S e i s

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"Posso ver um arco-íris
Em suas lágrimas enquanto elas caem
Posso ver sua alma crescer
Através da dor enquanto elas atingem o chão
Posso ver um arco-íris
Em suas lágrimas à medida que o sol nasce"



Samuel









_Acha que assim está bom?



Por via de dúvida na minha capacidade recorro a Selma. Estou me arrumando para o jantar de daqui a pouco. Ajeito o vaso de flores em cima da mesa.

_Bem..bom, bom não está mas tá valendo, patrão.

Reviro os olhos para o sinceridade opressora dela. Selma não tem papas na língua e quando alguém pergunta algo a ela tem sempre uma resposta assustadoramente sincera que para alguns parece grosseria. Observo a minha decoração romântica: Uma mesinha na sacada com uma rosa branca no centro e talheres. Passei a tarde inteira para fazer isso pra minha loira. Respiro fundo e ajeito os guardanapos.


_Ei, patrão, e o jantar em si, digo, a bóia...o senhor pensou nisso não pensou?


Arregalo os olhos e coço a nuca percebendo que esqueci da janta. Puta merda! Selma põe as mãos na cintura e me encara com diversão.


_Não acredito, cara. O senhor esqueceu o essencial para um jantar: a própria janta. Porraaa...Ah! Desculpe. desculpe!


Ela começa a se balançar e volta a varrer a sala. Você está certa, como me esqueci disso? Merda...pego o celular e procuro um restaurante bom que entregue comida hoje.

_Selma, como é mesmo o nome do restaurante que ela gosta?

Peço ajuda pois o nervosismo não me deixa pensar direito. Recebo um olhar indignado.

_O senhor sabe que a patroa não gosta de comer em restaurantes chiques e cheios de frescuras...acho que o dali da esquina tá de bom tamanho.

É mesmo, minha loira não gosta de comida de restaurantes mas se for bem simples está tudo certo. Confiro as hora e ainda tenho meia hora até sua chegada. Max me dispensou mais cedo hoje, o que é tão raro quanto abraços, assim vou poder tentar resolver as coisas.

_Fique aqui até eu voltar, vou ver o que consigo. Já volto.

Pego a carteira e o casaco; e me contenho em mandar uma mensagem para Pérola.
Ela vai vir sim, ela disse que viria...

Chego ao térreo e aperto o casaco ao meu redor. Essa época de fim de ano o inverno chega sem piedade e só falta congelar a alma. Desvio das pessoas com o dobro de seus tamanhos normais por causa do acréscimo de roupas para bloquear o frio cortante. Ando a passos rápidos até o restaurante da esquina. Minha sorte é que moro no centro da cidade e tudo fica em frenético movimento por aqui.

Sou atendido por Gusmão, o chefe, peço um jantar para dois do prato do dia e sobremesas de morango. Minha loira gosta de peixe com aspargos e batatas tenho certeza. Espero uns vinte minutos e logo estou voltando para casa com as sacolas biodegradáveis do Hother's food.

Passo pela portaria depois de passar meu cartão, prefiro ele ao molho de chaves. Entro no elevador da cobertura. Comprei uma cobertura porque queria estar mais perto do céu e mais longe do mundo, das pessoas lá embaixo.

_Olha, foi rápido. Agora eu já vou, saiba que só volto a trabalhar dia cinco de janeiro.

Selma jorra enquanto arruma sua bolsa de pelo de gambá ou rato, sei lá que diabo de bolsa estranha é essa. É como se um gambá estivesse grudado em sua cintura...

Te Enlouquecendo (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora