TWENTY SEVEN

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Posicionando-me no corredor, agachei furtivamente para escapar das orbes tétricas e encardidas dos mortos-vivos que caminhavam à deriva do alarme vibrante paralelamente acionado. Alguns tateavam brutalmente os vidros que apesar de parecerem finos, eram deveras reforçados por uma película específica para contatos diretamente ferozes. Atrás da massa morta, a placa dourada com pontos brilhantes inundava minha visão: Black Circle Corporation. Acima das letras bem colocadas, um símbolo apedrejou-me por não conseguir decifrá-lo. Qualquer barulho ou vulto poderia trazê-los de volta e todo plano iria por água abaixo e, bom, estaríamos mortos. Meu pai furtivamente apoiou-se na quina da parede que o permitia ver os monstros, antes de dedilhar o mapa provido por um holograma que atravessava a lente de seu relógio programado especificamente para aquela ocasião. A expressão era rígida e uma fina camada de determinação unificada à melancolia.

— A maioria deles estará empacada na curva do corredor — disse, apontando para a conexão de uma parede e outra mostrada na camada tecnológica que passou a brilhar vermelho no local em que seu dedo tocara. — Precisamos alcançar aquela porta.
   Assenti, enquanto visualizava a enorme passagem iluminada somente pelo giro de trezentos e sessenta das luzes de emergências que davam acesso às escadas.

— Vá primeiro — sussurrei. — E deixe-a aberta.

— Não o largarei aqui sozinho.

— Já o fizera uma vez, basta repetir — proferi seco e papai suspirou em desgosto. — Sem tempo para isso.

O homem tentou hesitar, mas ignorei-o e mantive as convicções árduas ao plano infalível que se desenhou na minha cabeça, como se pudesse ver cada passo que daria. Ele prosseguiu sorrateiramente até o limite do corredor. Segui seus passos, esgueirando-me no vidro e espiando cada centímetro. Então, um baque, em um ato violento e insolente, da porta estilhaçando, chamou atenção da alcateia de desesperados.
   Os passos trocaram o rumo, arrastando-se como a troca espontânea da brisa provida pelas chuvas estouradas por causa do calor. Hora de usar seus anos de atletismo, suspirei evidenciando que papai estava seguro. Ao menos, algo você fez certo, fitei-o enquanto dava um tiro carregado por setenta por cento da adrenalina que armazenei no curto tempo de descanso. Com passos largos e respiração constante atingi, em segundos recordes, o destino.

— Para qual direção? — Observei os lances de escadas enquanto lacrava a porta atrás de nós.

— É no subterrâneo — disse, acentuando e aproximando o holograma. — Número treze.

As escadas estavam fielmente limpas e sem resquícios dos desalmados em nenhum dos lances de degraus, o que nos ajudou a descer ligeiro e potentemente. O local mostrado por papai era o mais baixo, feito um porão para armazenar a discórdia ou, para eles, pessoas que não importavam. Abri a porta com cautela, correndo os olhos, pois o ambiente estava tão ceifado quanto os mortos, talvez até mais.

— Final do corredor leste — disse, apontando para a imensidão negra à nossa frente.

Assenti, prosseguindo silenciosamente com um pé após o outro. Embora corresse com a parte dianteira da pistola para os lados, evitando uma surpresa, não havia sinal ou qualquer coisa que se caracterizava como cadáveres ambulantes. Calmo demais, pensei. Meu pai passou a minha frente enquanto vasculhava as saletas de depósitos.

— Por aqui — sussurrou.

O excesso de sensações ameaçou distrair-me em uma junção de batidas de coração incontroláveis e o odor desagradável que estava se tornando costumeiro. Atravessamos três estreitos corredores. A garota tinha razão, eu me perderia nesse labirinto tenebroso.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora