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"Qual a próxima cidade? Estou morto de fome." Collen reclamou. 

Tirei o mapa roubado do bolso e chequei nossa localização. Havíamos marcado um X em cada cidadezinha por onde passamos, mas não havia mais nenhuma cidadezinha por perto agora. 

Mostrei-lhe o mapa e ele gemeu."Vamos ter que caçar. Não veremos civilização por alguns dias. "Eu disse. 

Heyden ficou instantaneamente feliz. "Ótimo! Já estava na hora de eu mostrar meus truques para vocês." Ele girou alegremente minha faca entre os dedos. Heyden havia simplesmente se apoderado da arma após o encontro com os caçadores. "Eu sempre cacei e sempre fui bom nisso. Eu sempre achava uma presa, não importava o quão longe ou escondida ela estava. Então, depois de desenvolver meu poder, resolvi tentar uma coisa. "

Ele fechou os olhos e se concentrou.Uniu as duas mãos e franziu o cenho. Olhei para Collen com uma sobrancelha erguida e silenciosamente questionamos a sanidade de Heyden. 

Mas quando ele abriu as mãos unidas, uma esfera verde e flutuante, como se fosse feita de névoa, pairou sobre seus dedos. Ele gentilmente a jogou para a frente e ela permanceu ali parada por alguns segundos, apenas coexistindo conosco. 

Mas então ela começou a se mover em direção ao interior da floresta, numa velocidade baixa, e nós a seguimos. A esfera mudou de direções inúmeras vezes e desacelerava quando tínhamos algum obstáculo. 

Ela finalmente parou numa parte um pouco mais elevada e assim que Heyden se inclinou para olhar mais perto, ela entrou em sua palma, como se jamais tivesse existido.

Me inclinei perto de Heyden e vi um bando de coelhos, pelo menos dez espalhados na descida da parte em que estávamos. Trocamos olhares entusiasmados e cada um seguiu numa direção. Eu fui pela direita, Collen pela esquerda e Heyden pelo centro. 

Juntar fome e três pessoas versadas na arte de caçar era uma coisa divertida. Embora Heyden não entendesse estratégia de guerra como eu e Collen, ele entendia bem os sinais. 

Abaixado na grama, alta o suficiente para que o escondesse, Heyden engatinhava com a minha faca na mão. Eu e Collen estávamos em lados diretamente opostos do espaço em V arredondado em que os coelhos se encontravam. 

Sabíamos que se eles fugissem, seria rápido interceptar e pegar o quanto precisávamos, mas era um jogo divertido, como lobos brincando com ovelhas. 

Seguindo as instruções em forma de mímica de Heyden, quem tinha a melhor visão, nos movimentamos junto aos coelhos. Então, quando Collen deu o sinal, pulamos na direção dos nossos alvos. O primeiro coelho estava com ambas as orelhas entre meus dedos em dois segundos e o segundo, que tentou escapar agilmente pela lateral, também foi apanhado. 

Eu tinha dois, Collen também, mas Heyden tinha três. 

"Tanta fome assim?" Perguntei, erguendo as sobrancelhas. 

Ele deu de ombros."Pensei que poderíamos ter um animal de estimação em nossa jornada."

Collen revirou os olhos. "Largue o pobre bicho. "

"Escolha um, Nay." Heyden pediu, erguendo seus coelhos para me dar uma boa visão. 

Apontei para o da direita. "O bicolor. Ele tem olhos espertos."

Heyden riu e soltou o coelho, que correu como uma flecha atrás dos outros. 

Andamos de volta para o acampamento, o que demorou um pouco porque nenhum de nós se lembrava do caminho. 

Enquanto assavamos nossa comida no fogo que eu mantinha um pouco mais quente do que o normal, nos sentamos para conversar. 

"Sabem isso que fizemos? De escolher o coelho? É um pouco hipócrita." Heyden disse, distraído. 

"É hipócrita deixar o bicho viver?" Eu perguntei com sarcasmo. 

"Um pouco. Escolhemos quem vivia e quem morria. Ninguém deveria ter esse poder todo. "

Franzi o cenho, pensando naquilo. "Acho que é um pouco hipócrita, pensando assim."

"Deuses, vocês dois me deixam deprimido. "Collen riu enquanto virava nossos coelhos.

Ficamos em silêncio durante algum tempo. Então tiramos a carne do fogo e enquanto comiamos, um assunto surgiu na minha cabeça.

"Como a gente sabe que achou o cara do ar? Quero dizer, ele vai simplesmente brotar na nossa cara como eu fiz ou podemos ter perdido ele duas cidades atrás?"

Heyden riu."Não acho que o tenhamos perdido. Ainda sente a intuição?"

Eu assenti. Era esse sentimento, mais urgente a cada passo, que nos guiava.

"Vai saber quando chegar. Será sufocante e desesperador. "

"Fico pensando..." Collen começou depois de um tempo. "Se somos levados um ao outro, como eu...Comecei? "

"Não acho que somos assim por acaso. Eu acredito que os deuses tenham algo a ver com isso. " Heyden disse.

Eu bufei. "Eu não acredito nos deuses. Mas também não tenho nada melhor. "
"Vamos descobrir. Na hora certa. "Collen disse.

Eu e ele éramos os mais sérios, enquanto Heyden era otimista e...Brilhante. Era até...Fofo ver como ele lidava com as situações.

"Precisamos andar. Não quero acampar tão fundo na floresta e precisamos aproveitar o pouco de luz que ainda resta. " Eu disse, recolhendo nossas coisas.

Com um movimento de pulso queimei toda a madeira restante e extingui o fogo. Sem evidências, sem rastros.

Nos pusemos a andar quietamente na floresta e imaginei se a vida do cara que procuravamos melhoraria ou pioraria quando ele descobrisse seu poder.

Eu ainda não sabia sobre mim. Mas estava ligeiramente inclinada a dizer que estava mais feliz assim, mesmo com minha cabeça valendo um reino inteiro.


A Ruína da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora