24°- CAPÍTULO ✝

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Já estou por longos minutos, sentada sobre essa cadeira velha e gasta, apenas encarando através do vidro sujo e trincado da janela da cozinha, admirando o vermelho do céu do lado de fora desse novo dia.

Minhas mãos se mantêm fechadas ao redor da xícara vazia que estava sobre a mesa lascada, meus olhos desviam da janela e caem sobre ela, encarando-a; resto do líquido denso e escuro na xícara de porcelana manchada.

Um longo gole de sangue para um dia sangrento.

Quando acordei nesta manhã, me senti muito melhor. Mark não estava mais em casa, e eu sabia o motivo. Eve acabou por sair mais cedo também, parecendo ainda estar chateada com tudo que aconteceu noite passada. Talvez, eu lide com ela depois, mas não agora. Eu tenho algo mais importante para fazer.

Retiro minhas mãos da xícara manchada e as passo por meu uniforme escolar, ajeitando as roupas rasgadas em meu corpo. Depois me levanto da cadeira, e começo a caminhar para fora da cozinha, seguindo para a porta de entrada e, enfim, deixando minha casa.

Depois, do lado de fora, respiro o ar gélido e começo a contar cada passo que dou até chegar no meu destino, observando atentamente todas as batidas do meu sapato contra o solo rachado e sem vida de Setealém.

***

Quinze mil e três passos foram o suficiente para me levar até à escola, onde acabei por encontrar Mark parada na calçada da frente, segurando o grande saco de linho marrom que guardava muito bem tudo que usaríamos hoje. Brevemente, ele me informa que Valerie está me esperando do lado de dentro da velha construção, e sem demora, começo a caminhar para dentro da escola, sendo recebida por corredores quase vazios. E, por isso, não foi difícil encontrar Valerie, que estava parada perto de uma das salas de aula.

– Aconteceu alguma coisa? Sua irmã não parecia muito feliz quando chegou. – Vale cruza os braços e aperta os olhos, esperando por minha resposta.

Solto um curto suspiro.

– Não se preocupe. É apenas o de sempre. – Respondo, cansada dessa situação com Eve.

Ela assente.

– Certo. Melhor irmos agora. Já deixei Niall tomando conta da sua irmã. – Vale informa, e se vira, fazendo um gesto para que a siga para fora da escola, outra vez.

Sigo os movimentos de Valerie, dando uma última olhada ao nosso redor para me certificar de que iriamos ser discretas. E a pessoa que encontro parada no final aposto, me chama atenção por um momento.

– Você pode ir na frente. – Digo para Vale, que me olha sobre os ombros.

– Por quê? – Ela franze o cenho.

– Eu já estou indo. – Respondo e me viro de costas para ela, caminhando até à pessoa no final do corredor.

O homem alto e de cabelos brancos, logo nota minha presença, abrindo um grande sorriso assim que me vê.

– Mae. – Ele saúda animado. – Por que está faltado nas minhas aulas? Eu deveria me preocupar com isso? – O professor cruza os braços, mantendo seu sorriso em minha direção.

– Estive resolvendo alguns assuntos familiares. Eu sou uma humana, não é fácil me adaptar aos pais de Setealém. – Dou de ombros.

Ele acena positivamente.

– E em que posso ajudá-la agora?

– Gostaria de fazer uma pergunta. – Sou direta, o vendo arquear as sobrancelhas.

– Pois então, faça. Meu trabalho é tirar todas as suas dúvidas.

– É possível que a versão humana e a de Setealém se misturem? – Solto uma das perguntas que vêm rondando minha mente desde que acordei, logo após meus dias trancada no galpão.

SETEALÉM || H.SOnde as histórias ganham vida. Descobre agora