Capítulo 6 (+18)

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Repito: "Eu sou caçador, sou sagitariano e sagitariano não gosta de ser caça. Porém na vida não acontece só o que a gente quer que aconteça".

Quem eu quero enganar a essa altura do campeonato? Eu? Porque nem mesmo eu acredito na minha liberdade como parte do meu futuro. 

Com cara de pastel, que eu tenho certeza que fiz, fico acompanhando seus movimentos enquanto coloca o cinto. Observo cada detalhe de seu corpo e muita coisa ali me chama a atenção, clama por mim, desde os pulsos finos, os antebraços mais queimados de sol, de cor quase marrom, o peito magro, as pernas finas que deixam a calça meio frouxa, o tênis branquinho, o jeito simples de menino do interior, delicado ao mesmo tempo, os lábios bem desenhados, o nariz reto, os olhos e o cabelo preto levemente ondulado que precisa de um corte talvez. A timidez que faz seu olhar fugir do meu. O olhar que busquei, que queria no meu...

Ah cacete...

Isso me parecia mais tenso que um "provão" dum concurso público que fiz quando tentei fugir da responsabilidade de cuidar do patrimônio da minha mãe. 

O levei para almoçar num restaurante que gosto, estilo beira de rodovia, colonial, com um buffet daqueles bem caprichados, comida que parece da mãe e ambiente sem luxo, que nos faz sentir bem à vontade. Eram quase duas horas da tarde, tinha além de nós, mais duas mesas ocupadas e a família dona do lugar nos atendeu como se fossemos velhos amigos, oferecendo carne quentinha, queriam fritar mais batata e se desculparam por não ter mais tanta opção naquele horário. Eu também me desculpei pela hora e puxamos conversa, Ariel comeu e se calou com receio de me envergonhar, foi ele quem disse quando descobri que ficou com vontade de tomar um refrigerante a mais.

— Vou brigar contigo, Ariel. — Quando falo, ele fica sem graça — Não é pra ter vergonha de pedir as coisas quando tá comigo. Eu volto lá, quer?

— Não quero incomodar.  

— Se me incomodar eu falo, pode acreditar. Tem que começar a falar as coisas, se libertar um pouco disso tudo... vamo esperar teu pai ficar um pouco mais forte e converso com ele pra te arrumar um emprego.

— Tá... Obrigado...

Pergunto a ele pra que lado quer ir e com receio outra vez, ele me diz que tanto faz.

— Olha, largue de ser indeciso menino.

— Pra casa... gosto de ficar em casa, lendo um livro ou ouvindo um radinho.

— Eu tenho pavor de ficar preso em casa, hoje vamos dar umas voltas e depois a gente se tranca em casa.  

Ele se calou, senti até preocupação com aquele comportamento. Liguei pra minha mãe que informou que o pai do Ariel estava bem e ficaria mais aquela noite na observação e que dona Lourdes ficaria no quarto com ele. Meus pais já estavam indo do hospital pra sua casa... o que me deixaria sozinho com Ariel.

Caramba...

Não insisti no passeio, engraçado que o guri ficou ainda mais calado.

Cancerianos tem um lado misterioso também? 

Isso não sei... Mas eu já tava atiçado, ainda mais, ainda mais.

Quando Ariel desce da caminhoneta, para na frente da porta de casa. Sou grandão e ele é magrinho, baixo, então me vi dominando o pedaço de gente que me olhou tímido e saiu do caminho muito rápido. 

Não vou jogar, jamais, jogo da velha, ludo, dominó ou forca com ele. Periga eu perder em tudo isso. Ele tá jogando, tá me maltratando, eu tô achando que vou ficar louco bem rápido.

O Centauro e o Caranguejo (Em Pausa)Where stories live. Discover now