Capítulo 31

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Luzia não conseguia conter a agitação. Caminhava de um lado para o outro enquanto esperava Wanessa se aprontar e verificar se o vídeo estava certo. Era o dia mais importante de sua vida! Seria o tudo ou nada. E falhar não era uma opção. Falhar significava perder os amigos que tanto estimava. Os amigos verdadeiros que conquistou depois de tanto tempo sozinha.

Wanessa desceu as escadas usando um terninho azul-marinho. Ela tinha o cabelo crespo e volumoso contido em um rabo de cavalo e usava uma maquiagem simples, mas sofisticada. Estava pronta para usar sua carteirinha de trabalhadora do governo para entrar no olho do furacão e se fazer passar por uma das mulheres importantes que permitiria que os homens fossem mortos.

— Luzia, você precisa se acalmar. Vai dar tudo certo — disse a moça enquanto andavam até a porta do apartplug dela. — Tem que fingir ser mais uma, animada com o que vai acontecer. Se não nem lhe deixarão entrar.

— Tudo bem. Tudo bem. Vou tentar. — Ela respirou fundo e apertou o botão que chamava o elevador.

Luzia ficaria no meio das outras mulheres, nas arquibancadas da arena, pronta para invadir o centro do local, pegar o microfone e liderar a revolução se necessário. Para isso, a menina precisaria estar sentada bem a frente e portanto, precisavam ser uma das primeiras a chegar. Faltavam horas para que o evento começasse, mas as duas garotas preferiram pegar um táxi o quanto antes e aguardar por lá o momento certo. Assim garantiriam um bom lugar.

Entraram no estádio ainda vazio. Uma dúzia de pessoas apenas se espalhava pelas arquibancadas e no centro da arena, os últimos ajustes e equipamentos eram instalados e testados, para garantir a transmissão perfeita para as outras mulheres de fora que quisessem assistir. Wanessa desceu com Luzia até o limite das arquibancadas, ajudando-a a escolher um lugar bom para se sentar e que ficasse fácil dela pular e invadir o campo. Assim que o fez, seguiu para onde parecia ser a parte de organização do evento e passou pelos seguranças robôs sem dificuldade ao mostrar sua carteirinha de quem trabalhava no governo.

Encontrou várias outras mulheres cuidando dos últimos detalhes. Algumas conversando entre si, outras checando os últimos detalhes e anotando em planilhas. Passou por elas e cumprimentou brevemente algumas, mesmo sem conhecê-las. Seguiu para outras áreas, em busca do local onde seriam feitas as transmissões, precisaria encontrá-lo, torcer para ter na sala apenas robôs e descobrir como fazer para exibir seu vídeo. Tudo isso com antecedência, para evitar imprevistos.

Seguia pelo último corredor quando ouviu gritos e barulhos do lado oposto. Aquilo logo lhe chamou a atenção. Os gritos aumentaram e Wanessa resolveu verificar. Andou em direção ao som e percebeu ele aumentar a cada passo que dava. Também notou algumas policiais pelo caminho, mas prosseguiu sem medo.

As policiais aumentaram e ela soube enfim de onde, ou melhor: de quem eram os gritos e barulhos que escutou.

— Então esses são os seres inferiores? — disse ela às policiais que os vigiavam.

— Eles mesmos. — Elas lhe deram espaço e permitiram que se aproximasse mais e pudesse ver os amigos.

A moça deu um passo a frente e ficou cara a cara com eles, sentados no chão. A princípio os rapazes não notaram sua presença e Rick prosseguiu gritando palavras sem sentido, chacoalhando as mãos e os pés. Gean ao lado dele chorava calado. Gustavo encarava o vazio, sem falar ou sentir nada. Todos os três estavam muito sujos, o cabelo ensebado, o rosto com marcas escuras e vermelhas, as roupas rasgadas e mais magros.

Wanessa precisou engolir em seco e se concentrar para não desandar e botar tudo a perder. Vê-los não estava em seus planos, mas já que estava ali precisava ser forte. Por mais que lhe doesse e lhe machucasse ver os garotos em uma situação tão deprimente, precisava se convencer que eles ficariam bem se ela fizesse tudo certo. Só dependia dela.

A Liberdade que LimitaOnde histórias criam vida. Descubra agora