15

2.8K 463 39
                                    

Dois dia depois, estávamos andando devagar perto do pôr do sol. Andávamos no começo da linha das árvores, longe o bastante para sermos vistos mas não tão fundo para nos preocuparmos com possíveis predadores noturnos.

Nos guiavamos pelo meu sexto sentido, que parecia dizer exatamente para onde ir. Não sabia se estávamos longe do próximo portador, aquele que possuia o poder do ar, mas eu me sentia cada vez mais ansiosa a cada passo que dava.

Em algum ponto notei o que havia deixado passar por sabe-se lá quanto tempo: estávamos sendo seguidos.

Ouvia o farfalhar a mais de folhas sendo pisadas e galhos sendo partidos. Poderia ter confundido os sons como ação do vento, mas eu havia sido exatamente treinada para isso.

Pressionei discretamente minha faca na palma da mão de Heyden, à minha esquerda, sabendo que Collen estava armado com sua própria faca, roubada de uma das cidades pelas quais passamos.

"Há um riacho a uns seis ou oito metros daqui, a oeste. Vão para lá." Eu disse, alto o suficiente para que os dois ouvissem, mas não o bastante para que nossos perseguidores pudessem.

"O que aconteceu, Nay?"Collen perguntou, não deixando a tensão em sua voz chegar em sua postura.

"Provavelmente duas pessoas nos seguindo, a quatro ou cinco metros de distância. Vão para o riacho e eu cuido..."

"Não." Heyden me interrompeu."Somos uma equipe e faremos isso juntos."

Eu abri a boca para protestar mas parei na metade. Ele estava certo. Nós éramos uma equipe e se queriamos fazer essa...coisa funcionar, teríamos que confiar um no outro. Minha vida toda eu estive sozinha. Me defendi sozinha, lutei sozinha, enfrentei o medo sozinha. Mas eu não estava mais sozinha.

Diminuimos o ritmo e discutimos o plano. Parei de andar e me joguei no chão, caindo sentada. "Estou cansada. Vamos parar um pouco."Eu gemi, como a garota mole que eu nunca seria. 

"Tudo bem. Ouvi água por ali e vou encher os cantis." Collen disse e para longe, com Heyden em seu encalço.

Me apoiei nos braços, estiquei as pernas e me permiti fechar os olhos e sentir o sol, que passava em feixes pelas copas verdes das árvores. Sentia as folhas amareladas, amarronzadas e laranjas que cobriam o solo terroso sob minhas mãos. 

Também ouvi os passos se aproximarem, silenciosos mas menos cuidadosos agora. Pareciam estar com pressa. Sabiam que os rapazes voltariam logo e eu não ficaria sozinha por muito tempo.

Abri os olhos e vi que dois homens me cercavam, um de cada lado numa formação circular padrão. Ambos tinham a pele negra, longas espadas em suas cinturas e roupas pretas e douradas, com o colarinho cinza. Eram caçadores da rainha. 

Permaneci parada, com o rosto calmo, enquanto os estudava. Eram altos, talvez do mesmo tamanho de Collen.

O mais alto, da direita, deu um passo na minha direção e estacou. Seus pés começaram a sumir sob a camada grossa de terra que lhe tomava a bota. Olhei para meu outro lado e vi que o outro sofria com o mesmo problema. 

Collen e Heyden saíram de detrás das árvores. Heyden parecia se divertir com aquilo e um brilho selvagem e perigoso brilhava em seus olhos. Collen estava sério e focado, fios grossos de água passavam por entre seus dedos. 

Me levantei e me esquivei dos dois para me juntar aos meninos. Sentia um formigamento embaixo da minha pele, mais para lembrar do poder que habitava meu âmago. Então, quando um dos caçadores esticou a mão para me segurar, foi fácil esquentar minha pele o bastante para que ele gritasse ao encostar em mim. 

Fui para o outro lado de Heyden e os dois me olhavam com surpresa e espanto. Olhei para baixo e vi que a pele de ambos os braços se rachava em linhas por toda a extensão. A pele tinha um tom alaranjado e entre as rachaduras, a pele queimava, como se tivesse magma sobre meu sangue. Era lindo e terrível e eu não sentia dor nenhuma. 

"Porque estão nos seguindo?"Collen perguntou. Seu tom de aço quase me fez aplaudir. 

