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[ Olivia Carrington ]

"Eu acho que não, doutor." - Encosto as costas por inteira na poltrona e me encolho, evitando encará-lo. Solto uma leve risada anasalada, para disfarçar qualquer tom de grosseria que tenha minha resposta.

"Bom..." - Suspira e coloca minha ficha em cima da prancheta.- "Como você tem se sentido ultimamente?".- Pousa a prancheta na mesinha de centro e cruza seus dedos.

Levanto a cabeça e tomo coragem para encará-lo. Suspiro e abro a boca, na esperança de que as palavras saiam, mas é com dificuldade que falo.

"Não sei descrever." - Com delicadeza passo uma mecha do meu cabelo para atrás da orelha e torno a encarar o chão. Eu não gosto de me abrir para as pessoas. Não sinto conforto o suficiente para fazer isso com qualquer um. Encolho minhas mãos nos bolsos do sobretudo.

"Não se sente à vontade para se abrir?"-Disse baixinho, como se lesse minha mente e soubesse tudo que se passava lá, naquele emaranhado de sentimentos.

Apenas aceno a cabeça positivamente. Ele observa meus movimentos e se levanta, ajeita o jaleco, indo em direção à uma cafeteira que está quase escondida no meio de tantas estantes lotadas de livros, e de alguns papéis espalhados pelo grande consultório aconchegante.

"Aceita um café?"- Pergunta com gentileza.

Levanto o olhar e o observo, com receio o respondo.

"Sim, por favor."- Sorrio levemente.

Ele rapidamente prepara café para dois, deixando explícito que ele tomaria comigo. Voltou para as poltronas e me entrega gentilmente.

"Obrigada." - Murmuro

"Cuidado, está quente." -Sorri e sopra a borda de sua xícara, em seguida dá um pequeno gole.

O silêncio tomava conta do ambiente enquanto apreciávamos o café que ele havia preparado, sua voz quebrou o silêncio.

"Sabe, eu costumava fazer café para minha irmã em dias frios, como esse de hoje."- Sorri ao se lembrar de algo.- "Eu vivia no quarto, apenas estudando para as provas finais da universidade, ela entrava de fininho e me implorava para que fizesse café, dizia que o dela não era tão bom quanto o meu." - Solta uma risada fraca.- "Sinto falta dela..."

"Por quê? Vocês não têm se visto ultimamente?"- Deixo minha curiosidade escapar em forma de pergunta. Não que eu esteja a fim de prolongar conversa e entrar em detalhes íntimos.

"Mais ou menos. Na verdade, não. Tenho andado muito focado no meu trabalho, raramente tenho tempo para ir visitá-la."- Ele parece ficar desanimado, mas logo volta com o sorriso bonito que tem.- "Mas e você? Tem irmãos?"- Dá um gole em seu café.

Dou um gole no meu e penso rapidamente se deveria começar a me abrir com ele, eu realmente não queria, mas se não o respondesse, talvez ele não me deixasse em paz.

"Não. Estou sozinha no mundo."- Deixo escapar uma risada debochada. Já havia me acostumado com esse fato.

"Por que se sente sozinha?"- Pousa a xícara na mesa de centro e me observa, de braços cruzados.

"Porque é como eu estou."- Respondo curta e grossa, também pousando minha xícara ao lado da sua.

"Você se sente assim física ou mentalmente?"- Arrasta a poltrona um pouco para frente, se mantendo perto de mim, o que me causa uma boa sensação, não sei porquê. A proximidade com o calor do seu corpo me acalmava de certa forma, me dando sensação de conforto, talvez? Prefiro pensar que essa sensação é devidos à decoração aconchegante.

"Ambos."- Apenas respondo, voltando a reprimir meus sentimentos, sem deixar com que escapem em forma de resposta.

"Senhorita Carrington..."

"Pode me chamar de Olivia, doutor. Não gosto de ser tratada com tanta formalidade, me sinto idosa."- Solto uma leve risada, recebendo outra como resposta da sua parte.

