FOURTEEN

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Namjoon levantou a janela semi-aberta de um dos passadiços do prédio onde as saletas e uma placa indicava sua importância: finanças. Ele fez um sinal e nos abaixamos nas sombras providas pelas pilastras bem estruturadas por todo o galpão vazio no centro do edifício. O lugar era similar a um barracão utilizado para a produção de carros alegóricos meses antes de desfilarem vorazmente pelo sambódromo. A claraboia retangular, para evitar o gasto excessivo de energia elétrica, refletores alinhados à distância de cinco metros um dos outros estavam apagados mesmo conectados às tomadas e o chão dividido com quatro linhas pretas, de um lado empilhados em sacos alimentícios que pelo aroma estavam azedos, e do outro apenas ferragens para a manutenção de uma das paredes que desmoronou pela infiltração das chuvas recorrentes durante o mês passado.

   O lugar era escuro semelhante a um caixão a sete palmos do solo, ao menos as lanternas conseguiam dar conta de um terço daquele labirinto estranhamente só, mas os fiapos de claridade mesclavam-se à negritude abrangente.
  Tique-taque. Era capaz de ouvir meu coração palpitar loucamente como o despertador amarelo e lilás que um dia existiu sobre minha escrivaninha. Irônico comparar algo fútil nesse novo mundo, porém, ainda assim, eu as fazia. Talvez porque permitiam que minha sanidade continuasse intacta? Embora não tivesse certeza de que ela ainda sobrevivesse dentro de mim.
  
Segui, com pernadas longas e silenciosas, até o interruptor. Nenhuma resposta. Era o esperado, apertei-o apenas pelo desencargo de consciência e o aroma de podre pungente remoeu todo o ar, competindo com o oxigênio.
  Abri a porta vagarosamente com a ponta ensanguentada do coturno. NHEEN! O rangido ecoou por baixo das solas pegajosas de meus sapatos.
  Espero que os desgraçados não tenham escutado. Implorei por um momento de paz.

— Checarei. — Cerrei os punhos como sinal para que os demais aguardassem ali.

Um único vulto saiu cambaleando pela outra porta dentro do gabinete. A pilha de papéis desabou, emitindo um ecoar abafado. Filho da puta, franzi os lábios, a raiva consumia-me mais do que quaisquer sinais de cansaço. Os dentes como castanholas brilhavam sob o fio luminoso refletido nas janelas quadriculadas, o cadáver esfomeado se moveu para perto e o terno rasgado se fez presente unindo-se ao acinzentar da baba que escorria pela camisa social.

Foda-se se outros vierem.

Apertei o gatilho sem pensar duas vezes, ignorando completamente os desalmados do lado de fora. A sensação de matar alguém, ou melhor, um não alguém, era como vangloriar-me por ganhar a maior fatia de torta, era como se todo o sentimento que teimava em aflorar, morresse. O projétil atingiu-o, deixando o eco eclodir na brisa gritante.
  Fiz uma varredura na saleta e precisei finalizar apenas outro cadáver: uma adolescente trajando uma camiseta rosa que tinha jovem aprendiz bordado em branco, na parte de trás.
  Ao menos importei-me de explodir o crânio da garota e ver seus restos voarem a uma altura de dois metros antes de esparramarem-se pelo chão de cimento queimado.

  Para minha sorte encontrei um terceiro morto preso na porta que precisava fechar para manter-nos relativamente seguros. O desalmado que pelo uniforme molambento e o crachá com marcas de digitais viscosa fora um dos antigos vigias. Agarrou-se quando parte de seu cinto se enroscou na maçaneta. Metade do rosto estava deformado, o que me fez imaginar a causa da sua primeira morte. Ele se debateu enquanto as mãos buscavam-me.

— Porra, que demora. — Jimin apertou o gatilho do rifle SVD, o tiro atravessou-o, mandando parte da mandíbula pelos ares, o jato de sangue e tecidos atingiu minha camiseta e o corpo desfaleceu para trás. O loiro o puxou para o lado contrário e fechou a porta que dava para um passadiço mortal, onde os mortos-vivos reinavam.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora