PRÓLOGO

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Meus olhos se abriram, ainda marcados pelo sono e mesclados à indagação devido aos empurrões incessantemente desesperados de meu irmão. Estes que se intensificaram quando resmunguei. Com o corpo ainda encolhido sob a maciez do cobertor avermelhado, busquei inúmeras explicações para tamanha agitação em uma pacata madrugada de sexta-feira. Normalmente, eu sequer estaria acordado, assim como os típicos jovens da urbe ruralista em que eu vivia, porém fora uma tentativa falha ao considerar que meu corpo continuava sendo chacoalhado.

— Jungkook! Acorde logo! — A voz tornava-se cada vez mais alta. — Precisamos ir.

Ainda sem compreender a grandiosa razão para tamanho desespero, virei-me para Taehyung, que abria o guarda-roupas e recolhia uma ou duas coisas que não tive interesse em descobrir o que eram. Esfregando os olhos enquanto espreguiçava-me com certa raiva por ter sido acordado, observei a aflição acumulada nos lábios tensos de meu irmão. 

— O que está acontecendo? — Arrastei-me para a ponta da cama. O cobertor mal conseguia aquecer meu corpo arrepiado pelo sopro que entrava pela fresta da janela e invadia-me dolorosamente.
   A brisa insistia na frieza que há poucas semanas recaíra sobre a cidade. Efeito de algo característico do clima subtropical.

Taehyung suspirou exasperadamente e se aproximou. Em uma das mãos, portava uma mochila vazia.

— Pegue apenas o necessário. Tenho certeza de que saberá o que é fundamental. — Jogou o objeto em minha direção, atingindo meu rosto. — Não temos tempo para perguntas. — Seguiu até a porta. — Papai está nos esperando — proferiu do corredor.

Obedeci ao meu irmão. Não por saber que era o mais velho, mas porque ele possuía inúmeras qualidades, sendo a principal delas calma. Se ele estivesse preso à falta de equilíbrio de sua mente ao remoer algo inesperado, sua angústia o tomava quase que por completo.
   Acomodei duas mudas de roupa no fundo da bolsa. O objeto foi enchido depois que guardei meu arsenal de facas colecionáveis e minha bússola da sorte nele.Vesti a jaqueta de couro, antes presa na cabeceira de camurça cor de café. Despedi-me da minha belíssima cama e aprofundei a lâmina Bowie 11 pol. aço 1075 na parte interna do coturno.
    A casa estava quieta. 

Desci os degraus silenciosamente. Fitei a crosta de poeira sobre o corrimão metálico, chegando até a televisão em que se anunciava baixo uma notícia: “Durante a noite desta sexta-feira, dia seis de fevereiro, o laboratório geral do exército manuseado pela empresa privada Black Circle Corporation anunciou estado de emergência após um rompimento nos padrões higiênicos por um funcionário não identificado…”.

Suspirei confuso quando o aparelho chiou por longos vinte segundos, logo voltando ao noticiário:

Há anos, nosso sistema vem passando por graves epidemias, atravessaremos mais essa”, defendeu a Sra. Bae Irene, supervisora-chefe da vigilância científica.

E outra vez o som ensurdecedor apareceu, fazendo-me revirar os olhos devido às falhas que regularmente aconteciam ao longo dos 365 dias do ano. 

Apertei o botão “off” no controle remoto em cima do braço do sofá e o soar da televisão cessou, trazendo à tona o murmurar de papai e Taehyung
   A porta estava entreaberta.
   Aproximei-me do feixe de luz que oscilava com as movimentações deles.
 
Talvez eu não devesse ouvir. Todavia, não havia cura para a curiosidade. Recostei-me na madeira escura, que há pouco fora revestida por uma nova camada de verniz incolor, delicadamente, evitando quaisquer ruídos.

— Taehyung, essa é sua missão. Ele é a resposta. — Um calafrio me cortou a derme no instante em que papai proferiu tais palavras.

— Acredito que Jungkook não precise de proteção. Foi treinado a vida inteira — sussurrou. — Mas farei o possível, papai.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora