TWENTY

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Quando nos aproximávamos do ponto mais ao norte da interestadual, quase na linha que indicava o retorno para a saída 1306, a placa que mesclava entre um verde-água e o tom mais agudo de branco mostrou-se com letras largas: Bem-vindos a OutPort. O subtítulo estava pouco gasto, alguns caracteres esturricados devido ao sol excessivamente exagerado sempre que podia, entretanto era entendível, “a cidade da dignidade refletida em raios de pureza”. Não por ter uma população definida àquela frase, mas pela presença celestial de um campo de margaridas e hortênsias marcando cada quilômetro como uma pintura coloridamente viva. Todavia, aquela beleza descomunal, tornara-se, naquele instante, um mar-morto de seres perambulando à deriva de sua satisfação perturbadora.
   Um punhado de desalmados cercavam um local há vinte metros, um acidente que parecia ter acontecido fazia pouco tempo, como urubus se deliciando da derme desfalecida e ao mesmo tempo fresca para eles. Estes que poderiam ser um problema para nós, ao ressaltar que o número de mortos-vivos aumentava a cada segundo que ficávamos encarando o carro de encontro a um outro.

— Eu fico incrédulo com o tanto de sorte que temos — Yoongi proferiu, quebrando o silêncio, suspirando pesado a ponto de fazer um círculo embaçado sobre o vidro ao seu lado.

— Coloque “sorte” nisso — Namjoon respondeu e fez aspas com força, transbordando um ar de descontentamento.

Matar essas desgraças parecia mais divertido enquanto eram apenas personagens do jogo Resident Evil, suspirei lentamente a fim de buscar paciência. Não suportava mais ver os mortos voltando à vida, afinal a palavra já deixava claro o estado em que deveriam manter-se: falecidos. Certamente Jin, de onde estivesse, estaria imaginando o mesmo que eu, principalmente por passar horas jogando e desencadeando missões em jogos de grande escala. O maldito apocalipse que se tornou realidade.

Conseguia sentir a força centrípeta chacoalhando-me por dentro, como um abalo sísmico em meio ao mar, um fenômeno natural que corresponderia a um tsunami de sensações, sendo poucas delas positiva, quando engatei a ré e pisei até o final do pedal. Namjoon, para evitar os devaneios preocupantes, permitiu um assobio, que acompanhava a voz de um cantor de uma banda qualquer que não fora famosa o bastante para atingir minha geração. Um único giro no volante áspero e bruto fez o Maverick derrapar enquanto fazia um semicírculo. Percorri, paralelo à rodovia, um quilômetro antes de encontrarmos uma saída concorrente àquela para que pudéssemos prosseguir. Meu queixo tremeu devido à tensão mórbida de determinação em encontrar a porta de entrada para o fim do caos, pois se existisse qualquer resquício de respostas, mesmo que fragmentadas, aquele lugar era onde elas estariam.
   A escabrosa destruição assolou não apenas aqueles campos de margaridas, mas tudo o que podia ser visto a um raio de sete quilômetros. Nada nesta cidade estava vivo, sequer inteiro. O local parecia um cenário de guerra, daqueles que os professores de História contavam e o que nos restava era imaginar. Contudo, era pior do que poderia descrever anteriormente, em meus doze anos. Freei bruscamente uma segunda vez, do outro lado da rua, uma filial das cafeterias Starbucks fora consumida por uma cortina de chamas alegres que a abraçavam como uma mãe acalmando seu filho que chorava descontroladamente. A área e todas suas proximidades encobriram-se de cinzas e fumaça densa e, por um momento, compreendi a sensação da atriz Radha Mitchell no filme Silent Hill. Além do incêndio uma sequência de oito automóveis preenchiam a estrada de uma ponta a outra, deixando evidente que deste lado o bloqueio tomara uma proporção ainda pior.

— Porra! — Pressionei violentamente o volante e engatei a ré outra vez, partindo similar ao Flash para trás.

— JK, você precisa se acalmar — Nam disse sereno e colocou a mão sobre meus ombros. Em contrapartida, Yoongi olhou-me arregalado e segurou Jonghyun.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora