Reencontro

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Um rapaz de grande estatura e bem vestido me saudou, autorizando nossa entrada naquele ambiente. Sorri levemente em resposta e adentrei observando a composição do lugar. Era extremamente luxuoso. Um pequeno jardim de flores exóticas com árvores de médio porte nos recebia na entrada e uma formosa ponte nos guiava para o outro lado, passando por cima de uma piscina que jorravam jatos d'água como um chafariz que mudava de cor a cada minuto. Esse outro lado dava para um salão enorme e iluminado por imensos lustres de cristal. Algumas pessoas, muito bem vestidas com seus ternos e vestidos longos sorriram para mim em saudação ao me ver chegar. Parei para cumprimentar um grupo de conhecidos e me espantei levemente ao sentir um breve beijo em meu rosto. Me virei para o autor e passei a mão em sua face, dando -lhe um selinho fraternal. Ele me olhou dos pés a cabeça e parecendo orgulhoso, disse:
- Como você está linda, filha!
Ri com meiguice, parando um pouco para avaliá-lo. Vestia um paletó preto desabotuado e por dentro, uma camisa social branca coberta por um colete cinza. A calça e os sapatos impecáveis eram da mesma cor da primeira peça citada. Seu cabelo estava bem arrumado, penteado para o lado, o rosto liso e sem óculos. Com certeza estava usando lentes. Odiava usar lentes de contato, mas deve ter considerado por aquele dia ser especial.
Sua feição  continuava a mesma. Se duvidar, estava ainda  mais bonito que antes. Arrumei um pouco a gravata borboleta também cinza em seu pescoço e disse:
- Você está um verdadeiro gato, pai. Realmente tenho pra quem puxar.

Riu fraco e segurando meus cotovelos, procurou quase em pânico:
- Cadê o Ruy?
Foi só perguntar que o pequeno garoto de cabelos loiros e bochechas rosadas puxou o canto do seu casaco, fazendo-o virar-se depressa com um sorriso enorme. Abaixando-se, o pegou em seu colo e o abraçou com tanto amor que era admirável.
- Como está o garotão do vô?
- Estou bem, vovô! Essa festa é sua?
Meu pai riu, olhando para mim e depois para o neto, parecendo surpreso com a interrogação:
- É nossa! O vô vai casar com a Mariana.
O menino ergueu as sobrancelhas, nos fazendo gargalhar com a cara que fez:
- Vou ter outra vó, mamãe?
- Sim, meu amor. Agora você terá três vózinhas.
Ele pareceu animado e meu pai o colocou de volta no chão. Ruy correu pra algum canto daquele salão e Amanda, sua babá, foi mais atrás. É uma criança esperta e agitada. Por isso acabei solicitando para que me acompanhasse, ou então não teria sossego. Meu pai tornou-se para mim e perguntou:
- Cadê o Rodrigo?
Dei de ombros.
- Não sei. Já ia perguntar pra você.
- Espero que não demore. - pareceu preocupado e apertando seu ombro, aconselhei:
- Não se atormente com isso. Quando menos esperar, o tio Rodrigo estará aparecendo por aí. Vá aproveitar sua noite. É o seu casamento.
Respirou fundo e parecendo ter concordado, me envolveu em seus braços:
- Está certo. Vou cumprimentar algumas pessoas. À propósito, sua mãe já chegou.

Esbocei um leve sorriso com a notícia e recebi outro beijo em meu rosto antes de se retirar. Com isso, analisei mais um pouco o ambiente pretendendo usufruir bastante daquela ocasião. Tudo estava impecável. Mesas bem ornamentadas com rosas de variadas cores estavam espalhadas pelo local. Mais adiante, outra linda e gigante mesa repleta das mais variadas guloseimas e um bolo enorme de cor branca era o motivo principal dos olhares curiosos e admiradores dos convidados. Em um canto mais distante, algumas cadeiras e poltronas atraiam os mais discretos para se juntarem em uma conversação informal em meio à mais flores em grandes jarros levemente dourados, próximo a um enorme bar com profissionais à disposição daqueles que desejavam distrair-se com bebidas diferentes.
Levantei o olhar, tentando encontrar a Ruy, que possivelmente não deixaria Amanda em paz e me surpreendi quando o vi junto de minha mãe. Estava simplesmente linda. Usava um vestido longo, vermelho e de ombros expostos, que ficara maravilhoso no seu corpo curvilíneo.  Os cabelos estavam presos em um coque e a maquiagem leve ressaltava ainda mais sua beleza. Se naquele tempo suspeitavam sermos irmãs, agora mesmo que pareciamos.
Notando que estavam bem, resolvi passear por entre aquelas pessoas, que me comprimentavam educadamente. Um garçom parou bem a minha frente, trazendo uma bandeja com taças de champanhe. Não resisti e peguei uma, agradecendo-lhe em seguida. O rapaz inclinou a cabeça e saiu. Resolvi sentar-me naquelas poltronas, deliciando-me com a bebida de boa qualidade e deixei um sorrisinho de satisfação estampar em meu rosto. Os músicos optaram em tocar uma melodia calma de violinos e piano e apesar de agradável aos ouvidos, desejei que depois da cerimônia, a playlist podesse ser mais agitada. Queria diversão! Fazia um bom tempo que não sabia o que era curtir...
Abaixei um pouco o rosto e olhei para meu corpo, me sentindo sensual. Meu vestido possui a cor bordô, de alças finas e um decote em V que chegava até o inicio da barriga com uma fenda lateral não muito grande mas que revelava discretamente uma das pernas à medida que caminhava. Agora, sentada de pernas cruzadas, era um pouco mais revelador. Alguns homens que passavam por alí me observavam com seus olhares pecaminosos e simplesmente adorava ser desejada.
Não quero me gabar, mas os anos me fizeram bem. Estou me sentindo completamente satisfeita com minha aparência. Há 5 anos, eu era uma menina. Hoje, sou uma mulher independente, mãe e linda.
Bebi mais um gole do meu champanhe enquanto um rapaz, no bar olhava para mim. Sorri de canto, observando-o por entre os longos cílios até ouvir uma voz sussurrar bem atrás de mim, me fazendo arregalar os olhos de surpresa:
- Posso lhe fazer companhia, senhorita?
Me levantei tão depressa que não sei como não caí. Aquela voz estava mais grossa, mas mesmo assim, era irreconhecível. Quando me virei para comprovar, faltei gritar de tanta emoção, pondo a mão na boca para me segurar:
- Meu Deus! Vinicius?
Deu de ombros, me fazendo quase pular sobre ele em um abraço apertado. As pessoas nos olhavam com o canto dos olhos, com certeza estranhando meu comportamento, mas não estava nem aí. Minha nossa, fazia muito tempo que não o via. Nunca nem suspeitei que iria para o casamento do meu pai. Segurei-lhe as mãos e o olhei dos pés a cabeça, notando o quanto havia mudado.
- Meu Deus, como você cresceu!
- Sério? - riu, franzindo as sobrancelhas.
Percebendo que havia me expressado mal, me corrigi, gargalhando:
- Não em estatura, mas em porte físico. Santo Deus, como conseguiu ficar mais lindo?
Sorriu mais um pouco, parecendo tímido e o puxei para acomodar-se no assento em frente ao meu.
- Não exagera, Samanta!
Coloquei a mão no peito, fingindo surpresa enquanto me olhava, rindo:
- Exagerada? Não mesmo! Você é muito mais lindo pessoalmente do que nas fotos.
- Que bom saber disso, então.
Ri da expressão que fez, percebendo que sua timidez ainda era a mesma. Não estava nem acreditando... Mas tentei ser menos impulsiva:
- Como está a carreira?
Me fitou, passando a mão levemente na barba branca:
- Está bem. Você tinha razão. O fato de ser diferente me rendeu muitos trabalhos de modelo de passarela e comercial.

IRMÃO DO MEU PAIWhere stories live. Discover now