TWO

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A voz que jamais achei que ouviria novamente em minha cabeça, regressou há poucos dias. Em formatos sonolentos, sombrios e sem sentido, fragmentos de pesadelos indescritíveis até mesmo mediante a uma cena pós-apocalíptica.

“Você precisa nos vingar, por favor”. Era a frase que mais se repetia na confusão de imagens, essas tão realistas que poderia assemelhá-las a um filme dos Warren. O timbre era nasalado e marcado por um fio de desespero, unido a uma esperança que talvez não suportasse mais o que estava acontecendo. Poderia ignorá-la como tentei fazer durante todos os meses que se seguiram dolorosamente após a morte de meu pai. Porém, nada me fazia deixar de buscar uma resposta plausível para tal expressão, absolutamente nada.

A brisa gélida trazida pela calmaria das folhas densas, misturada ao vento vindo do Norte foram substituídos por um grito grave e aterrorizado. Meus olhos abriram quase que de maneira instantânea, trazendo à tona o motivo.

Um cadáver entrou cambaleando na clareira. Era uma mulher pálida e, levando em consideração sua coloração variando entre cinza claro e pouco mais escuro, havia sido infectada há uma semana, quiçá menos que isso. Trajava um jaleco hospitalar sujo de uma espécie de líquido lamacento. Bem onde um de seus ombros estava em falta, os tendões recheavam-se de larvas que se alimentam de forma animalesca.

A mandíbula estalou estridente e a mulher proferiu um grunhido, como se apenas sentisse nossa presença, mas não conseguisse nos ver. Atrás dela, um aglomerado de homens, mulheres, jovens e crianças rastejavam e batiam os dentes como castanholas.

O líquido avermelhado que se espalhava por suas respectivas bocas, seja revestido por uma derme fina e corroída ou sem sinal dela, evidenciaram que antes de nos encontrarem, os mortos haviam tido uma pausa para um lanchinho ligeiro. Eles se aproximaram com o característico passo irregular espasmódico, que se intensificava a cada odor que os atraía.

Nos primeiros segundos, o bando de cadáveres adentrou por completo a clareira e se direcionou à presa mais próxima, que gritou desesperada.

Sehun.

Levei a mão direita para o coldre de couro preso em minha cintura, assim como Jimin e Namjoon fizeram. Os demais puxaram facas e outros tipos de armas brancas que julgavam ser o suficiente para abater todos os desalmados à nossa frente. Nesse instante, o barulho do ecoar seco da Desert que portava nas mãos, vindo de um tiro certeiro, diretamente no centro da testa, transformou-se no momento de defesa do pequeno, que necessitava de ajuda para se arrastar para longe das mandíbulas desesperadas para mordisca-lo.

A raiva canalizada na violência controlada por cada um de nós mesclou-se aos tiros e golpes desferidos sobre os crânios doentios. A primeira explosão destroçou o olhar leitoso que buscou, com as unhas mais parecidas com garras àquela altura, Erin, este que desferiu um soco diretamente no rosto deteriorado de uma idosa sem dentes.

Outro morto-vivo buscava abocanhar Sehun, que tentava a todo custo correr o mais longe que podia. Porém, ele foi fisgado pelo tornozelo e logo despencou sobre uma poça acinzentada de fluidos de outro desalmado abatido. O segundo tiro foi disparado por Jimin, seguido por golpes de Jonghyun e Namjoon, que finalizaram outros três desalmados, que despencaram sem pudor ao lado do pequeno Sehun, prestes a ter os pés engolidos. Hoseok correu e ajudou o garoto, colocando-o na parte traseira do veículo.

— Jin, ligue o caminhão! — Exclamei, correndo meus olhos para o moreno que fincou sua faca no crânio de uma mulher em seus cinquenta anos.

Novamente, escutei o som de uma alma lisa atingindo um cadáver que se aproximava de Yoongi, ao passo que Seulgi cravava uma lâmina diretamente no crânio de um garotinho de aproximadamente cinco, seis anos. Ele carregava uma mochila do Capitão América e, apesar dos olhinhos brancos como leite, estava abraçado a um boneco do Homem de Ferro.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora