Declaração de amor

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Sinceramente, não imaginava que viveria para presenciar isso. Já era noite quando voltamos para o local onde estávamos. De longe, percebemos meu pai parado com as mãos na cintura. Parecia furioso! Virei minha cabeça para Rodrigo e encontrei os olhos dele por coincidência:
- Ricardo deve está bem chateado! - disse, enquanto ele ergueu os ombros. Não parecia muito preocupado.
- Chegamos muito tarde. Ele vai brigar comigo, com certeza!
Respirei fundo, ficando um pouco chateada. Meu pai estava muito super protetor e isso me incomodava. Sei que não sou nenhuma santinha, mas agir dessa forma não deixa as melhores impressões.
Quando nos aproximamos mais, ele se aproximou da gente mas só deixou para gritar quando estava bem perto:
- Aonde vocês estavam? Já está de noite!
Me abraçou como se eu estivesse desaparecida e Rodrigo nos olhou fazendo pouco caso. Respondi apressadamente antes que desse alguma discussão:
- O tio me fez companhia em uma caminhada. Anoiteceu tão rápido que não percebemos.
Meu pai ergueu e encarou o irmão, que estava esperando o que ia dizer:
- Porra, Rodrigo! Você é um irresponsável!
Rodrigo riu fraco com deboche e voltou a ficar sério muito rápido. Foi muito estranho.
- A garota acabou de explicar o que aconteceu. Pra quê esse escândalo?
- Você não imagina como eu fiquei aqui preocupado. Pensei que algo de ruim poderia ter acontecido.
Rodrigo apontou para mim, sem deixar a altivez:
- Ela está inteira, não está?
- Espero que sim, Rodrigo!
As últimas palavras me fizeram arregalar os olhos. O que meu pai estaria insinuando? Tio Rodrigo, que já estava saindo de perto da gente, voltou -se ao ouvir aquilo, ficando parado encarando a meu pai com uma cara evidente de ódio. Ricardo não se intimidou momento nenhum, também o fitando com a respiração ofegante. Vê aqueles irmãos brigando por minha causa me deixou extremamente mal. Pelo amor, não precisava aquilo tudo!
Caminhei até Ricardo com pressa e o abracei com tanta força que percebeu minha tristeza. Rodrigo, no entanto, ralhou com menos potência na sua voz grossa:
- Sou irresponsável mas não deixaria nada de ruim acontecer a ela.
Com isso, ouvi seus passos na escada de madeira que dava acesso ao hotel e meu pai estão falou, acariciando meus cabelos:
- Desculpa, filha! Eu fiquei muito preocupado com vocês.
Ergui minha cabeça para vê-lo:
- Mas pai, não era necessário isso tudo. Você precisa confiar mais no seu irmão. E confiar mais em mim também. Não sou mais criança!
- Eu sei disso, mas não consigo. Seu gênio explosivo é muito parecido com o do seu tio. Não confio muito em vocês dois juntos.
Engoli em seco, sentindo meu coração acelerar. Será que desconfiava de algo?
- Por que está dizendo isso? - quis saber, amedrontada, enquanto ele me envolvia os ombros, me conduzindo a ir pelo mesmo caminho que Rodrigo foi.
- Vocês dois podem botar fogo no mundo. Isso não seria muito bom para mim. Daria muito trabalho resolver mais isso.
Não consegui evitar em sorrir um pouco. Não somos tão péssimos assim...
- Não exagera, Ricardo!
Ele gargalhou e disse antes de nos aproximarmos do pessoal que já esperava. Rodrigo não estava por ali:
- Talvez esteja exagerando... mas tentem ser mais prudentes. Você e o Rodrigo foram o que me restaram da família. Com certeza, não conseguirei viver bem se algo acontecer com vocês.
Franzi os cenhos, sentindo uma pontinha de remorso surgindo no meu ser, mas apenas o abracei com carinho.
Com isso, fomos para o carro em silêncio, enquanto tio Rodrigo havia sumido. Como havia levado a moto, logo estaria em casa mas fiquei preocupada em como estaria se sentindo.
Mais tarde, ao chegarmos em casa, subi para o meu quarto a fim de tomar um banho, pois o sal da água do mar em minha pele me dava uma irritação.
O banho foi bem demorado e às vezes me distraia em pensamentos. Rodrigo possivelmente também se sentia chateado por ser tratado como uma garoto. De fato, isso era incômodo. Se tornava chato as pessoas se portarem conosco como inconsequentes, quando na verdade, o maior desejo é fazer o certo. Mas também entendia meu pai. Ser o mais velho e o responsável de toda uma grande empresa era estressante. Acredito que nunca disse, mas meus avós já eram falecidos. Após a morte do vô, minha vó teve um infarto um ano depois. Tive pouco contato com eles... Eram sempre tão ocupados... No entanto, as lembranças eram boas. O pouco que os vi, sempre foram bem receptivos e amáveis.
