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Collen segurou meu pulso e me puxou. Meu coração estava em cacos e se não fosse por Collen me puxando, eu teria apenas me deixado cair no chão e ser levada por Archer.

Mas Collen não desistiu de mim e eu sabia que se eu mesma desistisse, a morte de Thierry teria sido em vão.

"Onde está Brea?" Eu perguntei enquanto corríamos.

"Não sei. Eu a mandei para longe quando ouvi Archer chegando. Ela está segura, talvez mais que nós. "

Enquanto passávamos por um dos corredores mais profundos do labirinto, ouvi o que parecia ser meu nome.

Achei que era Brea mas não havia sinal dela, então continuei correndo.

"Achamos a saída um pouco antes de encontrarmos você. Alguns corredores me parecem familiares mas eu não consigo achar o...O fio de vento que Thierry sentiu. Não sem ele. "

Collen segurou minha mão e entrelaçou seus dedos nos meus. "Vamos ficar bem, okay? Eu prometo. Você vai ver Heyden até o fim do dia. É uma promessa, Nay. "

Eu o amava. Não como era com Heyden mas como um irmão. Eu sabia que eu poderia sempre contar com ele, que ele protegeria minha retaguarda. Ele era...Era como Colima.

Eu apertei sua mão e viramos no corredor.

Então um corpo se chocou comigo.

Caí no chão e rolei. Ouvi o som de um soco e um grunhido e me levantei para avaliar a cena.

Collen lutava com dois guardas, armados com longas facas, enquanto ele mesmo estava desarmado.

Apalpei meu cinto e vi que minha espada havia sumido no meio do caminho.

Tudo bem então. Faria isso do jeito sangrento.

Levantei uma das mãos e me concentrei nos guardas. Fogo surgiu em suas roupas e se espalhou para seus membros.

Por mais quente que eu deixasse o fogo queimar, eles não esboçavam dor alguma. Foi só quando eles pararam de atacar que eu soube que havia dado certo.

Ouvi passos, dezenas de passos, e soube que ali era nosso fim.

Cerca de vinte guardas viraram o corredor a três metros de nós. Recuamos o máximo que pudemos mas não havia outra saída.

Eles estavam a dois metros de nós e eu deixei o fogo queimar por meu corpo, em veias de magma em meus braços e uma pequena bola de fogo na mão.

Então seus corpos simplesmente voaram pelo ar, numa bagunça de corpos.

Mas, incrivelmente, eles permaneceram parados.

Brea virou no mesmo corredor que eles vieram, ofegante e suada.

"Ei, gente. Não sei se ajuda mas achei um portão de ferro que dá numa floresta. "Ela disse.

Alívio me inundou e eu a abracei antes de corrermos até o portão.

Por mais que eu tentasse queimar o trinco, o portão não se abria.

Então eu ouvi. Passos lentos, muito diferente dos passos sincronizados dos guardas, chegaram aos meus ouvidos.

Archer virou no corredor a cerca de seis metros de nós e sorriu. Seu sorriso era predatório e apenas uma exibição de dentes.

Guardas nos cercaram de ambos os lados do corredor de pedra. Não haviam portas. O portão atrás de nós se recusava a abrir.

Estávamos cercados e encurralados como coelhos. Éramos a caça e aquele  era o dia do caçador.

"Precisamos de uma distração. "Brea chorou atrás de mim.

E uma ideia me atingiu.

O que era uma distração melhor do que fogo?

"Fiquem para trás. Fujam. De qualquer jeito. Se não conseguirem abrir o portão, tentem outro meio. " Eu disse para os dois atrás de mim.

"O que você vai..."Brea começou mas antes que ela chegasse no final da frase, eu atirei uma bola de fogo em Archer.

Ele foi surpreendido mas atirou um de seus zumbis na frente, para receber a labareda.

Eu não deixei que ele se recuperasse. Corri e o ataquei, usando o fogo como minha arma.

Os guardas do outro lado do corredor avançaram mas, graças aos deuses, ignoraram Brea e Collen.

Eu estava no meio do caos, lutando contra os zumbis com apenas o fogo em minhas mãos, enquanto Archer era empurrado para longe, colocando seus lacaios como um escudo humano entre nós.

Ele parecia atordoado e assustado mas esse efeito não durou tanto quanto eu esperava.

Ouvi quando o portão cedeu um pouco, rangendo agudo.

Archer focou os dois atrás de mim e começou a correr pelo meio dos zumbis, os olhos fixos neles.

O pavor me atingiu. O corredor era largo e talvez eu não conseguisse chegar nele antes que ele passasse por mim. Eu era a única defesa entre ele e os dois.

Sem pensar, eu ataquei Archer, chocando meu corpo contra o dele é o derrubando no chão.

Então eu ouvi o melhor dos sons. O portão finalmente cedeu e se abriu e eu tive só um relance de Collen hesitando no portal, os olhos fixos em mim.

"Vá!" Eu gritei e minha voz ecoou pelas pedras nas paredes.

O coração de Collen se partiu em frente aos meus olhos mas para meu alívio ele correu.

Eu sabia que não importava o que acontecesse agora, eles tinham uma preciosa vantagem.

Eu não me importava com o que acontecesse comigo. Era como Thierry tinha dito: uma vida valhia a de muitos.

Meu coração se aquietou, mesmo com o caos da luta. E mesmo quando eu fui dominada pelos guardas, eu não tive medo. Aceitei meu destino, fosse ele qual fosse.

Archer se levantou e limpou o sangue que escorria de sua testa.

"Você é uma garota teimosa. "Ele disse e acariciou meu rosto. Eu o afastei chutando-o no estômago e cuspi em seu rosto.

"Tire as mãos imundas de mim, seu traidor nojento. Assassino!" Eu me debati mas as mãos fortes que me detinham não hesitaram.

Ele limpou o rosto e seu rosto se tornou possesso.

"Vou atrás dos seus amigos e vou matá-los na sua frente, para que você veja o sofrimento deles. "

Ele deu um passo para o portão e eu abri uma cortina de fogo entre ele e a saída.

"Tente. Vai derreter seus ossos tentando. "Eu disse, sem alterar minha expressão.

Ele segurou meu queixo. "Você é perigosa demais para manter como prisioneira e valiosa demais para ser morta. "Ele disse enquanto me avaliava como se eu fosse uma mercadoria exposta na feira.

Então ele sorriu maliciosamente e apertou os dedos ao redor do meu queixo.

"Só nos resta uma opção. "

Ele moveu as mãos para segurar meu crânio e me olhou nos olhos. Ele se concentrou e um fio de suor escorreu por sua testa.

Então a dor me atingiu mas foi rápida demais para que eu gritasse.

Minha visão ficou preta e eu parei de sentir meu corpo, parei de sentir as mãos ao redor dos meus braços. Queria gritar mas eu não sentia minha garganta, não encontrava minha voz. Parei de sentir tudo.

Meu nome me escapou, rostos me escaparam. Eu não me lembrava mais de nada.

Mas o que havia para lembrar?

Eu me afundei na escuridão e senti as correntes se fechando em torno dos meus pulsos. Mas não era meu corpo que era prisioneiro.

A prisão não era física.

Senti as últimas correntes, desta vez em meus tornozelos se fechando. Então afundei em minha prisão mental.






A Ruína da RainhaWhere stories live. Discover now