62- Gravidade - Parte I

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-Entra no carro otário, vamos rezar.- diz estranho sua forma de falar.

-Por que sou otário.- digo seguindo para o lado do carona, quando me sento no banco, penso no restante do que ele havia dito.- Espera! Como assim "Vamos rezar"?

-É isso aí, ir na sua igreja pode ser uma experiência interessante, e quanto ao Otário, foi só uma referência, Meninas Malvadas querido.

Com isso ele liga o carro e sai dirigindo tranquilamente.

-Interessante droga nenhuma, se souberem o que você é vão rezar pela sua alma, se não ficar esperto podem até tentar um exorcismo.- digo o fazendo rir.

-Não funciona, então que eles tentem.- diz, olho para ele assustado.- É, já tentaram. Mas isso não importa.

-Então o que importa?- pergunto abismado com suas histórias.

-Esse lenço no bolso do meu paletó, gostou?- diz apontando para o pedaço de tecido rosa.

-É bem legal, mas o que isso tem a ver?

-As quartas usamos rosa.

-Realmente muito genioso da sua parte introduzir o assunto homossexualidade com meus pais usando rosa.- ironizo.

-Eu sei, mas chega de falar de mim, me fale sobre você, como foi o seu dia.

-No geral foi bem normal, um pouco tedioso. Mas antes de vir pra cá eu encontrei o Otávio, dono da agência Narcisus conversando com a minha ex-namorada e meus amigos.

-Isso me lembra que eu preciso resolver algumas pendências com ele, mas isso é algo pra depois, e aí, vocês conversaram?- pergunta.

-Sim, mas ele fingiu se lembrar remotamente de mim, o que é bom.

-Já estive com ele algumas vezes, o que fez foi bem profissional da parte dele.

-Pois é, mas foi bem assustador ver a cena.- comento.

-É eu sei, esse é o maior problema em se ter um segredo, você acaba ficando vulnerável, com medo de coisas que muitas vezes são ou deveriam ser inofensivas, um refém pode se dizer.

-É verdade.

-Bem complicado isso. Mas vamos mudar de assunto.- diz saindo do campus.- Aonde é a igreja?

Digo a Trevor as coordenadas, durante a viagem indico entradas para que ele não se perca, quando chegamos as pessoas começavam a se reunir.

O Imperador estaciona e nos olhamos mais uma vez, as borboletas começavam a se estapear em meu estômago, então ele se aproxima e me dá um beijo, penso em me soltar dele mas me lembro dos vidros escuros.

-Vamos lá?- pergunta ele, assunto com a cabeça.

Saímos do carro e ficamos próximos as portas da igreja esperando pelos meus pais, algumas pessoas me cumprimentam, Trevor educado interagia com essas pessoas. Quando finalmente chegam minha mãe vêm até nós sorridente.

-Sebastian, você veio!- então se vira para Trevor.- O senhor também, que bela surpresa.

-Boa noite senhora, eu aproveitei o pedido do seu filho para vir a igreja e resolvi aproveitar também.- meu pai chega junto a nós.- E também, depois disso gostaria de convidá-los para um jantar, preciso conversar com vocês sobre algumas coisas relacionadas a Trevor.

-Que coisas?- pergunta minha mãe curiosa.

-Isso é algo para depois, vamos primeiro aproveitar o culto.- diz enigmático.

Nesse momento meu pai me lança um olhar desaprovador, provavelmente ele pensava no dinheiro, só Deus sabia o que se passava em sua mente, roubo? Agiotagem?

Não demora muito para que o pastor chegue, ele se dirige a nós.

-Boa noite, boa noite irmãos. Sebastian, a quanto tempo, estava ficando preocupado. Então sua atenção se volta ao Imperador.

-E você, quem é?- questiona.

-Sou Trevor, um amigo de Sebastian.- afirma de forma leve, o pastor segue encarando-o percebo que sua estava apontada a algo nas suas roupas.

-Não é correto que um homem use rosa.- aponta para o lenço em sua lapela.

-Está aí como um lembrete ao combate do câncer de mama.- afirma veemente, aonde estava aquela história de "As quartas usamos rosa" agora?

-Ah meu caro rapaz, só Deus cura, opera milagres, a medicina não é nada perto da vontade do Senhor.- afirma ele.

-Hum, interessante, sem Deus é verdade, mas você não acredita que é Ele quem permite e dá a oportunidade da pessoa que precisa se curar? De que médicos também podem ser intervenção divina?- questiona.

-Ora, veja bem, médicos são apenas humanos, eles não têm capacidade de operar milagres.

-Você também é humano, e não estou pondo em pauta a capacidade de operar milagres dos médicos, estou questionando se a medicina não poderia ser a mão de Deus intercedendo sobre nós.

Minha mãe ouve aquilo refletindo, para ela aquele debate era muito efetivo levando em conta seu tratamento contra o câncer. Por alguns instantes o pastor permanece quieto, mas logo tenta se recompor.

-Posso ser humano, mas... Mas eu profetizo na casa do Senhor.- diz apontando para a igreja já um pouco mais exaltado.- Se houver uma cura será aqui.

-Você parece estar duvidando da capacidade de Deus.- observa Trevor levantando uma das sobrancelhas,- lugares como esse são bons para buscar conhecimento, mas isso não significa que o Senhor está restrito a prédios assim, Ele é onipresente, está em literalmente todo e qualquer lugar.

A gravidade ao redor de Trevor pesava mais a cada palavra que dizia, amassando seu oponente de debate.

-Que seja.- diz rabugento,- eu tenho um culto para lecionar.

Então se vira e vai embora.

-Nunca havia pensado dessa forma.- diz minha mãe a Trevor.

-As vezes é preciso pensar além do que te dizem, tirar suas próprias conclusões.- afirma ele.

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