Capítulo 17:

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— Oi — Wanessa disse sorrindo, ao ver Gustavo se aproximar.

— Oi. Aconteceu alguma coisa? Não sabia que sabia vir aqui.

— A Luzia me explicou. Nós estávamos fazendo uma declaração sobre os direitos dos homens.

— Há algo que eu possa ajudar? Estou em horário de serviço ainda, mas daqui uma hora e meia saio.

— Queríamos que você distribuísse a declaração para os homens e ajudasse a conscientizá-los. Ainda não estão prontos, mas queria saber se você aceita.

— É claro. Só me trazer.

— Quer dar uma lida também e dizer o que acha? Afinal, somos duas mulheres escrevendo como se fossemos homens. Sua opinião seria importante.

Gustavo franziu os lábios e olhou para trás, onde estava a fábrica.

— Agora não vai dar. Só mais tarde. Quer esperar aqui? É só uma hora e meia, depois posso ler com calma e dizer o que acho.

— Pode ser — ela sorriu mais uma vez. — Você poderia aproveitar para me mostrar a sociedade de vocês. Conheço um pouco por longe, mas nunca estive aqui de verdade.

— Certo. Vamos no meu apartamento depois, então, pra conversar melhor. Enquanto isso fique aqui e se mantenha abaixada pra ninguém te ver.

— Não se preocupe.

— Tá. Logo eu volto.

Gustavo voltou para a fábrica e deixou Wanessa sozinha por uma hora e meia com seus próprios pensamentos. A menina passou a pensar nele e no que Luzia havia lhe contado mais cedo. Gustavo sentia atração por mulheres também. Isso era interessante. Será que ela também não sentiria atração por homens? Uma ideia começava a se formar em sua cabeça...

* *

Mais tarde, Gustavo voltou com um macacão para Wanessa. A menina estranhou aquela roupa, e ao contrário de Luzia, questionou porque usá-la. O rapaz lhe explicou os motivos e a menina vestiu, mesmo sem muita certeza.

Wanessa era alta e magra, e a roupa teve certa dificuldade para se adaptar ao seu corpo. Era curta nos braços e nas pernas e dificultava um pouco sua movimentação.

Mas os dois seguiram como puderam, andando pela sociedade deles. Gustavo ainda sentia certo temor pelo último dia que voltava para casa tarde. Os ferimentos daquela noite com os amigos ainda se curavam em seu corpo. Os roxos estavam praticamente invisíveis, mas alguns cortes ainda estavam doloridos. Porém, não poderia ser assaltado de novo aquele dia. Não com Wanessa com ele. A moça não estaria preparada para lidar com aquilo. E além do mais seria muita má sorte.

Não demoraram muito e chegaram ao apartamento de Gustavo sem maiores problemas. A maioria das ruas estava deserta e eles puderam andar sem que ela precisasse se esconder ou temer ser reconhecida por alguém. Além do mais, se esconder era algo que Wanessa não estava muito a fim de fazer. Ela andava de cabeça erguida, analisando cada detalhe daquela sociedade e perguntando tudo que podia a Gustavo, que até se via perturbado com tantas dúvidas.

E no apartamento dele não foi diferente. A menina analisou cada centímetro quadrado do local e não se deu por satisfeita quando ele disse que não arrumava o forro caindo e as paredes com rachaduras porque não possuía dinheiro suficiente. Para ela, isso era extrema necessidade e ele deveria dar um jeito. Ou então, o governo deveria fazer alguma coisa. Não poderiam deixá-los vivendo em um local insalubre como aquele.

A Liberdade que LimitaOnde histórias criam vida. Descubra agora