Capítulo 3

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Luzia passou o resto do dia e toda a noite pensando em Gustavo e na conversa que tiveram. Mais do que antes, ela estava impressionada. E dessa vez, não era pela expressividade do olhar dele ou qualquer coisa do tipo. Estava espantada porque ele lhe pareceu alguém normal. Era semelhante a uma mulher nos mais variados sentidos: pensava e falava como tal. E possuía até um nome!

Mas, ao mesmo tempo, tentava se convencer que aquilo ainda não o tornava parecido com uma mulher. Os aspectos que notou eram apenas superficiais e detalhes em relação ao resto. Se eram seres inferiores, era porque havia motivo. Eles não pensavam como elas, por exemplo, não falavam como elas, suas ideias não se comparavam às ideias delas, às suas habilidades sociais e empáticas. Por mais que em um primeiro momento, parecesse que eles tinham a mesma capacidade mental, em uma conversa mais aprofundada se perceberia que não. E era isso que as diferenciava. Os homens eram irracionais e só serviam para atividades corporais e que necessitassem de força. No mais, careciam de vigilância constante para seus impulsos violentos.

Era sobre isso que discutia aquela manhã, com Minerva:

— Eles não são tão diferentes de nós como imaginávamos — disse, após ter contado a ela tudo que aconteceu.

— Eles podem ser semelhantes no físico, mas no comportamento são bem diferentes. — Minerva terminava de tomar seu café da manhã, enquanto falava com Luzia, sentada no sofá da sala. — A sociedade deles é um caos. Eles não têm direito de nada, até a comida é limitada.

— Como assim?

— Você não sabia? Eles ganham um saldo dependendo do trabalho que fazem e da quantidade que trabalham num período de tempo. Esse saldo, usam pra comida, pra roupas e pra adquirir outras coisas. Ouvi uma vez que até para se locomover na sociedade e para ter eletricidade e água precisam usar esse saldo.

— Que coisa horrível!

— Pois é. Mas eles são inferiores e merecem esse controle. Se tivessem nascido mulheres seria diferente. Sendo homens, não há outra escolha. E não funcionaria de outra forma. Você acredita que eles mesmos pegam esse saldo um do outro e usam como se fossem seus? Isso gera uma confusão e às vezes eles até se matam.

— Nossa! Tudo pelo impulso violento que têm? — A outra confirmou com um gesto da cabeça. — E como você sabe disso tudo?

— Lembra da Angélica, uma das minhas namoradas de anos atrás? Ela gostava de política, e ajudava a resolver os problemas da nossa e da outra sociedade, e sempre me contava essas coisas. Já buscaram solução em todo lugar para acabar com essa violência da sociedade deles. Mas ninguém teve nenhuma ideia. Pensaram até em extingui-los, mas alguém precisa produzir o que consumimos.

Antes que Luzia dissesse qualquer coisa, as outras duas garotas que ali moravam entraram no ambiente e deram tempo para que a menina assimilasse a informação: as mulheres estariam dispostas a matar os homens se não precisassem deles.

— Bom dia. — Elas vinham abraçadas e, ao se aproximarem de Minerva, cada uma lhe deu um beijo na boca.

A menina respondeu e prosseguiu no mesmo tema, preferindo deixar quieto a informação anterior:

— E o que você acha que eu devo fazer com essa minha experiência?

Minerva a encarou:

— O que você quer fazer?

— Não sei. Não fiquei empolgada para escrever sobre isso, para pintar ou algo assim. Não depois de ontem. Só consigo ficar pensando e refletindo.

A Liberdade que LimitaWhere stories live. Discover now