"Olivia, você não deveria se sentir sozinha fisicamente, já que agora tem minha companhia quando quiser e quando for preciso. Mas preciso que me conte mais sobre como se sente no quesito mental, para que eu possa te ajudar."- Ele sorri de maneira confortável e entende suas mãos, as palmas da mãos levantadas para cima deixam claro que ele queria que eu pousasse as minhas ali. As pouso ali delicadamente, porém ainda com receio.

"Mas doutor, se eu mesma não consigo me ajudar, por que outra pessoa conseguiria? Aliás, por que logo você conseguiria?"- Fecho os olhos e suspiro. Sempre tive meu raciocínio como certo, exato. Se eu não consigo me ajudar, não há como outra pessoa conseguir. Ponto final.

Ele me encara com uma pontada de sorriso em seus belos lábios rosados, deve estar achando meu caso um baita desafio para sua carreira de psicólogo.

"Me dê um voto de confiança, garanto que não irá se arrepender, Olivia."- Segurou minhas mãos e fez um leve carinho na palma desta, me deixando relaxada.

Passo alguns minutos pensando, talvez pensando até demais. Minha mente está em uma constante guerra entre deixar um desconhecido tomar conta dos meus problemas ou simplesmente me afastar e deixar com que e a ansiedade e a depressão tomasse conta de todo meu corpo e minha mente. E era esse o lado que ganhava força. Porém, decido me arriscar. Aliás, o que era mais um erro em minha vida?

"Espero que não me desaponte, doutor Mendes."- Respondo rapidamente.

Mendes sorri e solta nossas mãos, se levanta da poltrona e solta :

"Farei de tudo para ver você feliz, Olivia. Basta confiar em mim."

"Enfim, o que devo fazer agora? Voltar para às aulas ou ir para o dormitório?"- Me levanto e pego minha mochila, a colocando nas costas.

"Eu deveria te mandar de volta para a aula, mas não farei isso. Pode ir para o dormitório, se a diretora me perguntar algo, direi que você não se sentia bem."- Anda me acompanhando até a porta.

"Quando devo voltar aqui, doutor?"- Pergunto ao cruzar a porta para fora.

"Não quero forçar a barra, mas seria bom que voltasse aqui diariamente."- Sorriu enquanto segurava o trinco da porta e apoiava um de seus braços no batente da mesma, dando um ar sexy.

Apenas aceno com a cabeça, concordando, e me despeço, indo embora daquele bloco do colégio, em direção aos dormitórios.








O restante da manhã gélida de Toronto se passou rapidamente, indicando que as aulas haviam se encerrado por hoje. Acordo dos meus pensamentos ao ouvir a porta do quarto ser aberta com certa brutalidade. Sophie adentra o quarto como um furacão. Me encara.

"Então quer dizer que a suicida matou aula e ficou na cama a manhã inteira enquanto seus coleguinhas de classe se fodiam estudando? Parabéns, Olivia!"- Debochou e se jogou na sua cama, deixando sua mochila ao lado da mesma.

Apenas a ignoro e saio de baixo das cobertas. Pego uma roupa quente em minha cômoda e me tranco dentro do banheiro. Troco de roupa, deixando as que usava antes no cesto, e logo me sinto mais aquecida, o que era difícil de ficar devido às baixas temperaturas do inverno canadense. Ao sair do banheiro, Sophie se encontrava deitada de bruços na cama, tentando dormir. Passo reto e saio do quarto.

Caminho lentamente para a saída do bloco dos dormitórios, indo até o refeitório pois já era hora do almoço, eu havia checado o horário em meu celular antes da furacão Sophie aparecer.

Ao chegar no mesmo, pego o almoço na bandeja e me direciono até a mesa mais distante e vazia, para tentar ter, pelo menos, uma refeição em silêncio, já que nesse inferno de colégio ninguém cala a boca.




Quando terminei, retornei ao quarto e tentei focar em fazer as tarefas ao longo da tarde fria. O tempo passava lentamente, e tudo que eu queria era que o dia de hoje acabasse logo. Não via a hora de chegar o dia de amanhã para ver o que o doutor Mendes faria na consulta...

Eu realmente duvidava de suas habilidades como psicólogo, mas no fundo eu desejava testá-las.

PARADA Psychologist » {Shawn Mendes}Onde histórias criam vida. Descubra agora