29°- CAPÍTULO ✝

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Uma semana se passou. Uma semana que eu continuo vindo no mesmo lugar e fazendo as mesmas coisas, e eu até poderia estar cansada disso, mas não quando Harry está comigo. E de novo ele estava agachado na beira do pequeno lago, observando como se fosse a mais bela cena, o corpo sem vida afundar na água clara. Como sempre, enchemos todo o interior do corpo com pedras para que nosso segredo ficasse muito bem escondido no fundo do lago, assim, como, todos os outros que lhe fariam campainha, já o esperando para dar boas-vindas.

Esse lago de água clara e brilhante, o mesmo lugar onde Harry me encontrou quando eu fugi de Sophie. Era agora, o lugar onde eu me entrego aos seus maus hábitos, o ajudando em sua brincadeira pecadora, arrancando a vida daqueles que são semelhantes a mim. Mas, se esse era o meu passaporte para longe de Setealém, eu pagaria o preço.

– Acho que foi o último. – Digo do lado de Harry, também agachada na beira do lago.

– Sim, foi o último. – Ele me olha através de seus olhos verdes-esbranquiçados. – Vamos embora.

Assinto, sabendo que essa era uma parte importante para ele: ser rápido para nunca ser pego.

Harry se levanta, e com a mão suja de sangue, ele estende em minha direção para que eu faça o mesmo. Aceito de bom grado sua ajuda, entrelaçando nossos dedos quentes pela vida de outra pessoa, antes de seguirmos para fora da floresta.

Talvez, isso me aproxime dela. Era o que ela fazia com ele.

Sorrio seco com meu próprio pensamento, e isso faz com que Harry me olhe de canto de olho.

Mas eu nunca vou ser ela. Essa aqui sou eu.

Calmamente, caminhos até à casa de Harry, um lugar que passei a frequentar bastante na última semana e, por isso, não foi nenhuma surpresa para Ada me ver com seu filho. Ela nem ao menos se importou com nossa sujeira de sangue, já estava acostumada.

Com um sorriso gentil, ela nos avisou que estava de saída, se encontraria com o pai de Harry e os dois iriam até o mundo humano resolver algumas pendências.

– Por que sua mãe vai tanto no meu mundo? – Pergunto assim que entramos na cozinha.

Me recosto contra a pia de alumínio, e encaro Harry que estava próximo a mesa de madeira, limpando as mãos em um velho pano de prato.

– Alguns moradores de Setealém gostam do seu mundo, eles se divertem com os humanos. – Harry sorri de lado, e sei o tipo de diversão que ele se refere, o mesmo que fizemos perto do lago. – Muita gente de Setealém mora no mundo humano e vocês, provavelmente, nunca saberão. – Ele volta a jogar o pano de prato na mesa, mas agora, sujo de sangue.

Suas mãos ainda tinham uma coloração avermelhada, mas era mais fraca do que as que estavam pintando minhas mãos. Sem uma resposta minha, Harry caminha até onde estou, e eu passo meus braços ao redor do seu pescoço, mas sem encostar minhas mãos sujas na pele. Ele inclina seu corpo e encosta seus lábios nos meus, sem a intenção de começar um beijo mais profundo.

– Você pode me emprestar uma camiseta? Acho que a minha já era. – Pergunto, assim que nossos lábios se separam.

Ele olha brevemente para o meu tronco, observando o vermelho que manchou a blusa amarela que eu vestia. Com um rápido aceno de cabeça, Harry se afasta de mim, virando-se para sair da cozinha. Solto um suspiro, apoiando minhas mãos nas bordas da pia de alumínio. Jogo minha cabeça para trás e encaro o teto manchado de verde, contando cada uma das manchas, enquanto espero por Harry.

Tudo tem sido tão louco nessa semana. Depois de encontrar Niall morto, tive uma longa conversa com Valerie, mas ela não parecia arrependida, e sim, destinada a arrancar de nossos caminhos todos que ela julgasse como uma ameaça. Nós brigamos por isso, com certeza, brigamos. Niall estava assustado, ela não deveria ter o matado, mas fez mesmo assim. Nossa briga durou menos de dois dias, não poderíamos iniciar um conflito quando faltava tão pouco para a despedida de Setealém.

SETEALÉM || H.SOnde as histórias ganham vida. Descobre agora