Capítulo V - Sob as asas da águia [Parte 17]

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O grupo que chegou à floresta de Lannuaine era muito diferente daquele que havia partido. Além da carruagem de Ghrèin, outras duas seguiam pela trilha, cada uma guiada por quatro cavalos negros, cheias de adornos e carregando o símbolo real. Dez cavaleiros muito bem armados seguiam pelo entorno, responsáveis pela escolta.

Dessa vez, Blath guiava a carruagem que levava seu pai, enquanto Ara montava um cavalo emprestado pelo Rei e ia na frente, acompanhando uma cavaleira da guarda real chamada Lorena. Simpatizou de imediato com a humana, que estava sempre sorrindo. Tinha sido uma ótima companhia de viagem, ela conhecia histórias de diferentes raças, diferentes cidades, havia contado para Ara sobre crescer na cidade real, sobre suas aventuras como cavaleira, os lugares que havia visitado. Talmhainn parecia ainda maior do que Ara poderia imaginar. Claro que vira os muitos mapas, mas começava a imaginar que tinha pouca compreensão da dimensão daquilo que os pergaminhos tentavam representar.

A própria floresta enganava, pelo visto. Ao lado de Ara, comentou que Lannuaine parecia muito mais extensa do que os mapas sugeriam. Haviam adentrado a mata fazia mais de meio sol e, mesmo considerando os passos lentos de carruagens lotadas, o caminho era maior do que a guerreira tinha antecipado. Ainda mais por seguirem em linha reta, direto para a vila élfica.

— Como alguém pode se perder aqui dentro? A trilha é tão óbvia! — Lorena exclamou, confusa.

Não estava enganada, o caminho era de fato bastante claro. Aberto, espaçoso e óbvio de seguir.

— Vocês estão com sorte, Lannuaine os recebeu bem. Essa é uma trilha rara de aparecer. Acho que nem quando saímos foi assim.

Trilhas largas não existiam na floresta, a não ser que os elfos precisassem passar com carruagens, o que era algo pouco comum. Os mercadores levavam seus produtos em carretas, ou cavalos, e não precisavam de tanto espaço. Ara via como um bom sinal que Lannuaine havia sido tão receptiva, o Rei provavelmente merecia. Pensou em pedir que seu pai preparasse tortas de mirtilo para os visitantes, Dìon as fazia maravilhosamente bem.

— Espera, como assim a trilha apareceu?

Uma expressão engraçada surgiu no rosto de Lorena, olhos arregalados, a boca meio aberta. Ara sorriu. Forasteiros tinham dificuldade de compreender a floresta, por isso o lugar era considerado tão assustador por muitos.

— Lannuaine é bem viva. Ela não costuma ficar igual todos os dias, se adapta pros seus habitantes, nos dá o que precisamos. Isso significa que, quando chegamos com um grupo grande dessas, ela abrirá um caminho maior.

A humana soltou uma exclamação de espanto e começou a prestar mais atenção ao seu redor, esperando observar as árvores se movendo.

— Acontece devagar. Você precisa prestar atenção por muito tempo pra ver. — a elfa explicou.

Lorena não respondeu, continuou com os olhos semicerrados, olhar atento. Não parecia assustada, apenas curiosa, o que fez Ara gostar dela ainda mais.

A lua surgiu, o sol se pôs, e a comitiva por fim se aproximou de Lannionad. Avistaram primeiro uma das altas torres de pedra, disfarçadas pelo limo e trepadeiras. Ara pôde ver Gaoth no topo da construção, observando sua chegada. Gaoth assentiu para a jovem elfa e fez um sinal para outro alguém, na direção da vila, que Ara não conseguia enxergar.

Normalmente, quando se chega em Lannionad por terra, não há muito o que ver. A vida do vilarejo fica toda próxima às copas das árvores e o chão é reservado para atividades como treinamento, plantio, transporte de produtos e alimentos — ou seja, não é o local mais bonito, nem mais apropriado, para receber o Rei. Após sua experiência em Cáhida, Ara compreendeu que seria o equivalente à receber um nobre no castelo pela entrada dos criados. Mas, naquela noite, o gramado em frente à Lúchairt, o grande carvalho, estava digno de receber até mesmo um dos Pais de Tudo.

Livro 1 - A Elfa, O Homem e a Ordem [completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora