Capítulo 4

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Finalmente dona Lourdes sossega, toma a dianteira e consegue, meio por debaixo dos panos, entrar por uns minutos para ver o marido. E eu... bom, eu fico sem saber que assunto conversar com o Ariel, porém ele sabe e puxa a conversa.

— Paulo, obrigado por ter vindo trazer a gente.  Sabe... lembra o que tu disse sobre a CNH? O meu pai nunca vai me deixar fazer a carteira de motorista. 

— De nada. — dou uma "seca" pra não me envolver no papo dele. Ele se faz muito de coitadinho e não tenho tempo pra isso. Além de ser adolescente. Eu sei que passou dos 18, mas pensar que é adolescente me mantem no foco. 

Mas como não sou cavalo, reconheço meu coice no rapaz e ofereço:

— Quer descansar um pouco? Deita o banco da frente e dorme um pouquinho.

Ajeito o banco, porque nem isso o rapaz sabia fazer, empresto meu celular pra ele ouvir música e recebo um olhar seu, bastante desajeitado. Ariel olha uma, duas e na terceira olhada dele, eu finjo que tô procurando alguma coisa e não olho mais. 

Dona Lourdes vem animada dizendo que seu marido logo será liberado e que está bem, que fora apenas a pressão elevada (claro que não deixa de ser grave).

Enquanto esperamos perto da entrada onde fica a recepção, lugar em que se aguarda notícias, entra pra visitar e registra pra internação, ela puxa o assunto: "Ariel, menino de ouro". A mulher me conta que o menino cozinha bem e, eu quase perguntei se isso era propaganda e se a gente pode experimentar sem compromisso...

Mas quero viver muitos anos mais.

É muito elogio sobre uma pessoa, direcionado para apenas um cristão, no caso, eu.

— Meu menino faz cada receita doce...

— Não sou muito chegado em doce. 

Mentira e sagitariano não combinam, mas eu não quero comer as "poções do amor" que ele fará se eu arregar demais.

— Ih, então... o salgado que o Ariel faz, é muito melhor que o meu. Ele prepara aquelas receitas que vêm nas embalagens de creme de leite... tem uma receita melhor que outra. 

— Ah, essas receitas muito luxentas não me agradam. Eu sou do arroz, da batata com carne moída e da carne de porco bem frita.

— Ele faz também. A comidinha simples dele é muito boa e precisa ver que tempero.

— Eu prefiro só com sal... bem pouco de preferência.

— Bem do jeitinho que ele faz. O Zé não pode comer nada com muito sal. Meu filho é prendado na cozinha.

Eu já tô suando, tô nervoso e preocupado com o rumo da conversa e continuo tentando escapar...

— Mas tem dia que prefiro mais sal na comida.

— É questão de tu pedir pra ele salgar mais.

Ahááááá! Peguei! Ela tá mesmo fazendo propaganda do filho, quer arrumar casamento.

Aqui farroupilha!

— Bom...  — quase gaguejei, que merda! — Bom, pra quem um dia viver com ele. —  eu falo sério e olhando pro alto da serra, as montanhas verdes, o começo do céu cinza claro que favorece o mormaço.

— Ele só sai de casa bem casado. À moda antiga, anel no dedo e documento... eu já fui lá no cartório me informar e sei que dá pra "fazer o papel".

— Nossa! 

MEODEOSSS! Traduzindo a frase acima.

Acho que tenho cara de marido pra essa muié.

O Centauro e o Caranguejo (Em Pausa)Where stories live. Discover now