Quando saí do banheiro, avistei Rodrigo deitado em minha cama. As mãos estavam por trás da cabeça e os pés cruzados, olhando para o teto. Me apoiei na parede perto da porta e fiquei o observando. Ele logo começou, sem se mover muito:
- Acha que o Ricardo está desconfiado?
Ri fraco, já imaginando que essa seria a pergunta:
- Não. Ele só ficou preocupado. Disse que nós dois não somos muito certos e que juntos podemos nos meter em algo muito ruim.
Ele entortou a boca:
- Odeio esse tipo de coisa! Me trata como criança...
Aproximei-me mais e sentei na cama, secando o cabelo com a toalha, bem ao lado dele:
- Me disse também que tem medo de algo ruim acontecer com a gente, pois só restou nós dois da família.
Então, virou a cabeça para mim, me olhando:
- Compreensível, mas mesmo assim... É chato!
Sorri, jogando a toalha sobre a cadeira de canto e me inclinando sobre a cama para alcançar um pente que encontrava-se no criado mudo ao lado.
- Te entendo perfeitamente, afinal, acontece comigo.
- Mas você tem 18 anos. É normal ser chamada atenção o tempo todo... Eu já tenho 27 e não é nada legal. Mas enfim... Vou ligar um foda-se do tamanho da minha pica pra todo mundo.
Ao ouvir aquilo, comecei a rir, percebendo seu bom humor voltando.
- Vai ser uma foda deliciosa, eim?
Ele riu fraco, sentando-se na cama e tirando o pente da minha mão. Reclamei daquilo, mas quando colocou a cabeça sobre minhas pernas, percebi que queria atenção. Sem nada a dizer, comecei a passar meus dedos por entre seus cabelos claros e macios. Ele cerrou os olhos e vendo-o daquela forma tão sensível, senti algo tão prazeroso em meu ser que passava longe de toda putaria. Na verdade era uma satisfação de tê-lo. De ficar com ele, de tocá-lo, senti-lo, amá-lo...
Uma lágrima quis sair dos meus olhos quando meu turbilhão de pensamentos me fez lembrar que aquele homem se tratava de meu tio. Não um primo, ou algo parecido... Mas irmão do meu pai, um parente próximo... Casar seria improvável, um filho nosso poderia ter sérios problemas de saúde por conta da nossa compatibilidade sanguínea. Nunca o teria ao meu lado nos problemas sérios, não o teria todos os dias ao acordar pela manhã, não o teria todas as noites para acariciar-lhe os cabelos...
Mas como o desejo... Estou tão apaixonada que toparia ser sua amante para sempre, às escondidas... Aceitaria tudo isso só para ficar comigo. E cada momento que tivéssemos juntos, eu aproveitaria como se fosse o último.
- No que tanto você pensa? - quis saber ao me vê distraída após estalar um beijo em minha coxa.
- Penso na gente.
Ele franziu as sobrancelhas.
- No que você pensa?
- Que estamos bem envolvidos...
Não imaginava que isso o faria erguer-se e sentar-se na minha frente. Os olhos verdes estavam obscuros e me fitaram:
- Você acha isso ruim? Podemos acabar entã...
Nem o deixei terminar, me jogando sobre ele para um abraço. Não consegui resistir ao choro e com a voz trêmula, lhe disse:
- Não, Rodrigo... Nem pense nisso...
Ele me abraçou com força e acariciou meus cabelos, sussurrando em meu ouvido ao reparar meu choro extenso: - Tudo bem, minha princesa. Estarei aqui com você.
Tornei-me para ele e o encarando, disse sem pensar muito:
- Eu amo você, Rodrigo!
Após esta declaração, me olhou um pouco sério, mas logo sorriu, puxando meu rosto para um beijo rápido e logo limpando minhas lágrimas:
- Oh, meu amor! Como você é linda! Também te amo demais, entendeu?
Com isso, me beijou um pouco mais e me levou para deitar ao seu lado. Eu estava completamente nua, mas mesmo assim, não reagiu momento algum com malícia. Suas mãos tocaram meus cabelos, ombros, cintura e depois voltava ao ponto de partida, meio aleatório. Quando já estava sonolenta, me cobriu dos pés a cabeça com o edredom e continuou do meu lado, me puxando para aninhar-se em seu corpo.
Não falamos mais.
Bom, não sei se minhas palavras o assustaram... Não sei se as suas palavras foram sinceras, mas preferi acreditar que sim. Se quisesse desistir de mim, pelo menos saberia dos meus sentimentos...
Dormi e só acordei com um toque leve em meu rosto em uma carícia sensível. Saiu do meu quarto logo em seguida, sendo umas duas horas da manhã. Pensei que ficaria até o amanhecer... Mas pelo visto, não quis...

IRMÃO DO MEU PAIWhere stories live. Discover now