Capítulo 09

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Dizem que namoro de sítio sempre termina em casamento. 

Quem disse isso? 

Ah, ouvi numa música tradicionalista do Rio Grande do Sul e preciso salientar que as poesias dentro das músicas gauchescas de antigamente eram de preencher a alma. E eu enchendo linguiça pra desviar um pouco do foco do pré-casório, porque escapar dele, já era.

Mas o Paulo tá maluco que no interior se aceita tão facilmente a "viadagem" de um colono, só pode.

Quem foi que disse isso?

Ninguém aceita tão facilmente, porém tem uma coisa, a gente se impõe ou vive a vida alheia e sempre infeliz. 

Sinceramente, eu nunca vi algo perturbar tanto algumas pessoas como a "viadagem".

Não sei se no interior ou na cidade é mais complicado, porque me criei aqui, então aqui é meu parâmetro. Acho que só ficou mais aceitável quando comecei a engrossar com alguns tipos. E não é por falta do que fazer, porque no interior o povo é bem trabalhador, mas digo, quando dá o horário de largar a enxada, trator, lavoura, caminhão, os homens vão pro boteco fofocar, se "gavolar", contar mentiras e, as mulheres vão pra casa, se trabalham em casa tem até mais tempo pra falar sobre a vida de terceiros. Digamos que aqui falta um pouco mais de lazer que tem na cidade e que entretém mais as pessoas, eu acho, e por isso não se ocupam tanto com fofoca.

E todo esse bafafá de início de capítulo é só pra deixar claro, que puto do interior sofre o mesmo que o puto da cidade. E se tem uma família como a do Ariel na qual a mãe acha a coisa mais tranquila do mundo, tem a minha na contrapartida, que achou o final dos tempos quando eu me assumi, especificamente meu pai, seu Osmar. O outro pai, seu Osni só me aparece quando quer fazer algum rolo, vender caminhão velho, peça de máquina ou pedir dinheiro emprestado pra nunca devolver. Esse já conheço, um tranqueira, mas que nem liga para o fato de ter um filho gay, até porque eu tenho uns trocos no banco e ele sabe. E me arrodeia igual mosca na merda...

Voltando ao assunto, Ariel, na minha primeira quarta-feira de namoro oficializado contei com os parentes do guri em peso visitando sua família e olha a ideia que tive:

— Dona Lourdes, esse domingo, posso levar o Ariel pra passear? A senhora pode passar o horário que trago bem certinho. — Me obriguei a ligar pra casa deles.

— Claro, pode sim. Aí vocês ficam mais à vontade. Mas, vão e voltam antes do almoço, né?

Fazer o que né?

— Claro, com certeza.

— Aí passa aqui umas dez e meia, onze horas da manhã e chega pelo menos uns vinte pra meio dia.

O que vou fazer em quarenta minutos ou uma hora?

— Mas queria levar ele pra almoçar fora. Passear mais longe. Olha, eu respeito o menino, dona Lourdes.

— Não, não. Passou de duas horas longe, é complicado. Só se levar os piazinhos juntos.

— Não! Eu passo ali as dez e meia. Domingo, às dez e meia e volto meio dia.

— Vinte pro meio dia.

— Isso.

Meu Deus do céu. O que ela acha que vou fazer com o rapaz? Tá pensando que sou um tarado? Dá vontade de desistir disso, vai que nessa uma hora, eu caio em tentação e...

No domingo eu chego na casa do Ariel às dez em ponto, porque vai que... ela libera antes. Sabem o que aconteceu?

Meia hora tomando chimarrão com o sogro e o Ariel todo bonitinho só me cuidando, tão apressado quanto eu, cravou dez e meia, ele avisou que ia sair e só fomos sozinhos porque eu fingi que não ouvi as crianças choramingando que queriam ir junto pra chupar picolé.

O Centauro e o Caranguejo (Em Pausa)Where stories live. Discover now