Capítulo 44

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Betina Narrando.

O Caleb foi o caminho inteiro até o bar bem sério, conversando pouco e com uma expressão vazia. Óbvio que tinha algo tirando ele do sério, esperei chegarmos no bar, pedir uma cerveja amanteigada e dois hambúrgueres artesanais pra perguntar o que estava chateando ele.

Betina: O que você tem? – Passei a batata no molho e comi – Não aceito como resposta "nada" e "estou de boa'.

Caleb: Olha, eu te chamei aqui pra conversar mesmo, não quis ficar na sua casa por causa do Miguel. Ele ia ficar em cima, não estou bom pra isso. – Ele deu um gole na sua cerveja, ficando com um bigodezinho engraçado, me inclinei pra limpar com um guardanapo fazendo-o sorrir de leve em agradecimento.

Betina: O que aconteceu?

Caleb: Na verdade, eu já sabia que isso ia acontecer, mas eu estava evitando, sabe? – Insisti no olhar pra ele continuar falando enquanto eu comia as batatas, o molho estava de verdade muito bom. Não sei como não vim aqui antes – Minha mãe me ligou hoje cedo, no começo ela ficou perguntando como que eu estava, perguntou dos meus estudos, umas perguntas padrão. Depois ela veio querer saber porque eu não disse a ela que havia voltado para o Brasil e que ficou chateada por ela ter ficado sabendo por terceiros.

Betina: E você não ligou pra ela quando chegou por quê? – Dei um gole na minha cerveja, até gostei do sabor por ser diferente do que eu estava acostumada a tomar.

Caleb: Não gosto de ficar forçando a barra, Bê. Ela sabe que eu ainda guardo muito ressentimento dela e é difícil pra mim agir como se o passado tivesse morrido.

Betina: Mas você não saiu do Brasil pra estudar?

Caleb: Eu fui né? Meu avós financiaram por um tempo, mas depois eu me virei sozinho por lá. Mas o rolo que deu é que meu padrasto me expulsou de casa.

Betina: Como assim ele te expulsou?

Caleb: Simples, ele mandou minha mãe escolher ou eu ou ele. Então ela disse que era pra eu ficar um tempo na casa da minha vó até a gente esfriar a cabeça. – Olhei para ele um pouco em choque, apoiei meus braços na mesa o olhando sem saber o que responder. Padrastos são mesmo uma pedra no sapato, ninguém merece.

Betina: Mas ela deve ter dito isso pra vocês não ficarem brigando em casa, Caleb.

Caleb: Minha mãe me teve muito nova, Bê, meu pai é um fudido qualquer aí que não quis saber dela e ela então me deixou pra ser criado pela minha vó. Quando ela conheceu meu padrasto, ela veio me buscar com a cara mais limpa do mundo depois de 7 anos. Tipo, eu via minha mãe muito mal nas festas de família, feriado, final de semana. Até aí, Bê, eu entendo numa boa. Juro que dessa época eu não guardo rancor nenhum, ela era adolescente e foi até bom eu ter ficado com meus avós. Mas o que pesou foi depois, que toda briga que eu tinha com o meu padrasto ou o filho dele, era motivo de eu voltar pra minha vó, entende?

Betina: E vocês brigavam por quê?

Caleb: Porque o filho do meu padrasto é usuário, então sumia dinheiro da casa, objetos e a culpa caia em mim. Pra eles eu era o marginal da casa.

Betina: E agora ela está agindo com você como se nada tivesse acontecido, não é?

Caleb: Claro, Betina, pra ela é fácil fingir que nada aconteceu. Meus tios estão me dando uma moral do cacete, na verdade eles sempre deram, a tia Rosa fez mais por mim do que a minha mãe a vida inteira. Tanto que quando eu disse que ia fazer o intercâmbio, a tia Rosa chorou durante um mês inteiro e fez de tudo pra me prender aqui no Brasil.

Betina: Você não quer ir conversar com a sua mãe não? Botar tudo isso pra fora? Muitos falam que a verdade ela machuca, mas de vez em quando é bom machucar com ela.

Agora eu quero irOnde histórias criam vida. Descubra agora