador e atravessaram o corredor, pararam em frente ao único apartamento da cobertura e a porta foi aberta na mesma hora. Uma sorridente Meredith apareceu e abraçou Kai, mas se afastou rapidamente ao ouvir o gemido baixo do irmão.

"Desculpe. Esqueci que está pior que um velhinho." Kai viu como ela se esforçava para segurar as lágrimas. Mesmo que o tenha visitado várias vezes no hospital, Meredith continuava a chorar a cada vez que se viam. Sua irmã andava muito sensível nos últimos dias. Nem parecia a Meredith durona de sempre. "Nunca mais nos dê outro susto desses, Kai!"

"Não tenho a menor intenção de repetir a dose." Respondeu, entrando em casa.

Seus olhos caíram imediatamente nas duas pessoas mais importantes de sua vida. Nas razões de sua existência.

Quando estava naquele carro, refém das loucuras de Nora, chegou a pensar que nunca mais voltaria a vê-las, mas Deus tinha sido misericordioso e lhe dava uma nova chance para recomeçar... mais uma vez.

"Pa...pa." A voz mais doce e adorável do universo fez um verdadeiro reboliço em seu coração.

Sua menininha o estava chamando de pai?

Que coisa era aquela que inchava em seu peito e enchia seus olhos de água?

Então era aquela a sensação que seu pai lhe contou que sentiu quando os filhos o chamaram de pai pela primeira vez?

Sem se importar com qualquer dor, pegou a filha que se balançava e gritava em sua direção. O cheirinho doce de bebê e o corpinho quente lhe trouxeram uma grande paz.

Sua doce menininha. Aquela que o tinha na palma da mão. Aquela por quem mataria e morreria.

Valentina estava agarrada ao seu pescoço e fazia barulhos estranhos em sua linguagem de bebê, mas seus gritinhos demonstravam sua felicidade em revê-lo.

Ela o amava. Seu pedacinho de gente o amava antes mesmo de nascer.

"Ela estava com muita saudade." Olhou para Bonnie, que já não tinha o rosto mais roxo e nem inchado, mas ainda tinha uma fina cicatriz em sua bochecha. Notando seu olhar, ela falou: "Sumirá. O médico disse que basta continuar usando a pomada que ele receitou." Ela usava um vestido azul claro, que ia até um pouco acima dos joelhos e parecia mais magra.

Esticou o braço livre e estendeu-lhe a mão, a qual Bonnie segurou. Kai a puxou para um abraço cheio de saudades e vários outros sentimentos. Como era bom tê-la por perto. Sentir seu cheiro e seu calor.

Até se esqueceu das outras pessoas na sala. Mas ninguém ali se importava. Estavam felizes demais presenciando aquela cena tão tocante.

Seus amores estavam em seus braços, sob seus cuidados outra vez.

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