31

2.1K 367 40
                                    

Heyden piorou.

Ele teve febre alta durante a noite e vomitou convulsivamente. Minha mãe nos expulsou do quarto gritando sobre infecção.

Ela passou horas com ele lá dentro e quando nos deixou entrar, eu fui a primeira.

Ele estava pálido, tão pálido que sua pele estava cinzenta. Ele tinha olheiras e seu rosto e pescoço estavam suados. Seus cabelos estavam grudados na testa e ele tinha uma expressão extremamente cansada.

Me sentei na cama ao seu lado e vi que ele tinha ataduras novas. Sua pele estava avermelhada em diversos pontos mas eu não conseguia ver mais que isso.

Toquei sua testa e ele ainda estava ardendo em febre.

"Ele estava com 40°C da última vez que chequei. " Minha mãe disse da porta.

Vi que eu estava sozinha no quarto com ele.

"Os outros imaginaram que você gostaria de privacidade e se retiraram. " Eu não fiz nada, sequer olhei para ela quando assenti, com os olhos fixos nele.

"Eu não esperava que ainda houvesse chance de infecção. Poderia tê-lo matado. Desconfio que teria se não fosse o sangue mágico em suas veias. "

"Ele vai conseguir se levantar amanhã? Planejavamos partir para o castelo cedo. " Eu perguntei com a voz rouca.

"Sinto muito, querida, mas ele precisará de mais alguns dias de cama. "

Eu balancei a cabeça. "Não podemos mais esperar. Cada dia que passa é arriscado demais. "

"Então vá. Eu cuidarei dele e você pode voltar quando terminar de tratar seus assuntos com a rainha. Ele vai ficar bem, eu prometo. "

Pensei por alguns segundos e estava prestes a ceder a mais dias de espera quando Heyden segurou minha mão.

Ele entreabriu os olhos em fendas e tossiu um pouco. "Vá, Nay. Eu não posso atrasar vocês. Vou ficar bem. " Ele disse, levando um pouco de tempo demais em cada palavra. Ele estava tão, tão fraco.

Arrumei seus cabelos com o dedo e acariciei seu rosto. "Não posso deixar você. "

Ele deu um meio sorriso. "Mas precisa. "Ele tossiu novamente e minha mãe o ajeitou no travesseiro. "Vá falar com Antracia. Eu estarei bem aqui quando voltar. "

Hesitei alguns segundos mas assenti, mesmo que ele não visse.

Encostei minha testa na sua e segurei suas duas mãos no peito. "Vou voltar para buscar você assim que as coisas se acalmarem. Não morra. "

Ele riu fracamente. "Você também. Volte para mim, Anaya. "

Beijei sua testa. "Eu prometo. "

                               ⚔⚔⚔

Com os cavalos de Aerith, partimos para o castelo. Levaria cerca de três horas até o Castelo de Ourel, mas fizemos em pouco mais de duas.

Minha mãe havia nos emprestado capas para não sermos reconhecidos antes da hora.

Alguns quilômetros antes, bolamos nosso plano.

Brea e Thierry ladearam-nos e nossos pulsos foram presos frouxamente com corda.

Eu e Collen tiramos nossos capuzes e houve uma gritaria sem fim quando os primeiros guardas nos viram. Ou me viram.

Reconheci Kalamhos entre os rostos dos guardas e seu rosto empalideceu sob meu olhar.

Minha espada e meu escudo estavam escondidos sob as camadas de tecido da capa mas ainda ao alcance.

Eu fui arrancada rudemente do cavalo mas sequer notei.

Kalamhos gaguejou alguma coisa ininteligível antes de se recompor.

"Quem são vocês?" Ele perguntou para Brea e Thierry.

Brea tirou o capuz. Seu rosto lindo chocou os homens ao redor. "Viemos pegar nossa recompensa. Estes são os possuidores de magia que vocês procuram. "

Kalamhos me olhou com uma careta e eu não pude evitar sorrir para ele. Ele desviou o olhar rapidamente e focou em Collen.

Eu sabia o que ele estava vendo. Collen era alto e forte e eu era uma excelente lutadora. Como duas pessoas como Brea e Thierry poderiam nos capturar.

Eu lancei um sorrisinho debochado para ninguém em particular. "Levei um deles comigo antes de ser amarrada. "Olhei para Brea. "Gostou de ter seu amiguinho estripado?"

Eles entraram na minha história e seus olhos brilharam com dor falsa, mas convincente.

"Só queremos nosso ouro e sair daqui. "Thierry disse com a voz baixa, olhando para o chão.

Kalamhos assentiu. "Nós os levaremos até a rainha. "

Meu coração deu um pulo. Em parte por medo, em parte por excitação.

Ele nos guiou, com três guardas na frente e três atrás do nosso grupo, por corredores familiares e reluzentes.

Não era nada como o castelo de Aerith, que era simples e prático. Os corredores lotados de ouro e luxo de Ourel poderiam manter o reino por anos.

A sala do trono não havia mudado em nada, mas desta vez, não era Yriana que sentava-se no trono de bronze.

Antracia estava coroada, linda e imponente, com o olhar reluzindo em ódio frio.

Seu vestido azul-esverdeado fluido escorria pelos degraus abaixo de si. Ela não tinha armas à vista mas não precisava com tantos guardas.

Mas meus olhos não pararam nela.

Meu olhos continuaram para a esquerda e meu coração parou por um segundo.

Sentado no trono ao seu lado, estava Archer. E uma coroa reluzia em sua cabeça.

A Ruína da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora