Parte 04

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Não foi de imediato, mas Ghrèin foi convencido a deixar que Ara, apesar de ainda uma criança, treinasse com os outros guerreiros. Como condição, não haveria tratamento diferenciado, Ara seria tratada como uma elfa de 150 anos. A jovem se dizia pronta, então seria tratada como tal.

Ara acordava todo dia antes do sol nascer e saía para correr. Junto com Blath e outros guerreiros em treinamento, percorriam quilômetros e mais quilômetros da floresta. Maighstir, o professor, contava que para determinadas missões deve-se correr durante dias, nem sempre haveriam cavalos para ajudá-los. Ara começava a imaginar como seriam essas grandes jornadas, se estariam perseguindo alguma coisa, ou alguém, se estariam fugindo, escapando. E eles corriam, enquanto o Maighstir perguntava se tal fruta era comestível, ou tal outra era venenosa e quais eram os sintomas que acarretava, como montar um acampamento ideal, como procurar por sinais de trolls e de outras criaturas perigosas.

Quando paravam de correr, começavam e escalar. Subir nas árvores, pular de uma para outra, seguindo o trajeto que o Maighstir fazia. O professor ia cada vez mais rápido, seus movimentos precisos, e quem não fosse capaz de o acompanhar era deixado para trás. Tinha acontecido com Ara todos os dias no começo de seu treinamento. Ela então descia da árvore e voltava andando para a vila, onde deveria esperar os outros para a primeira grande refeição do dia. Antes da corrida eles deveriam comer apenas uma fruta, ou algo leve.

Blath, que já estava mais acostumado, era mais bem sucedido em acompanhar o professor, mas ainda era deixado para trás volta e meia. Outros doze elfos participavam do treinamento inicial com Ara e Blath e cada um deles falhava em seguir o ritmo em algum momento. Dez meses foram necessários para que Ara conseguisse chegar até o final com seus companheiros, havia se enchido de felicidade e abria um sorriso audacioso, apenas para escutar de seu professor:

— Peço desculpas pela minha velocidade hoje, sei que fui mais devagar. Ghrèin pediu que eu dobrasse a atenção ao passar pela floresta, ele acredita que há algum explorador perdido rondando os arredores de Lannionad, então percorri nosso caminho mas lentamente para tentar encontrá-lo.

Após essa declaração, Ara passara a se esforçar ao máximo para acompanhar o professor, não queria ser capaz de terminar o trajeto apenas em dias lentos. Mais alguns meses, e estava indo quase tão bem quanto Blath, mas continuava sendo a pior do grupo.

Seu momento de brilho chegava depois do café da manhã, quando iniciavam o treino de arco e flecha. No final do primeiro dia de treinamento, o Maighstir havia lhe chamado para perto:

— Esta dinâmica não vai funcionar para você. — ele tinha dito, a jovem elfa logo imaginou que havia feito algo de muito errado enquanto praticava. — Sua habilidade está muito acima do resto dos iniciantes. Vou providenciar para que alguém venha dar uma aula separada para você. Não posso fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

Ara havia arregalado os olhos e esboçado um sorriso, mas a expressão severa do professor havia impedido qualquer maior demonstração de orgulho.

— Não seja arrogante, jovem. Um exímio arqueiro ainda está longe de ser um guerreiro completo. De nada adianta ser capaz de acertar um orc à metros de distância, se no combate corpo a corpo você não tem chances de sobreviver.

E Ara, de fato, não possuía tais habilidades. Nos exercícios de combate sem armas, a elfa era derrubada ao chão assim que voltava a se levantar. Não acertava um golpe, não surpreendia seu parceiro de treino uma única vez. Toda a técnica que tinha em tiro com o arco lhe faltava para a luta. Um ano foi necessário para que ela chegasse a um nível próximo ao de seus companheiros. O combate com armas não era melhor, a elfa testava sua destreza com adagas, rapieiras, espadas, só para descobrir que lhe faltava muito em técnica com todos estes equipamentos.

Livro 1 - A Elfa, O Homem e a Ordem [completo]Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora