SEVENTEEN

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O sol percorreu tênue e monótono pela vila imersa no caótico estremecer de mandíbulas. O clima era transformado em brisas pouco gélidas à medida que caminhávamos em direção ao portão principal. Por mais que tivesse dito não necessitar de qualquer companhia, Taehyung passou o restante do dia insistindo para que levasse comigo Yoongi e Namjoon.
   De longe, sobre um galho ao lado do gazebo branco, um pássaro de tons vívidos e alaranjados, possivelmente da espécie cardeal-do-norte que, pelas características parecia metade fêmea e metade macho, era deveras raro, embora já o tivesse visto por fotografias que meu professor de História, um amador daqueles animais quando estava fora dos muros da escola, tirou. Pássaros de sexo mistos eram quase impossíveis de serem vistos, aquele era um momento único que durou exatos dez minutos. Gostaria de poder, em dias normais, correr até Sr. Hill e contar que havia observado por um longo tempo aquela espécie antes de voar para longe, após assustar-se com os baques nas madeiras que impediam os seres desalmados.

— Estão prontos? — perguntei.

Coloquei minha pistola no coldre e apertei-o um pouco mais. Minha cintura havia se tornado mais fina, não por falta de alimentos, até aquele momento, ainda conseguíamos não se preocupar com aquele tipo de coisa, mas por meu corpo estar cada vez mais adequado à situação em que o mundo se encontrava. Ambos assentiram. Yoongi tinha ódio nos olhos, embora compreendesse ser o colapso mundial, mantinha-se fiel dizendo que continuava não suportando ser acordado às pressas, pois afirmava que aquilo fazia-o ter o humor deveras emburrado, o que para mim, era uma completa baboseira, já que o cartógrafo vivia com o semblante descontente.
   Yixing estacionou o veículo que usaríamos em nossa trajetória. A SVT RAPTOR mostrou-se enorme, com sua coloração diferenciada de todas que já tinha visto, uma mescla belíssima de verde e azul com marcas arroxeadas.
 
Quando Namjoon ajeitou-se no banco ao meu lado, abriu o porta-luvas à sua frente e, pelo sorriso animalesco, encontrou o que procurava. Dedilhou um porta-CD preto com as iniciais J.H, possivelmente do antigo dono daquele automóvel. O loiro que agora, graças a Seokjin, possuía as pontas dos cabelos roxas, colocou o CD no rádio, clicando duas ou três vezes e pulando as músicas, até encontrar a que mostrava na faixa-cinto. “Back in Black”, da banda australiana AC/DC, invadiu quase que de imediato todos os centímetros do carro. Yoongi balançava a cabeça para frente e para trás, entusiasmado o suficiente para que eu pudesse afirmar que aquela música estaria no seu TOP10, enquanto isso, Namjoon fazia uma encenação como se realmente estivesse tocando um instrumento musical, certo de que estava acertando todas as notas e afinava de forma distorcida sua voz para alcançar, de maneira cômica, o agudo do cantor Brian Johnson.

  A interestadual ficou ainda mais medonha quando as gotículas de uma precipitação árduas nos atingiram durante os longínquos três quilômetros, fazendo uma cortina de poeira se desfazer com as gotas pesadas que emitiam um som agudo ao bater contra a lataria. Nesse momento, percebemos o amontoado de mortos-vivos se aglomerando como uma massa de dentes arrastando-se diante da barreira de automóveis colocada para impedir que outras pessoas atravessassem por aquele local, buscando evitar que o vírus se espalhasse. Esta que se acumulou ainda mais conforme os baques acarretavam uma sinfonia lúgubre em proporções gigantescas quando os inúmeros desalmados resolveram bater brutalmente contra os obstáculos.

— Temos outra opção? — indaguei, sentindo a mão de ossos expostos bater no vidro ao meu lado.

— Esse é o único caminho. — Observou minuciosamente, caçando uma solução imediata. — Qualquer outro tomaria pelo menos dois dias para chegarmos.

— Apocalipse de merda. — Apertei o volante tão cruel que poderia ouvi-lo gritar junto ao cantor que mudara de acordo com as incansáveis trocas de integrantes naquela banda.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora