Capítulo 10

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Eu tive vários encontros com Ariel naqueles modos já mencionados: 

1. Jantar na casa de sua família na quarta-feira, às vezes sem conseguir um beijo porque o casal ficava só em cima de nós, ou;

2. Almoço com a família no domingo, podendo passar pra sala enquanto ele e sua mãe estivessem organizado a cozinha. E ficando com Ariel depois que o velho começasse a bocejar e dissesse:

"Pode garrar a cama do quarto de visita, vizinho."

"Se for pra dormir sozinho, nem quero", eu respondia mentalmente cada vez.

Mas, o Ariel ia fazer o que? 

Ele espera dias pra ficar umas horas comigo e eu louco pra dar uns apertos no guri, passo por cima do sono e fico ao seu lado vendo uns programas de domingo que ele adora. 

Quem nesse mundo gosta de programa televisivo de domingo? O Ariel.

Não vem ao caso, sinceramente.

A sogra meio que começou a deixar a gente sozinho, isso quando ela ia com o carrinho de mão buscar estrume no pasto pra transformar em adubo, eu disfarçava enquanto palitava o dente na janela e só ia pro sofá quando perdia a mulher de vista.

No sofá, meu grudinho senta com as pernas dobradas para o lado sobre o assento e se cola em mim, oferecendo a boca pra uns beijos, umas mordidas, uns sussurros e minhas mãos, uma na cintura dele e outra em sua coxa. É o amasso mais ousado que me permito, mesmo assim lá embaixo o bicho surta, acorda, marca um volumão e os olhos pretos sorriem quando encontram minha saliência, só pra se sentir satisfeito consigo. Daí, o peste provoca mais e me dá bronca quando minhas mãos apertam sua bunda firme.

— Não provoca, Ariel. Tu colocou a mão lá... tá foda assim.

— Foi sem querer.

— Domingo que vem, convence ela pra tu ir um pouco ali em casa. Aqui não dá pra ficar a vontade. E, antes que tu fale que só quero aquilo, pensa um pouco melhor se não tá provocando pra se divertir...

Homem sem sexo é o diabo com ódio.

Punheta? Não resolve merda nenhuma.

AHHHHHH! 

Queria levar em banho-maria para que o tempo passasse e eu começasse a perceber que aquela união não era algo feito pra mim. Porém eu pensava muito nele quando ficava sozinho ou quando tomava uma olhada de outro cara afim. Me sentia fiel. Ariel me inspirava romance com muita oportunidade de mudança, especialmente na vida dele e eu queria muito vê-lo progredir, sorrir, tornar-se um homem independente, especialmente de mim. Era assim que meu companheiro deveria ser para que eu achasse perfeita a relação. Pessoa bem resolvida.

Depois que falei com mais secura, ele ficou calado e eu, exatamente naquele domingo, não tive mais paciência pra me render aos seus dengos. Caminhei até a porta da sala, ali fiquei a refletir por longos minutos. Ele em silêncio. Eu pensei em terminar. Houve um momento em que imaginei se não estaria confundindo compaixão com paixão. Amor com piedade. Tesão com curiosidade. Não houve mais clima algum naquele dia. Na janta, mal toquei na comida. Sua família, inclusive Ariel, estavam todos tranquilos e felizes.

Eu queria um tempo.

Pensar longe da confusão permite encaixar melhor as "peças do jogo". Consegui ver com mais coerência as situações e aquele futuro casamento que não tinha muito disso.

Não apareci na primeira quarta-feira subsequente.

Fiquei exausto de pensar, organizar a casa, mudar coisas de lugar, pagar contas, pensar ainda mais e pensar... Tentei afastar meu menino dos meus pensamentos principais.

O Centauro e o Caranguejo (Em Pausa)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon