Q u a t r o

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Samuel




Jogo a folha com um dos protocolos legais do hospital em cima da minha mesa. Respiro fundo e sinto minhas mãos soarem. Começo a ficar nervoso sem motivos e procuro o celular no bolso da calça social. Ele escorrega e cai no carpete da sala da vice-presidência. Minha respiração fica presa na garganta e o mundo gira ao meu redor. Sinto que vou morrer a qualquer momento com essa pressão esmagadora que tenta me sufocar. Ar... preciso de ar...

Me ajoelho no chão para pegar o maldito celular mas imagens da minha mãe sendo violentada em minha frente e de meu pai invadem minha visão. Estou pingando, me sinto derreter. Nada funciona. De novo não.

_Não... Por favor...

Peço para que parem mas eles só riem do meu pedido. Meu pai se solta de um dos bandidos e tentar ajudar mamãe...
Não. Não. Não.

_Pai!

Grito ao ver um dos homens erguer uma arma e apontar para ele. Tento me soltar mas é impossível. Estou preso por cordas sem poder ao menos mover-me. Um disparo é tudo o que ouço. Tapo os ouvidos.

_Não... Não. Não!

Passo as mãos pelo chão e alcanço meu celular. Aperto o botão de emergência e ponho o celular na orelha. Expiro com força inutilmente na tentativa de represar isso. Essa agonia.
Essa sensação aterrorizante.

_Olá Sa...

_E-está acontecendo...

É tudo o que consigo dizer.
Me escolho. Mãe... por favor. Me ajude.

_Calma, respire Samuel. Eu estou aqui agora. Pode me ouvir?

As cenas se misturam em minha cabeça. Sou eu... respirar.

_Samuel? Respire junto comigo.

Foco no som estéreo de uma respiração ruidosa, acompanho o compasso sentindo dificuldade.

_Isso, isso. Inspire e expire. Relaxe, não é real.

Não é real? Mas parece tanto...
Continuo com o exercício até obter estabilidade suficiente para entender.

_Estamos no mar agora, sei que você gosta do mar. Feche os olhos, Sam.

Sua voz calma pede, o faço.

_Consegue vê-lo, o mar? Sente o vento leve que vem do norte? Sinta esse cheiro, Samuel.

Respiro fundo imaginando um calmo mar azul em minha frente... A brisa levemente salgada chega as minhas narinas me acalmando, ritmado as batidas descompassadas do meu coração atormentado.

_Isso...É tudo tão calmo aqui, não é? Olhe para esse céu plácido. É tão azul, você não acha?

Assinto embora ela não possa me ver.

_É. Azul Pérola...

Azul como os olhos dela.

_Parabéns, você acaba de inventar uma nova cor.

Consigo sorrir, sua voz é bem humorada. Não abro os olhos, porque ainda sinto os frenesis bárbaros da síndrome.

_É minha cor favorita no mundo.

Os olhos dela... o imenso céu azul vira um intenso olhar azul.

_Imagino que seja mesmo...
Então Samuel, acha que pode respirar fundo três vezes seguidas?

Assinto novamente.

_Sim.

Faço o que Mysure pede. Me sentindo mais calmo então sento no chão e me encosto no vidro da mesa.

Te Enlouquecendo (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora