Capítulo 1

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POV Paul

São 06:00 da manhã e vejo o dia amanhecendo pela janela. O ar puro  invade o meu quarto e ouço apenas pássaros cantando. São privilégios de quem mora no campo...a vida que escolhi desde que vim para o Brasil e comprei minha casa. Sou irlandes e sempre tive vontade de morar por aqui. Vim uma vez com o meu pai a trabalho, ainda criança e me encantei pela beleza do país. Faz 3 anos que moro aqui e tem sido ótimo para o meu bem estar.

Moro em uma fazenda dessas estilo colonial, com janelas e portas de madeira e próxima de uma cidade universitária. Trouxe um casal de amigos comigo e eles me ajudam nas funções já que sou professor universitário e acabo não passando muito tempo por aqui durante a semana. O nome do meu amigo é Jimmy. Ele é veterinário e fico tranquilo por ter meus bichos em tão boas mãos. É casado com a adorável Chloe que abandonou tudo  por um amor avassalador e hoje também me ajuda, mesmo trabalhando em um banco na cidade. Um casal jovem que se conheceram no mesmo colégio onde estudei e viraram meus melhores amigos desde então. Os vi crescer, amadurecer e enfim criar uma família...e eu faço parte dela. Aprendemos a falar português ainda na adolescência, já que morar aqui sempre esteve nos nossos planos por mais que todos achassem isso uma loucura. Algumas palavras ainda saem arranhadas, mas dá para entender.

Meus pais ainda moram na Irlanda e me visitam apenas em datas comemorativas...e não porque querem, e sim porque eles vem quando eu quero que venham. Cresci e amadureci, e me dou muito bem sozinho. Trago uma dor imensa do passado e isso me ajudou a ser exatamente assim. Papai insiste para que eu volte para casa e mamãe nem preciso dizer...mas é essa a vida que escolhi. Sou um homem bem sucedido, reconhecido e mestre. Isso basta.

Levanto e vou direto para o banho. Depois, quando volto para o quarto, vejo a pilha de provas que tenho para corrigir e lançar as notas ainda hoje. Isso ocupará meu tempo e eu não terei um minuto disponível para cuidar dos meus animais e muito menos cultivar algum alimento novo. Isso é o meu hobby...a vida no campo. 

Me visto e vou até a cozinha. Chloe ainda não veio para cá. Eles moram em uma casa ao lado da minha. Um pouco menor, mas bem confortável. Eu já deixei bem claro que não precisa de correria e nem horário...pode vir a hora que der...como sou sozinho, não exijo muitos cuidados. Mas ela é uma perfeccionista de carteirinha e aposto que vai ficar bem louca quando me ver acordado tão cedo e já mexendo nas coisas que praticamente são dela, já que não uso quase nada daqui quando estou definitivamente sozinho. Mesmo tendo um dia agitado, ela tenta ao máximo me incluir na rotina diária deles. Então se preocupa com refeições e com quem cuida de nossas casas. 

Coloco uma cápsula na cafeteira e vou abrindo as janelas. Pego algumas coisas na geladeira e logo estou tomando meu café. Ouço uma chave destrancando a porta e já vou dando bom dia:

- Paul! Tão cedo acordado? Eu acabei de fazer um café fresco para nós e você  prefere beber essa água suja que você chama de café? kkkkkkkkk!

Chloe tem um bom humor invejável. Ela acorda e dorme assim. Acho ótimo, já que me ajuda em dias ruins.

- Pois é, a cafeteira roubou o seu serviço hoje. Dormiu bem?

- Dormi sim Paul e você? Ontem sentimos sua falta na quermesse. Mas como você preferiu descansar...

Meus amigos amam a cultura daqui. Ficam admirados com a diversidade de coisas e criatividade que existem nessas festas comemorativas. Já eu... bom, só saio de casa quando necessário e ontem não era o dia que eu queria sair. Então ela continua:

- Havia muitos jovens lá ontem. Aposto que a maioria deles são seus alunos na faculdade.

