20°- CAPÍTULO ✝

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Uma noite e uma tarde já haviam se passado, e sei disso porque Sophie faz questão de contar cada segundo que nos manteve presas dentro desse galpão.

O suor cobria todo meu corpo, principalmente, na região da minha testa junto do sangue seco que se impregnava em toda minha pele, criando uma sensação de uma pequena crosta. Eu também podia sentir algum sangue escorrendo do meu nariz e ponta dos dedos das mãos, onde Sophie fez questão de apertar com um pequeno alicate enferrujado. Os meus cabelos estavam soltos e banhados por uma mistura de alguns de meus fluidos corporais expelidos durante uma nova sessão de tortura nesta manhã. Os fios loiros grudavam em torno do meu rosto, pescoço e costas. Os meus olhos pesavam, trazendo a avassaladora sensação de cansaço. Minha cabeça pendia para baixo, junto com as minhas mãos atadas por correntes. Os pelos do meu corpo, estavam arrepiados, e meus joelhos ardiam sobre o chão de madeira e pouco feno que parecia se tornar mais áspero a cada minuto que passava. Minha respiração era curta e um pouco pesada, eu sentia meus pulmões queimarem toda vez que o ar era puxado com dificuldade para dentro. E como se isso não fosse o pior de tudo, o cheiro que os três corpos mortos soltavam, era completamente horrível, às vezes, embrulhando meu estômago enquanto o podre da morte invadia os meus pulmões.

Sophie manteve os corpos mortos atrás de nós, para que pudéssemos sentir o cheiro da putrefação que começava aos poucos. Eu não pensei muito em minha decisão quando Sophie nos ameaçou, apenas embarquei na minha própria tortura particular, mas o que eu poderia fazer? Eu sei o quão louca essa garota pode ser, e Zayn tem alguns motivos fúteis para não gostar de mim também. Eu acabei caminhando por onde não deveria, dentro de um grande ninho de cobras, e elas me cercaram, prontas para dar o bote. Não havia chance para mim. Todos que estão do lado de fora, se mantêm aterrorizados com esse mundo, e não é nada certo que paguem pelos meus erros. Mas, talvez, se eu tivesse resistido, penso se poderia ter encontrado outra saída. De qualquer forma, agora está um pouco tarde para isso. Valerie e eu já estávamos presas até o pescoço dentro desse grande ninho, esperando que os predadores esmaguem nossos ossos até que virem pó. E eu sou a única responsável por isso.

– Há tempos não me sinto tão bem assim. – Sophie diz, sentada sobre um pequeno monte de feno, enquanto segura o alicate.

Ela balançava o objeto enferrujado de um lado para o outro, acompanhando os motivos das suas pernas. Suas mãos estavam tingidas de vermelho, o meu vermelho e o de Valerie.

– Às vezes, me deparo com alguns humanos que tenho que limpar do meu caminho, mas eram coisas tão vazias. Eu só recolhia o lixo de volta para o seu lugar. Mas fazer isso com vocês e, principalmente, com você, Mae. – Ela aponta o alicate em minha direção, com um grande sorriso que apertava até o canto dos seus olhos. – É prazeroso demais.

Seu cabeça tomba levemente para o lado e seus olhos varrem cada parte do meu corpo miserável.

– Não sei se vocês já tiveram esse tipo de sensação antes, mas é como ter o mundo nas mãos. Eu tenho vocês duas e toda sua existência se resume as minhas decisões. Eu posso ser um Deus se quiser.

Sua cabeça que estava tombada para o lado, inclina-se para trás, seguida de uma alta gargalhada que arrancava até mesmo algumas lágrimas de Sophie.

– Isso é mágico. Todos os humanos imundos estão nas minhas mãos, e eu posso acabar com a raça de vocês com um pouco de divertimento.

Sophie seca o canto dos olhos, e coloca o alicate enferrujado de lado, cruzando as pernas e mãos, apoiando seu rosto sobre elas.

– Mas me conte, Mae, o que fez você para acabar aqui? Depois de uma divertida tarde, acho que podemos ter uma boa conversa.

Sophie mantém o sorriso, olhando de mim para Valerie. E nem preciso procurar por minha amiga para saber que ela estava em um estado parecido com o meu, vê-la assim agora só me deixaria pior.

SETEALÉM || H.SOnde as histórias ganham vida. Descobre agora