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            Quando eles chegaram do retiro, estava prestes a cair no sono de tanto cansaço que meu corpo estava carregando

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            Quando eles chegaram do retiro, estava prestes a cair no sono de tanto cansaço que meu corpo estava carregando. E embora mamãe soubesse que eu tinha aula no dia seguinte cedo, acordou-me no meio da noite para conversar.

Ela passou os primeiros trinta minutos falando sobre as pessoas que estavam lá e como se comportaram. Comentou algo sobre "alguns dias retirados faz bem para a mente" e mal ela sabia que sempre estava assim, retirada do mundo. Me mantive em silêncio escutando todos os detalhes que ela considerava relevante contar.

— E você? O que fez? — Perguntou curiosa. — Leu os versículos da bíblia que deixei separados para você?

— Sim. — Respondi mentindo.

Era claro que antes de sair havia passado os olhos pelo livro aberto em minha cômoda, mas por sorte já conhecia e praticamente havia decorado todos os versículos que haviam sido deixados destacados para mim.

Enquanto ela preparava seu pequeno questionário para obter a prova de que eu realmente havia cumprido o dever, pensei "a mentira contamina aos poucos", ter que inventar novas mentiras estavam ficando cada vez mais difíceis.

— Estava falando com nosso pastor na igreja sobre a sua ida a universidade. — Iniciou contando. — O filho dele irá para a mesma que a sua.

Outro detalhe muito importante quando se trata de mamãe: embora ela abomine diversos atos adolescentes e me queira trancada dentro de casa, de todo modo tenta fazer com que eu e o filho de seu pastor tenhamos algum contato maior do que apenas amizade.

Acredito que com certeza teríamos que nos casar em menos de três meses, é isso que todos fazem e eu não estava preparada para uma etapa tão importante em minha vida.

Eu tinha muito para viver.

— Sabe que me candidatei para outras universidades. — Comentei sem olhá-la nos olhos porque sabia que aquilo poderia interferir em nossa conversa, me deixava intimidada e nervosa.

— Nós já conversamos sobre isso. — Falou alto. — Eu e seu pai estudamos na Fox e fomos devidamente preparados para o trabalho.

Revirei os olhos com o seu comentário.

— Você não trabalha. — Foi o que disse e como resposta recebi um forte tapa em minha bochecha esquerda.

Em questões de segundos meus olhos se encheram de lágrimas, mas um ano antes havia prometido que não choraria mais na sua frente e foi o que fiz. Encarei a parede em minha frente para não desabar em lágrimas.

— Eu posso não trabalhar mais agora, mas é com o meu dinheiro que você pretende cursar uma universidade, não? — Ela já havia se levantado e estava parada no batente da porta.

Aproveitei a luz apagada do quarto para chorar em silêncio. O seu tapa não havia doído apesar do impacto ter causado um alto barulho, mas a dor interna estava se sobressaindo.

            Ouvi um pequeno barulho vindo da porta e percebi papai atravessá-la silenciosamente

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Ouvi um pequeno barulho vindo da porta e percebi papai atravessá-la silenciosamente. Apalpou a cama a procura de um espaço vazio e se deitou ao meu lado. Ele ainda não havia dito nada e estava preocupada porque faziam anos que não tínhamos aquele contato.

— Vai passar. — Falou baixinho. — Eu quero pensar que tudo isso vai passar.

Sequei as lágrimas e tentei encará-lo no escuro.

— Por que está falando isso? — Perguntei.

Após o acidente papai se sentiu obrigado a frequentar a igreja e tentar mudar deixando a bebida de lado. O que ele sentiu fora medo de nos perder e entendia sua atitude em tentar recompensar isso de alguma forma buscando Deus. Basicamente fazia tudo que mamãe pedia e também havia deixado sua vida de lado por conta disso.

— Estou cansado. — Respondeu. — Eu sei que prometi amá-la até a morte, mas está cada dia mais difícil sobreviver a isso tudo.

— Você pode ter a sua própria vida, não é egoísmo querer paz e felicidade. — Expliquei.

— E deixar vocês? — Perguntou. — Não poderia deixa-las. Quantas coisas você já deixou de viver por conta disso?

Ele estava certo. Me impediram de tanta coisa por tanto tempo.

— Você não consegue concertá-la? — Perguntei baixinho. — A mamãe de antes era tão mais alegre e confiante.

— Nós vivemos com tanta intensidade quando éramos jovens. — Contou. — Nós tivemos um amor intenso e cheio de altos e baixos, mas sempre houve nós e contra nós dois nada era forte o suficiente.

Agora havia deixado uma lágrima cair. Sabia que papai a amava independente de tudo e que não é porque as pessoas mudaram de acordo com o tempo que simplesmente deixamos de amá-las por conta de seus defeitos.

Eu não havia deixado de amá-la também. Mas a nossa intimidade, nosso companheirismo havia morrido aos poucos.

— Eu faço parte do time de futebol do colégio há quase três anos. — Contei sem medo, meu coração estava aberto e aproveitaria aquele momento para me abrir com ele.

Houve um silencio constante no quarto. Não sabia se ele havia dormido ou se estava apenas absorvendo a ideia.

— Sua mãe não poderá saber disso. — Contou. — Uau, minha filha é uma jogadora.

Demos uma pequena risada para que ninguém escutasse.

— Este final de semana conheci a universidade dos meus sonhos por convite dos olheiros, estou concorrendo a uma bolsa no time feminino. — Contei.

Mais uma vez um silencio perturbador apareceu. Dessa vez foram alguns minutos até que ele dissesse algo. Estava nervosa se deveria ter contato algo tão impactante para alguém que havia acabado de descobrir que sua filha era jogadora de futebol.

— Não sabia que você era tão rebelde. — Comentou. — Sua mãe surtaria se descobrisse tudo isso.

— Você me apoia? — Perguntei. — Só me diga que irá cuidar das meninas se eu for embora e que torce pela minha felicidade.

Olhei para o lado e percebi que papai estava com as mãos sobre os olhos. Seu corpo tremia, parecia chorar, o que automaticamente me fez fazer o mesmo.

— Eu sempre torcerei pela felicidade de vocês. — Respondeu passando o braço em volta do meu corpo. — Eu te apoio em tudo que você quiser.

Beijei sua bochecha e me afundei no seu abraço. Como era bom sentir aquele amor novamente. Como era bom a sensação de se sentir amada e única por pelo menos alguns minutos.

Havia muito tempo que ninguém demonstrava tanto carinho a não ser dentro das igrejas.

O Campeonato (AMOR EM JOGO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora