1°- CAPÍTULO ✝

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Já estava perto das onze horas da noite quando eu me mantinha parada do lado de fora do grande cinema central de Hollow Grow. Ele estava prestes a fechar e, mesmo assim, Eve insistia em demorar dentro do estabelecimento. Estou vendo a hora dos funcionários a expulsarem de lá.

Suspiro pela milésima vez, batendo freneticamente minha bota contra o chão, criando um pequeno barulho toda vez que o bico da bota entrava em contato com o chão cimentado.

– Sinceramente – Resmungo sem humor para mim mesma. – Eu deveria te largar aqui sozinha.

Encolho meu corpo quando sinto o vento gelado da noite, passar por mim como um rápido e apressado viajante. Involuntariamente, acabo abraçando meu próprio corpo, enquanto meus olhos varrem toda extensão da rua deserta. Hollow Grow realmente é uma cidade chata, praticamente tudo se fecha perto da meia noite, assim, como, os transportes que se estendem pouco mais de meia hora do toque de recolher. Transportes que por sinal, vamos perder se Eve não se apressar.

Vasculho o bolso do meu sobretudo a procura do meu celular. E uma vez com o aparelho em mãos, checo o visor: onze horas. Nós temos uma hora e meia até a passagem do último trem, ou acabaremos dormindo em um banco de praça qualquer.

Escuto o barulho de passos vindos de trás de mim, do meu lado esquerdo, e já preparo minha língua afiada para descarregar boas reclamações em Eve.

– Até que enfim! – Falo de forma alta, antes de me virar em direção ao barulho. – Achei que tivesse morrido na porcaria do banheiro. – Lentamente, me viro com a minha melhor carranca séria, apenas para encontra o vazio.

Não havia ninguém ali, nem sequer o sinal de uma mísera alma. Só o vento gelado e eu.

– Eu jurava que havia escutado. – Sinto meu cenho se franzir, em total confusão. – Devo estar ficando louca.

Isso foi muito estranho.

Fico os próximos segundos, em silencio, escutando o barulho do vento. Dou alguns passos em direção ao cinema, mas a única coisa que vejo através da enorme porta de vidro, são funcionários transitando de um lado para o outro, enquanto guardam algumas coisas para o fechamento do lugar. Permaneço tanto tempo encarando a porta e vidro, que acabo me assustando quando escuto finas risadas vindo do lado de fora. E em um sobressalto, volto a me virar para rua, encontrando-a ainda deserta; lojas fechadas, os tijolos cinzas no chão e um pequeno banco de madeira acoplado à frente de uma enorme fonte no centro da rua.

Sem saber o motivo, sinto um estranho arrepio correr por minha espinha, me fazendo encolher no lugar, ainda mais. Aquela rua que até hora não parecia nada, passou a me incomodar e, de certa forma, a me causar alguma tensão. Mas me sinto aliviada quando vejo um cachorro de porte médio surgir entre os tijolos cinzas. Ele parece tranquilo e caminha de forma lenta pela rua, parando exatamente em frente ao velho banco de madeira. O cachorro fica o observando por alguns segundos até começar a latir freneticamente, e os seus latidos se tornavam altos e ferozes, como se estivesse incomodado com algo.

Dou alguns passos para frente e cruzo os braços, forçando minha vista na tentativa de enxergar algo entre o escuro vão do banco.

Dou outro passo para frente e forço ainda mais os meus olhos, mas nada.

Mais um passo. Mais um latido alto. Nada.

Outro passo. Mais alguns latidos. Apenas a escuridão do banco.

Paro de andar quando vejo o cachorro cessar seus latidos e correr para longe do banco. Ele se mantém imóvel, mas ainda sim seu olhar é voltado para o mesmo objeto.

– Oi, amiguinho. Qual o problema? – Falo com o animal, enquanto me aproximo dele.

O cachorro me encara por um instante e emana um som similar a um choro, antes de sair correndo de onde estávamos. Fico estática em meu lugar, não entendendo o que aconteceu.

SETEALÉM || H.SOnde as histórias ganham vida. Descobre agora