Um deles grunhiu, um ato corajoso visto que a terra, que eu tinha certeza que se parecia como ferro, subia mais e mais além. Já estava chegando nas pontas de seus dedos, paralisando seus quadris e pernas. 

"Viemos em nome da rainha. Sua cabeça vale uma fortuna, vadia." O mais alto riu. 

Heyden rosnou e avançou na direção dele, mas eu lhe segurei pelo pulso. 

Eu tomei a dianteira e me ergui até estar cara a cara com o caçador. "Eles são os interrogadores bonzinhos, então sugiro que comece a falar. Me chame como quiser, eu não ligo, mas se quiser manter sua pele sobre os ossos, sugiro que comece a falar antes que eu derreta sua cara."

Ele riu e cuspiu no meu rosto. Senti o cuspe quente escorrer pela minha bochecha e meu sangue ferveu. Eu deixei o fogo em minhas veias escorrer e transbordar,literalmente, em forma de gotas de magma que escorriam pelo meu cotovelo e caiam com um chiado agudo na grama e nas folhas. O chão ficava preto e sem vida onde meu fogo caía. Notei que quanto mais furiosa eu ficava, mais quente meu fogo ficava, mais escura minha pele também ficava. 

Segurei seu queixo com uma mão e ele gritou. A pele negra da minha mão e pulso era marcada com veias laranjas de fogo. 

O caçador gritou e tentou se soltar da prisão de terra, mas ela já alcançava seus ombros. "Me diga porque você veio e eu acabo com isso." Minha voz saiu calma e equilibrada e eu senti o gosto maravilhoso da raiva gélida que eu experimentava. 

"Vocês são prêmios. Os melhores em décadas. Estávamos atrás do ouro pela cabeça dela." Ele gritou sob minha mão e eu apertei mais forte seu queixo. 

"Quanto ouro?" Eu pressionei. 

"Trezentas mil coroas de ouro. " Ele gritou rapidamente. 

Eu me afastei. Não porque senti pena de seu sofrimento, mas por surpresa. Era muito, muito ouro. Yriana deveria estar louca por oferecer tanto por mim. 

"Liberte-os."Eu disse para Heyden e a terra começou a retroceder. 

Dei um passo para trás e, sem me virar, me dirigi aos dois rapazes. "Quantos caçadores são necessários para entregar uma mensagem?"

Heyden riu e senti o grunhido de aprovação de Collen atrás de mim. "Um." Os dois disseram em uníssono. 

Vi que o caçador que ficara quieto havia molhado as calças. O outro chorava agarrado ao rosto. 

"Quero que aquela vaca de coroa saiba quem eu sou antes de botar um preço em mim. " Eu disse, para ninguém em particular. 

Tirei a espada da bainha e, em um segundo, o caçador mais fraco estava caído no chão, agarrado à sua garganta aberta. 

Andei até o outro, com o queixo queimado, e fiz meu fogo queimar novamente antes de pressionar a palma da mão em toda a metade esquerda de seu rosto. 

"Diga à ela que eu mando lembranças. Fale sobre como eu não tive piedade porque ela não me ensinou isso em dez anos. Diga que eu decido meu preço e que ele é de quinhentas mil coroas de ouro. " Eu disse, enquanto sentia seu rosto derreter lentamente debaixo de minha mão. "Diga-lhe que se ela quer me caçar, vai precisar de mais do que dois caçadores inúteis e fracos." 

Eu lhe soltei e ele correu, quase caindo duas vezes, e o vi desaparecer entre as árvores. 

Eu estava sendo caçada, minha cabeça valia um palácio de ouro e diamantes. Mas eu não sentia medo. Eles me ensinaram bem. Me ensinaram tudo que um guerreiro perfeito podia saber. Eu era uma mercenária perfeita, queimando com o fogo de mil infernos sob minha pele. 

Se eles queriam me caçar, eu derreteria os ossos de seus corpos antes que pudessem botar as mãos em mim. 



Ei gente, desculpa pela demora. Meu celulas quebrou e eu tenho que escrever pelo notebook. Mas eu demoro muito para escrever por aqui e eu não consigo estar sempre com ele, por isso a demora. Mas não desistam de mim rsrs prometo que o livro vai ficar bom. 

A Ruína da RainhaWhere stories live. Discover now