16°- CAPÍTULO ✝

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Depois de tudo que me aconteceu na noite passada, eu mal pude dormir; fechar os meus olhos se tornou uma tarefa quase impossível. Não quando eu sabia que o corpo morto da Angeline, estava em um quarto próximo, enquanto sua "alma" vinha me assolar. Não quando eu descobri que tomaria para mim, um pedaço de cada pessoa que eu matasse. Não quando minha outra metade de um mundo cruel e paralelo, estava tomando conta de meu corpo.

Eu já estava devidamente arrumada para passar mais um dia na escola da qual sou obrigada a frequentar, mesmo que eu nem tenha mais idade para isso. E julgando pelo estado mórbido e cansado que eu me encontrava nesse momento, facilmente poderia me passar por qualquer morador de Setealém.

Valerie e Niall passaram aqui como de costume. Pouco foi falado durante todo o caminho, mas acho que nada fora do comum para eles, já que vivemos um dia após o outro dentro do próprio limbo dos nossos medos. Talvez, Valerie fosse a única capaz de captar alguma coisa, já que se mantém a mais tempo dentro deste universo e, com certeza, passou por muitas coisas que lhe permitem aperceber algo estranho no ar.

Bastou que colocássemos nossos pés para dentro da velha construção entorpecida de pessoas de pele pálida e olhos esbranquiçados, para que o anuncio de que deveríamos ir para as salas de aula, fosse ressoado por cada um de nós. Impossível não lembrar do que foi me relevado na última vez em que estivesse dentro de uma dessas salas. Eu já estou engolindo cada gota de escuridão que rodeia este mundo, não acho que me lançar ao "ensinamento" do que pode me acontecer em Setealém, ajude de alguma forma. Eu preciso escapar disso, nem que fosse por um único momento.

– Alguém sabe onde tem um banheiro? – Pergunto, assim que vejo Mark se afastar de nós.

– Eu não sei. – Eve responde em um dar de ombros. E Niall apenas observa o fluxo e pessoas entrando na sala do nosso lado.

– Acho que tem um seguinte reto e virando à direita. – Valerie responde, e dou um aceno de cabeça antes de me virar de costas e começar a me afastar.

A verdade era que eu não queria usar o banheiro, só precisava me manter longe dessas salas de aulas e dos professores que poderiam me mostrar o que eu não gostaria de saber.

Faço todo o caminho que Valerie indicou, mas sem me dar ao trabalho de procurar por um banheiro, apenas seguindo minhas pernas, deixando para trás todo o fluxo de pessoas. Apenas deixando para trás.

– Mae.

Olho sobre meus ombros, vendo Valerie me alcançando.

– O que veio fazer aqui? – Pergunto, e ela se aproxima em poucos passos.

– Vim te perguntar exatamente a mesma coisa. – Ela cruza seus braços abaixo dos seios, me fitando seriamente.

– Eu disse que precisava usar o banheiro. – Tento soar convincente.

– E eu percebi que você estava mais calada do que de costume. Até posso sentir a sua aura um pouco mais carregada. Aconteceu alguma coisa? – Os seus olhos castanhos, correm por cada centímetro do meu rosto, querendo desvendar o mistério por trás da minha feição cansada.

Solto um longo suspiro com muito pesar.

– Eu não quero conversar agora. É só esse lugar que me deixa abatida. – Sou parcialmente sincera, já que esse, de fato, era um dos motivos de todo o meu sofrimento interno.

– Tudo bem. – Ela também suspira, desviando seu olhar do meu e fitando ao seu redor, parecendo buscar pelas palavras certar para continuar. – Hoje eu vou começar a minha parte.

Valerie não precisa dizer muito mais para que eu entenda que ela está se referindo ao fato de ter que matar seus "pais".

– Eu sempre quis sair daqui. Sempre estou tomando a frente de tudo. E até mesmo, dei a ideia desse plano, mas agora... agora que tenho que fazer com minhas próprias mãos, isso meio que me assusta um pouco. – Valerie solta outro suspiro.

SETEALÉM || H.SOnde as histórias ganham vida. Descobre agora