30°- CAPÍTULO ✝

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O vento já havia ido embora e o silêncio sondava vagarosamente tudo ao meu redor. A pedra da qual eu estava sentada, às vezes, era incomoda, mas eu me manteria aqui por algum tempo. As pequenas folhas alaranjadas pareciam dormir nos inúmeros galhos que pintavam a fachada das árvores que rodeavam Setealém. Meus olhos estavam fascinados, grudados na pequena paisagem parada.

– É amanhã. – Com a voz tranquila, Valerie diz do meu lado.

Meus olhos acompanham suas palavras, e a espio com sutileza. O longo vestido escuro que ela usava, tinha sua barra deitada em cima da grande pedra, enquanto suas mãos abraçavam seus joelhos dobrados. Seu olhar era calmo e todo seu rosto parecia tranquilo sobre o que viria no dia seguinte.

– Sim.

– Você está certa sobre fazer isso mesmo? – Os olhos castanhos claros de Valerie, me observam com atenção. Sua feição continua calma e sua pele extremamente pálida parecia ser beijada pelo fraco sol desse fim de tarde.

– Eu não deveria estar? – Pergunto, e Valerie desvia seu olhar, voltando a encarar as folhas alaranjadas na nossa frente.

Percebo que, quieto em seu canto, com os olhos curiosos, Mark nos fitava através das íris esbranquiçadas. Seu pequeno corpo estava sentado do lado de Valerie, que se manteve ao nosso meio, e suas pequenas mãos também estavam ao redor dos seus joelhos, com seus cabelos claros caindo sobre sua testa.

– Só estou perguntado porque sei que você e Harry se tornaram muito próximos nos últimos dias.

Meus olhos se apertam, enquanto observo com atenção o rosto de Valerie.

– A ideia de se aproximar dele foi sua. – Respondo, decidida sobre o que eu faria no dia seguinte. Não há voltas, essa era a minha escolha.

– Eu sei, mas... – Seus lábios finos se fecham em uma linha reta, firmemente, quanto ela interrompe a própria fala e fica em silêncio.

– Mas o que, Valerie?

– Nada. Só vamos fazer isso amanhã. – Ela solta um curto suspiro alto, e eu apenas assinto, concordando que isso precisava ser feito amanhã.

Nada dentro de mim, mudou durante esse tempo, a minha escolha desde o começo sempre foi ir embora de Setealém. Nós montamos um plano e precisamos segui-lo até o fim, tudo já estava pronto desde o começo.

– E você, Mark, também está certo da sua escolha? Quer mesmo fazer isso? – Aproveitando este momento de nossa conversa, tento arrancar do meu irmão toda a sua vontade de ir até o fim com suas escolhas. Não podemos continuar com hesitações, todos aqui devem estar seguros disso.

Sem uma palavra, o pequeno garoto de cabelos claros, assente, parecendo decidido e, talvez, ele seja o único que nunca hesitou.

– Você não sentirá falta de Setealém? – Valerie pergunta ao garoto sentado do seu lado. – Nunca demonstrou sentir falta dos seus pais, mas está sempre perto da Mae. Até onde eu percebi, mesmo sendo desse mundo, seus pais se preocupavam com vocês.

Mark parece refletir um pouco nas palavras de Valerie, buscando dentro de si mesmo uma resposta.

– Eu acho que eles foram bons pais, mas estão mortos, eu não posso mudar isso. – Com a voz calma, ele começa a nos responder. – Eve se parecia um pouco com o meu pai, nós tínhamos uma relação normal, acho que ela nunca se importou muito. – Mark encolhe os ombros, ficando ainda mais pequeno. – E tinha a Mae, ela sempre fazia o que queria, não se importava em levar uma bronca depois, tudo perto dela era mais divertido, por isso, eu sempre gostei de estar perto dela.

SETEALÉM || H.SOnde as histórias ganham vida. Descobre agora