Capítulo 32

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Gustavo estava de olhos fechados, visualizando a imagem de Wanessa linda e exuberante em sua frente, exatamente como ele a havia visto mais cedo. Logo o tiro certeiro viria e acabaria com sua dor. Nada mais existiria. Nem ele, nem as lembranças que trazia na mente. Seria um nada... Um nada reconfortante, esperava ele.

Respirou fundo ao ouvir o "um!" ser pronunciado. Escutou a arma ser engatilhada e teve certeza que o último som que seus ouvidos captariam seria o do disparo. Mas não. Ele ouviu o disparo e ouviu algo caindo no chão próximo a ele.

Abriu os olhos e um arrepio lhe percorreu a espinha.

— Nãoooooooooooo! — gritou com toda força, tentando se soltar e se jogar em direção ao corpo de Luzia. — Luzia! Nãooooooo! — Forçou as algemas com toda a força, sem se importar com a dor em seus pulsos.

Encarou o buraco no peito da amiga. Um buraco pequeno, mas fatal. Seu peito estava coberto de sangue. Um círculo vermelho se formava abaixo da garota, contrastando com seus cabelos azuis. As mulheres ao seu redor estavam em estado de choque igual ou maior que Gustavo. Ninguém falava nada. As policiais não sabiam como agir. A plateia estava perplexa.

Mas o vídeo de Wanessa continuava rodando ao fundo, mesmo que ninguém prestasse atenção. Se ela tivesse sido um ou dois segundos mais rápida...

De uma hora para a outra, sem que alguém se desse conta, o silêncio deu lugar ao barulho. O centro da arena foi invadido pelas mulheres que antes ocupavam as arquibancadas. Todas gritando e exigindo justiça. Uma delas havia sido morta em público por outra mulher! Isso era inadmissível! E ainda comprovava tudo que a própria garota havia dito antes de ser morta.

Apesar de não usarem a violência, as mulheres cercaram as organizadoras do evento e as obrigaram a se retirar. Mesmo assim, permaneceram lá no centro em uma confusão, gritando umas com as outras, chorando, em choque, cada uma reagindo do seu jeito.

Gustavo não prestou muita atenção a isso. Seu olhar ainda estava em Luzia caída em sua frente. Ele não acreditava que pudesse ser verdade. A doce e inocente Luzia. A menina que acreditava que todos podiam ser livres e felizes do jeito que quisessem morta justamente por crer tanto em seus ideais.

Ele estava tão perdido em pensamentos e com tantas lágrimas lhe cegando, que não notou quando Wanessa se aproximou e lhe soltou. Ambos se olharam e não disseram nada. A dor e tristeza no rosto dela era ainda maior que no dele.

Wanessa deu a chave das algemas de Gean e Rick a Gustavo e se jogou no chão ao lado da amiga, para verificar seus sinais vitais. Agarrou o pulso da garota e soluçou alto. Não conseguiu encontrar pulso nenhum.

Respirou fundo, limpou as lágrimas e se virou para o mar de mulheres próximas ao palco. Gritou desesperada para nenhuma em específico:

— Precisamos de uma médica! Por favor, uma médica! Alguém chame uma médica.

Voltou a apertar o pulso de Luzia, procurando por algum sinal de vida. Nada. Tentou a artéria próxima ao pescoço. Também sem pulsação nenhuma. Arrancou o blazer que usava, enrolou e apertou sobre o peito da amiga, em uma vã tentativa de estancar o sangramento. Em poucos segundos o casaco estava banhado de sangue.

Gustavo se ajoelhou ao seu lado e passou a mão pelos ombros de Wanessa delicadamente.

— Não adianta, Wanessa. Ela se foi!

A moça não pode ouvir as palavras serem pronunciadas pela boca dele. Aquilo fazia tudo ser real. Possuía esperanças de despertar e descobrir que não passava de um pesadelo e que a amiga ainda estaria ao seu lado, feliz e hiperativa como sempre.

A Liberdade que LimitaOnde histórias criam vida. Descubra agora