Capítulo 11:

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Luzia entrou em seu quarto e antes de qualquer outra coisa foi ligando seu computador para pesquisar mais sobre os assexuais. Seria ela um deles? Precisava descobrir o quanto antes. Precisava entender quem era e que não estava sozinha. E a ideia de que havia outros que se sentiam como ela lhe animou.

Não demorou muito para que ela estivesse digitando no site de buscas o termo: assexuais. Aproximadamente 112.000 resultados em 0,31 segundos. Não era um número muito alto. Fez o teste e procurou por homossexuais: 6.662.000 resultados em 0,43 segundos. Gostou da brincadeira e resolveu pesquisar por heterossexuais: 1.452.000 resultados em 0,38 segundos e também por bissexuais: 970.000 em 0,65 segundos. A diferença era gritante. As demais orientações sexuais tinham muito mais informação. Mas não reclamaria. Cento e doze mil resultados bastaria para que entendesse melhor os assexuais.

Digitou mais uma vez o termo que estava procurando e dessa vez prestou atenção aos resultados mostrados na tela. O primeiro era uma definição retirada do Wikipédia: "Assexualidade é uma orientação sexual caracterizada pela indiferença à prática sexual, ou seja, o assexual é um indivíduo que não sente atração sexual por nenhum gênero."

Nada de novo. Isso já havia entendido. Mas resolveu abrir a página da web mesmo assim. Passou quase uma hora apenas na Wikipédia lendo sobre assexualidade e outros assuntos que acabou se interessando e acessando através dos hiperlinks. Inclusive, descobriu que havia uma quinta orientação sexual ainda mais desconhecida do que a sua: a pansexualidade. O termo tinha apenas 98.000 resultados em 0,35 segundos. Leu rapidamente sobre o que se tratava e após entender que eram seres que sentiam atração por qualquer sexo e gênero, sem distinção nenhuma e sem se importar com as características do outro, fechou a aba do navegador e voltou para a pesquisa que realmente lhe interessava.

Leu bastante coisa e o que mais lhe chamou a atenção foi o fato de que existiam vários assexuais diferentes, inclusive, alguns que poderiam, mesmo sem sentir atração sexual, se apaixonar e se envolver amorosamente com alguém. Ou então, alguns que poderiam sentir desejo em situações específicas e ainda os que mesmo sem se sentirem atraídos praticavam a masturbação. Era algo bastante complexo, mas quanto mais Luzia lia mais ela via que se encaixava naquilo.

Um sorriso começou a surgir em seu rosto. Não era mais tão diferente. Não estava sozinha. Pesquisas indicavam que 1% da população era assim. E a garota ficou ainda mais contente ao descobrir que a assexualidade também foi representada em grandes clássicos da literatura de centenas de anos atrás. O detetive Sherlock Holmes era um dos nomes que constava na lista como assexual. E se pensasse bem faria todo o sentido. O britânico não se envolvia com ninguém em nenhuma das suas histórias. Em um dos contos, o dr. Watson até relatava que Sherlock havia se encantado por uma criminosa de um de seus casos. Mas não era nada além de uma admiração, já que a moça foi uma das únicas que o enganou em toda a sua vida.

E esse não era o único clássico com um protagonista assexual. Os Miseráveis de Victor Hugo também tinha. Além de Jean Valjean, Javert e Enjolras também poderiam ser considerados assexuais. E não parava por aí. Na mitologia grega, também eram representados pela figura de Hipólito, filho de Teseu e Hipólita, que também sempre evitou as mulheres e permaneceu virgem.

Terminado a leitura naquela página, Luzia voltou e passou para o segundo site. Porém antes que se concentrasse mais uma vez, Minerva bateu à porta de seu quarto e entrou:

— Oi. Você está aí. Achei que tivesse saído. Não nos falamos desde ontem. Está tudo bem? — ela estava temerosa. Agora consciente e racional, Minerva entendia o que fez a amiga passar na noite passada.

A Liberdade que LimitaWhere stories live. Discover now