SEVEN

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Talvez fosse loucura privar as pessoas que amo dessa obscuridade que teimava em dominar minha mente. Por mais que desejasse ignorar os pesadelos que me causavam arrepios todas as noites, similares a um calafrio aflorando na espinha, era impossível.

De certa forma, essas pessoas poderiam me entender ou, pelo menos, tentar. Porém, eu não seria capaz de suportar caso não compreendessem esse inferno que me cerca.

— Vamos, Jeon! Está tudo limpo por aqui — Jonghyun disse, cessando meus devaneios. Então, abriu o porta-malas e permitiu que os raios de uma aurora quase reclusa pairassem sobre minha pele. Pisquei os olhos ao confrontar  a luz — Acabei de checar o perímetro norte, como me pediu — estendeu uma de suas mãos. — Você está bem? — Perguntou, mesmo sabendo que a resposta para aquele questionamento era negativa.

Afirmei mentirosamente com a cabeça e dei-lhe um sorriso falso, enquanto meus pés afundavam no deserto branco, agora menos denso. Pude sentir o vento solitário balançar não somente as folhas em processo de descongelamento, mas também os fios rabugentos que se desprenderam do coque que acabara de refazer.

— Por favor, chame os outros — respondi, frígido — Precisamos sair daqui — observei os arredores por alguns segundos, sentindo uma sensação estranha quando meus olhos atingiram a parte mais ao longe — Aqueles merdas podem voltar a qualquer momento.

Jonghyun hesitou por poucos instantes e me olhou de maneira a parecer compreender toda aquela confusão que se intensificava em minha mente e que, sem que eu percebesse, por muitas vezes, transparecia em meus olhos. Porém, prosseguiu porque sabia que os homens podiam retornar a qualquer momento.

Esfreguei o mais rápido que pude as mãos uma na outra, à medida que soprava o ar quente sobre as palmas ressecadas. Meus lábios não estavam diferentes, quase tão machucados quanto o dia anterior e tão ressecados quanto minhas mãos. Tempos como aqueles, embora fossem meus favoritos, traziam um desgaste excessivo digno de “frescura” para minha pele.

— Jungkook! — Namjoon disse, aparecendo atrás de mim — Sair por aí nesse tempo é loucura — Quando adentrou minha visão, consegui visualizá-lo esfregando os braços trêmulos.

— Ele está certo — Jin proferiu, envolvendo-se em seu companheiro a fim de se aquecer.

— São tempos difíceis, rapazes — pela primeira vez, gostaria de estar errado. — Não podemos perder tempo, precisamos continuar tentando.

A melancolia novamente me sufocou, similar a uma das milhões de crises de pânico que tive durante a adolescência. Porém, desta vez, era como se aquele sentimento não quisesse me calar, mas sim fazer com que toda a sensação estranha saísse de meu corpo.

— Mas isso é suicídio, Jeon — Jin proferiu, quase desistindo de ser ouvido. — Por que está fazendo isso?
Ele estava certo e isso era inegável. Continuar neste frio seria negligência de minha parte, mas permanecer no porta-malas de um carro também era.

— Porque eu prometi manter vocês seguros — Fechei os punhos tão intensamente que a dor das unhas afundando em minha pele pareceu mínima diante minha preocupação — Eu… — desferi um golpe na lataria desgastada à minha frente, ao passo que as lágrimas escorriam por entre as bochechas e rolavam para além da carroceria. — Espera! É isso… — Voltei às orbes para os dois, esperançosos. — Podemos verificar os veículos. Algum deles têm que funcionar — apontei para placas específicas. — Nem todos são tão antigos como pensamos.

— Mas como encontraríamos um dentre todos esse, Jungkook? — Jin indagou. — Seria como uma agulha em um palheiro…

Um rosnar de motor o interrompeu de imediato, proveniente da parte oeste do local. Nossos olhos seguiram bruscamente na busca exata pelo automóvel responsável por aquilo: um Ford Mustang vermelho, modelo 1998.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde histórias criam vida. Descubra agora