Até mais, tio!

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Já havia cochilado algumas vezes e despertei assim que senti alguém me tocar na cintura. Meu coração bateu em disparada acreditando ser todos os seres sobrenaturais possíveis. Virei meu rosto sobre meu ombro e tentei enxergar quem ousava encostar em mim. Vendo meu medo, Rodrigo inclinou-se para que eu pudesse vê-lo, me fazendo respirar aliviada:
- Estava com medo? - quis saber, me observando virar o corpo para ele debaixo das cobertas.
- Claro que não! - mas claro que sim. Fiquei apavorada. Devo parar de assistir filmes de terror antes de dormir... - O que você quer aqui?
Ele sorriu, chegando a fechar os olhos com o ato.
- Vim vê você. Saber como estar. Não conversamos desde o dia da prisão da Vilma.
Respirei fundo. Não queria nem me lembrar daquilo.
- Sim. Verdade...
Sentou-se ao meu lado na cama, cruzando as pernas na posição de yoga. Resolvi me sentar também e abracei as minhas, deixando meus joelhos em frente ao rosto.
- Está tudo bem?- quis saber, notando- me cabisbaixa.
- Um pouco. Esses últimos dias foram agitados. Nunca havia passado por tanta coisa ao mesmo tempo na minha vida.

Olhou para baixo, assentindo com a cabeça, pensativo.
- Posso imaginar. Nem sei o que faço. É delegacia, é empresa, é tentando salvar o mundo... Difícil demais!
Ergui meu rosto, sorrindo do seu gracejo e recebi um sorriso de canto.
- Que bom que tudo deu certo, que o Ricardo está bem e que deu pra fazer tudo a tempo. A Vilma é tão louca que sabotou os freios do carro e não me contou. Acho que já estava desconfiando de algo.
Continuei em pensamentos, tentando imaginar o que se passava na cabeça dela:
- Pessoas espertas não contam todos os seus planos para os outros. Ela podia te ter como cúmplice, mas com certeza possuía uma carta na manga, de reserva.
- É... Você tem razão! Mas vamos esquecer isso...
Umedeci os lábios e ergui meu olhar para ele. Só assim percebi que estava somente com uma cueca samba canção, expondo seu físico maravilhoso que parecia até que havia esquecido.
No entanto, minha memória estrondou uma lembrança em forma de acusação, o que me deixou relutante. Me mantive na mesma posição e fechei os olhos quando a mão masculina tocou minha perna, apertando-a.
- Estava com tanta saudade de você...
Disse se aproximando, seu corpo vindo sobre o meu, seus braços imensos e musculosos me envolvendo. Meu queixo apoiou em seu ombro e respirei fundo quando estalou um beijo caloroso em meu pescoço. Não sei se queria fazer amor comigo, mas eu não iria conseguir. Não estava me sentindo bem.
Notando minha permanência, voltou a ficar de frente para mim e perguntou me observando preocupado:
- Está tudo bem, Sam?
Não estava. Mas sendo idiota como sou, exclamei tentando me livrar da consciência pesada.
- Você transou com a Vilma, Rodrigo!
Ele franziu o cenho, com a expressão de desentendimento. Mas logo um sorriso apareceu naquela face, me olhando enquanto colocava algumas mechas de cabelo que estavam sobre meu rosto atrás da orelha.
-Se eu transei? Claro que não. Aquele dia foi o mais próximo que chegamos de algo. Nunca ia conseguir se em minha cabeça só pensava em você.

Aquilo só piorou as coisas. Mordi o canto do dedo, aflita, enquanto me analisava com seus olhos verdes, esperando alguma reação minha.
- Diga o que está sentindo, Sam. Prometo ajudá-la.
- Preciso pensar! - sussurrei, fitando-o. Colocou a mão sobre o peito e quis saber com uma angústia evidente.
- Estou te incomodando? Está com raiva de mim?
Fechei os olhos, tentando me livrar daquele mau estar. Continuei calada e então, se levantou da minha cama. Ergui um pouco a cabeça e o vi caminhar até minha porta. Quando sua mão alcançou a maçaneta, virou-se e disse com a voz calma:
- Desculpa se estou te incomodando. Entendo que deve está sentindo nojo de mim depois de ter me visto daquele jeito com a Vilma. Mas quero que compreenda que tudo não passava de uma mentira e que foi para o nosso b...
- Eu transei com o Vinícius!- deixei fugir da minha garganta sem deixá-lo continuar, querendo me livrar desse incômodo que estava me machucando. Pior foi vê sua cara, que ao ouvir, pareceu ter levado um soco no estômago, dando um passo para trás. Senti medo da sua reação, de se sentir traído, de ter raiva de mim. Ainda mais por nunca ter se envolvido intimamente com Vilma, enquanto eu gemia de prazer toda vez que sentava na pica de Vinícius.
Abracei mais forte as minhas pernas, tentando buscar consolo próprio. Rodrigo encarou o chão por um momento, mas me surpreendeu quando levantou o rosto, me olhando com um sorriso estampado:
- Tudo bem. Nada mudará entre nós.
Com essas palavras, abriu a porta e saiu, me deixando estarrecida com sua atitude. Imaginei que ficaria perplexo, odioso, chateado... Quando então, me lembrei do dia em que selamos nosso compromisso. Nunca me privaria de ficar com alguém. Poderia até me casar, mas sempre teria que voltar para ele...
Parecia que uma nuvem de chuva havia se dissipado sobre minha cabeça, trazendo a luz de volta. Joguei o edredom para o lado e levantei-me depressa, saindo do meu quarto. Desci as escadas rapidamente, correndo pela casa feito uma louca e o encontrei quase entrando no corredor escuro que dava acesso ao seu quarto. Virou-se confuso e nem parei, apenas pulei sobre ele, envolvendo meus braços pelo seu pescoço e prendendo minhas pernas em sua cintura. Rodrigo me abraçou forte e sorrindo animadamente, me fitando muito próximo:
- Eu sabia que viria, sua maluquinha.
Ri daquele adjetivo, segurando seu rosto entre minhas mãos para dar-lhe um selinho.

IRMÃO DO MEU PAIOnde histórias criam vida. Descubra agora