17°- CAPÍTULO ✝

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Fico alguns segundos o encarando, aproveitando do fato de que Harry não havia notado minha presença ainda, o que dura poucos segundos, apenas o suficiente para que todo líquido vermelho de sua mão fosse transferido para sua camiseta, agora, manchada.

Seus olhos em tom de verde-escuro, encontram os meus, sustentando um olhar apático e sem qualquer vestígio de surpresa. Ele retira o cigarro de cor preta da sua boca, soltando lentamente a fumaça por entre seus lábios, enquanto espera que eu diga alguma coisa.

Eu não sei por que estou aqui e nem que lugar é este, só segui Angeline e meu corpo que me controlaram e me puxaram até onde estou agora.

– Que lugar é esse? – Pergunto a primeira coisa que percorre minha mente, ainda me mantendo distante de Harry.

Ele traga seu cigarro outra vez, sem presa de responder a minha pergunta.

– Você não sabe? Então, como veio aqui? – Ele arqueia as duas sobrancelhas, e depois dá mais uma longa tragada no cigarro, antes de jogá-lo sobre o chão de terra batido e grama do seu lado.

Comprimo os lábios em uma linha fina, e aperto o taco de alumínio contra meus dedos. O que eu deveria lhe responder? Eu não posso contar a verdade.

– Não sei. – Desvio o olhar para o lado, olhando o matagal vazio.

Escuto-o se mexer, e quando retorno meu olhar para Harry, vejo que ele se levanta, saindo de perto do galpão velho para vir em minha direção. Ele leva suas mãos para dentro das calças pretas, e caminha sem pressa.

– Você se machucou? – Lanço outra pergunta quando o vejo parar na minha frente.

– Esse sangue não é meu. – Ele aperta os olhos, não os desviando. E mesmo na noite escura, eu posso ver um quase imperceptível sorriso pintar seus lábios.

Sem aviso prévio, sinto meu coração se acelerar por um momento ao pensar no dono do sangue manchado na camiseta branca e todo o caminho que ele fez até chegar nas mãos do garoto parado na minha frente.

– Por que você está aqui?

Antes de responder, Harry passa sua mão direita - que ainda continha alguns vestígios de sangue - pelos fios de seu cabelo, suavemente.

– Por que você está aqui? – Ele tomba sua cabeça para o lado.

Outra vez, comprimo os lábios em uma linha fina, tentando encontrar uma resposta convincente para lhe dar.

– Você não respondeu a minha pergunta, então, não preciso responder a sua. – Mexo de forma discreta meu pé esquerdo sobre a terra seca, sentindo algumas pedrinhas contra o solado do meu sapato.

– Você não precisa saber o que eu vim fazer aqui. Achei que queria ficar o mais longe possível de mim. – Seu sorriso que antes era quase imperceptível, agora era totalmente visível. Ele queria me mostrar isso, mostrar todo o seu sarcasmo.

Ele está certo, eu quero mais do que tudo me manter longe dele, mas isso não significa que eu consiga. Em um momento, estou gritando e negando o que fizemos, dizendo que deve ser esquecido e que não pode se repetir, mas, no momento seguinte, estou buscando por ele desesperadamente. Isso é uma droga. Literalmente uma droga, quando ele se parece com a pessoa que mais amei. Uma destrutiva droga, quando eu tento buscar nele qualquer vestígio do meu ex-namorado, na tentativa desesperada de ainda tê-lo para mim, mesmo sabendo que ele já se foi há muito tempo.

Eu me sinto mal, me sinto completamente mal por estar fazendo tudo isso para trazer meu ex-namorado de volta e, mesmo assim, ainda me envolvo com o garoto parado na minha frente. É como trair todo amor que eu construí com o meu Harry, trair tudo que vivemos com alguém que apenas se parece com ele fisicamente.

SETEALÉM || H.SOnde as histórias ganham vida. Descobre agora