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Ficamos uma semana no acampamento, fazendo patrulha com os outros homens, caçando desertores e treinando.

Todos os homens se reuniam ao redor de nós quando íamos treinar. Alguns deles eram tão bons quanto nós e pediam por uma tentativa.

Gostávamos de ter outras pessoas com quem lutar, já que praticamente conhecíamos todos os truques umas das outras. Deiopeia era muito boa na luta mano a mano e derrotou quase todos em questão de poucos minutos.

Mas tinha um homem que nos intrigou.

Jamais o havíamos visto ali. Ele tinha longos cabelos ruivos, olhos castanhos e era alto e forte. Era bom com armas e sem.

Eu deixei todas as outras lutarem com ele antes de tentar a chance. Ele derrotou Colima com um golpe que a deixou apagada por alguns minutos e Antracia foi mandada para longe do círculo de luta, de cara na terra.

Ele ergueu o sorrisinho sarcástico para mim, num claro desafio, e eu grunhi. Prendi meus cabelos no alto da cabeça e joguei minha espada de lado.

Ele me seguiu para o círculo e prendeu seu cabelo, imitando o meu.

Analisei meu oponente. Ele devia ter entre vinte e cinco e vinte e sete anos. Parecia veterano de guerra, julgando pelas cicatrizes nas mãos e no pescoço. Seu rosto estava intocado.

"Não sei seu nome. "Ele disse enquanto nos circulavamos.

"Eu não sei o seu também. "Eu disse, tentando distrai-lo.

Sentia todos a nossa volta tensos e concentrados em nós. A expectativa era palpável.

"Archer. "Ele piscou para mim e o sorrisinho reapareceu.

Eu grunhi e ataquei. Fiz uma finta para a direita e chutei sua costelas do lado esquerdo. Ou tentei.

Ele foi mais rápido e agarrou meu tornozelo. Me atirou para a beira do círculo mas eu virei no ar e fiquei de pé, a um passo de sair.

Seu sorriso cresceu e a minha raiva também.

Ataquei como uma víbora, rolando no chão e atacando suas pernas. Consegui fazê-lo cair com alguma dificuldade e lutamos praticamente deitados.

Ele tentou me prender ao chão mas eu girei e usei seu peso contra si. Ele quase me deu uma chave de braço mas me levantei assim que seu braço se fechou no meu.

Ele se levantou também e não mais sorria. Parecia concentrado, talvez até irritado.

Então nos jogamos de volta a uma sequência de chutes e socos que foram mutuamente bloqueados.

Enfim consegui uma brecha e meu osso do pé encontrou seu lugar nas costelas dele.

Ele fez um barulho sufocado e eu chutei seu queixo, que era duro demais para quebrar.

Archer grunhiu e cambaleou, o que me deu tempo para levantar novamente o pé e chutar seu peito para fora do círculo.

Ele atingiu a árvore com tanta força que uma parte do tronco se partiu.

Ele olhou para mim com descrença, que logo foi substituído por uma gargalhada. "Acho que posso te chamar de majestade. "

Eu sorri para ele e peguei minha espada. Eu poderia tê-lo quebrado, mas eu também estava machucada.

Colima me segurou pelos ombros, num gesto casual, mas eu sabia que ela estava discretamente me dando apoio.

Mais tarde, em nossa tenda, Antracia entrou aos pulinhos.

"Céus, quem é aquele homem?!" Ela disse, como se fosse uma adolescente apaixonada.

Colima riu de seu comportamento enquanto terminava de dar pontos na minha sobrancelha. Uma cortesia de Archer.

"Ele é tão bom lutando, é lindo, tem aquele corpo divino e agora está cozinhando sem camisa  na fogueira. Acho que encontrei meu príncipe consorte. "

Nós todas rimos.

"Você só pode ter um príncipe consorte se for rainha e nós todas sabemos que eu vou ser. Então, eu achei meu consorte. " Colima disse e caiu na risada.

"Bom, se eu for a rainha, vou mandar ele dançar todo dia num caminho de fogo, só por ter cortado minha cara toda. " Eu disse, fingindo uma voz superior.

Antracia e Colima riram até que a primeira caísse de sua cama.

"Eu gostaria de rir também. "Uma voz soou da porta.

Nós três congelamos e disparamos nossas cabeças para a entrada da tenda.

Archer estava ali, os cabelos ruivos molhados pingando em seu pescoço.

Colima rapidamente se movimentou para sua cama e ajeitou a camiseta. Antracia aprumou-se no chão e arrumou o cabelo. Eu cruzei os braços  e tentei não corar.

"Bom, vejo que as três estão em seu melhor humor. Talvez gostariam de provar o almoço que eu fiz. Ouvi que partem no início da tarde. "

Antracia estava de pé antes de ele terminar de falar e saiu rapidamente, tocando-lhe o braço. Colima a seguiu e repetiu o gesto.

Quando não me movi, Archer ergueu a sobrancelha. "Não está com fome ou o quê?"

"Não confio em você. Não sei seu nome completo ou ocupação. Não sei quantos anos tem e nem nada sobre você além de que é um ótimo lutador e seu primeiro nome. "

Ele riu e se encostou na parte firme da tenda. "O que tudo isso tem a ver com a minha comida?"

Eu levantei-me e coloquei o cinto com a espada. Ao passar por ele, parei e olhei em seus olhos castanhos. "Você pode ser um traidor e ter envenenado a comida. Nada melhor do que as sete candidatas a rainha no mesmo lugar, não é mesmo? Bom, se estiver realmente envenenado, uma de nós vai sobreviver. "

Ele gargalhou. "Sua teoria é maluca. Venha, eu farei um prato e comerei cada uma das coisas lá e depois o passarei para você. "

Depois de um pouco de insistência, ele conseguiu me levar para a fogueira. Todos já comiam dos três caldeirões espalhados em fila.

Archer pegou um prato e serviu ali arroz selvagem, coelho frito na banha de javali e aspargos defumados na fogueira.

Como prometido ele pegou um pouco de cada coisa no prato e, ao não morrer convulsivamente, passou-me o prato.

Estava realmente bom e eu até repeti. Quando me servi do segundo prato, Archer não conteve o riso sarcástico e eu lhe soquei o ombro.

Depois do almoço, arrumei minhas coisas e peguei meu cavalo. Cinco minutos depois, com todas já em formação para partir, seguimos Kalamhos através da floresta densa.

Virei-me uma última vez e acenei para Archer, que era o único parado no limite das tendas.

A Ruína da RainhaWhere stories live. Discover now