Breve contato no jardim florido

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Tive uma certa dificuldade em abrir meus olhos naquela manhã, mas me esforcei em levantar bem cedo. Espreguicei-me sobre a grande cama, olhando para o teto de cor branca. Então, me ergui rapidamente e sentei-me, procurando minhas chinelas. Ao levantar a cabeça, observei rapidamente a mobília daquele quarto. Provavelmente quem o mobiliou foi meu pai, pois era a minha cara. De frente para minha cama estava uma escrivaninha comprida com gavetas e espaços nas laterais contendo algumas bugigangas. Sobre ela um computador, uma luminária e um vasinho de flores muito fofo. Na parede ,alguns painéis onde eu poderia pendurar o que quisesse, com quadros de paisagem e no canto, uma poltrona com almofadas coloridas. A janela bem grande coberta por uma cortina clara ficava do lado esquerdo e o guarda-roupa embutido do lado direito, perto da porta de saída. A porta do banheiro ficava próxima. Resolvi me levantar e ir até lá, me vendo um pouco no espelho. A gente nunca está bem depois que acorda, mas nem liguei muito. Escovei os dentes, lavei o rosto e me vi pronta para minha empreitada. Iria aproveitar que todos dormiam para observar as coisas. Saí do meu quarto e caminhei pelo corredor, olhando o carpete marrom colocado com capricho. Desci as escadas, observando os quadros pendurados na parede e eram muito bonitos. Senti uma invejinha desses artistas... Aquele era um dom maravilhoso...

Fui até a sala de estar e por ali, perto dos sofás de um marrom escuro, encontrei uma estante com algumas fotografias. Tinha algumas fotos dos meus avós, do meu pai com sua mais nova esposa (nojo!) e para minha surpresa, uma foto minha. Sim, uma foto da minha pessoa com uns 4 anos de idade, sorrindo alegremente para o meu pai, enquanto ele também ria, me olhando. Que boa lembrança... Confesso que fiquei bem emocionada ao vê. Mas então, deixei aquele lugar e me dirigi até a varanda, olhando para aquele imenso jardim florido, com algumas árvores de porte médio. Decidi descer os degraus e caminhar por aquele lugar. Como era lindo! A luz do sol estava bem fraca, ainda nascendo  e a névoa começava a se dissipar devagar. Inúmeras flores de espécies diversas, de vários cores, formatos e tamanhos diferentes. Eu caminhei por entre elas como se estivesse em um conto de fadas, tocando cada uma que estivesse ao alcance das minhas mãos. Quando de repente, meu corpo travou quando avistei Vinícius sentado em um tronco caído, me olhando muito sério. Que susto! Eu fiquei tão distraída que nem o percebi.

- Ah! Oi, Vinícius! - o saudei meio sem graça.

- Oi! - me respondeu secamente, voltando sua atenção para uma pequena flor que estava na sua mão. 

Então, comecei a caminhar para mais próximo dele, fingindo interesse nas plantinhas. Aquela era uma boa oportunidade para me aproximar do "irmãozinho"... 

- Aqui é bem bonito, não é mesmo?

Ele manteve-se quieto, ainda fixado na flor. Não desisti.

- Você costuma vim sempre pra cá?

Se você ouviu algo, me diz, porque eu não ouvi nada. Talvez era surdo. Vai saber! Do nada, uma rajada de vento me acertou, fazendo eu abraçar-me por conta do frio. Infelizmente eu vestia somente uma blusa de algodão e um short muito curto do mesmo material, conhecido como o famoso conjunto baby doll. Para minha surpresa, ele se levantou, vindo em minha direção, abrindo o zíper do seu moletom, tirando-o e pondo-o sobre meus ombros, me deixando quase sem reação. 

- É melhor entrarmos. Ainda está muito frio.

- Sim, claro! - confirmei no impulso, o seguindo depressa por entre as plantas. Fomos calados até a casa, vendo o sol raiar um pouco mais. Naquela varanda, pude perceber meu pai com a expressão de preocupação a nos olhar. Quando nos aproximamos, Vinícius passou por ele sem responder-lhe a pergunta. Vendo que não houve resposta, ele tornou-se pra mim:

- O que houve?

- Nada! Fui caminhar e acabei me encontrando com ele. Por que tanta preocupação?

Ele tocou meus braços, como querendo comprovar se eu estava inteira:

- Fui no seu quarto e não a encontrei. Desci e não te vi em lugar nenhum. Fiquei com medo.

- Não precisa esse alarme todo. Só fui caminhar.

Ricardo me olhou mais um pouco, franzindo as sobrancelhas: - Tudo bem, mas e o Vinícius? 

Ergui os ombros, fazendo cara de desentendida:

- Encontrei ele no meio da minha caminhada. Fiquei com frio e ele me deu seu moletom para me cobrir.

Pareceu surpreso:

- O quê? Nunca vi esse rapaz interagindo com alguém assim.

Sorri dissimulada: - Quem sabe eu seja a primeira...

Ele estreitou os olhos e entortando a boca, apertou meu nariz como fazia quando eu era criança. Em seguida, abraçou meus ombros, me levando para dentro.

- Samanta, Samanta... Tente não me assustar novamente.

Ergui a cabeça para vê-lo: - Acho difícil! É bom se acostumar.

Ele riu. E eu? A primeira parte do desafio realizada com sucesso: Contato com o albino bonitão. Agora o outro desafio precisava ser iniciado: Fazer o tio me querer. Que comecem os jogos!

IRMÃO DO MEU PAIDonde viven las historias. Descúbrelo ahora