- Então foi bom eu não ter ido. Eles não podem ver um professor a paisana que ficam que nem aquelas criancinhas querendo chamar atenção, só faltam chamar de "tio".

- kkkkkkkkkkkk! Realmente, tem razão...tem jovem de todos os jeitos hoje por aqui. Mas você ia gostar Paul...teve música boa, comidinhas frescas e até bingo! Pena que não ganhei nada! 

Ela se senta e continuamos nossa conversa. Vejo Jimmy pela janela já cuidando dos animais. Adoraria estar lá já que temos um potro que nasceu a poucos dias e já corre com toda a liberdade pelo campo. Mas o dever me chama.

Sou mestre em economia e dou aula no curso... mas  recentemente fui convidado a dar uma matéria para o curso de Design de Moda. Fui de tanta insistência dos meus amigos professores e mestres. Ou seja, tenho alunos, matérias e notas de sobra pelo resto do ano.

Chloe continua me contando sobre a festa e logo se despede, já que hoje precisa ir mais cedo para a cidade...tem médico e sempre atrasa...depois vai para mais um dia de trabalho. Aceno para Jimmy e assim que termino meu café, vou para o quarto e pego as provas. Sento no escritório e começo a corrigir tudo.

A manhã passa rápido e esquento algo da geladeira para o almoço. Hoje tenho aulas apenas a noite. E assim passo o dia, escondido atrás de papéis. 

Ao cair da tarde, tomo um banho em arrumo. Fecho a casa e pego minhas coisas. Quando saio, vejo Jimmy e ele até estranha:

- Nossa Paul, não sabia que estava em casa. Ficou tudo tão quieto durante o dia que achei que estava na faculdade. Seu carro está sempre guardado na garagem  fechada, Chloe não avisou nada...então jamais desconfiei que estivesse aí! Está tudo bem? 

- Estou bem... Trabalhei o dia todo hoje, mas aqui em casa. Estou indo, qualquer coisa pode me ligar. Está tudo bem com os animais?

- Sim, tudo nos conformes, vamos precisar comprar mais rações amanhã. 

- Ok,  ligue amanhã para o fornecedor ou vá até a loja e providencie isso. Compre o que for necessário.

Jimmy é responsável e faz tudo por aqui. Penso em contratar mais um empregado, já que a fazenda é grande e exige muitos cuidados. Mas ele sempre diz que dá conta do recado. Como já disse, não tenho tempo e quero sempre tudo impecável. 

Nos despedimos  e ele me deseja sorte. Vou até o carro onde ajeito todos os papéis que carrego e dou uma buzinada assim que saio. Passo pela porteira e a fecho. Logo estou na estrada de terra, rumo a cidade. 

Por aqui há muitas repúblicas e inclusive, uma que é próxima de casa. Os rapazes fazem festa assim como trocam de roupas...há pessoas o tempo todo e hoje não seria diferente. Eles estão no portão esperando um deles para ir a aula e brincam comigo:

- Ei professor, dá uma carona aí! Nessa lerdeza da galera, vou chegar lá depois da sua aula! 

O carro vem ao encontro dele e buzino. Chego na cidade e logo estou na universidade. Vou retirando minha bolsa e alguns materiais do carro e vejo os alunos chegando. Não tenho hábito de ser simpático, mas sempre sou educado. Cumprimento aqueles que me acenam. Tenho excelentes alunos nas turmas... alguns exibidos demais e outros que se acham meus amigos. E é aí que corto qualquer tipo de vínculo. Não gosto de me expor e sei que a vida deles é uma bagunça sempre. Sou cordial, dou auxílio no que é preciso e só. 

Respiro fundo e caminho para dentro da universidade. E lá vamos nós para mais uma noite de aulas.



Meu ProfessorWhere stories live. Discover now