Capítulo VII - A Rainha e a Prisioneira [Parte 25]

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— Eu não acredito que só agora me contaram que tem uma biblioteca aqui. — Raquel falou, enquanto caminhava por uma trilha quase imperceptível que seguia pela floresta de Lannuiane.

Os livros que trouxera estavam chegando ao fim, então havia genuína irritação em sua voz. O Rei, que caminhava a passos lentos do seu lado, riu.

— Fica muito longe? — Raquel perguntou, olhando ao redor. Só o que via era a mata. Dirigia-se ao elfo que andava poucos passos a frente, parecendo alheio ao que ela e o pai falavam. Por um momento, achou que teria de repetir sua pergunta, falando mais alto, porém Anluath logo respondeu:

— Não muito, mas a biblioteca foi feita longe do grande carvalho de propósito. Muita agitação.

O elfo se virou e parou, encarando os convidados reais:

— Só peço que não se anime tanto, princesa. — Anluath continuou — Não temos muito costume com a leitura por aqui, nossa biblioteca tem outros objetivos. Temos poucos volumes guardados, com certeza nada comparado ao que vocês têm em Cáhida.

Anluath continuou a andar, Raquel deu de ombros.

— Qualquer coisa diferente do que eu trouxe já está bom.

— Talvez você devesse aderir aos costumes dos nossos anfitriões, e escutar mais histórias do que ler. — o Rei falou, com uma risadinha. Sua voz estava fraca, mas ainda conseguia completar frases sem ter acessos de tosse.

Raquel fez uma careta e não encontrou uma resposta, sem saber se o pai falava sério, e sem decidir se ele tinha razão.

Interromperam a conversa com a aproximação de uma clareira, com uma construção que sequer parecia ter sido construída — exceto, talvez, pelas enormes janelas de vidro. A biblioteca se estendia, alta, até quase a copa das árvores, e uma enorme porta de vidro esverdeado, ornada com finas grades de ferro, os convidava a entrar. Em cada canto ficava uma grande árvore, e delas saíam paredes de vidro quase transparentes, quase azuladas, que faziam a biblioteca. Como tudo em Lannuaine, aquele lugar tinha sido tomado pela natureza, e plantas cresciam subindo pelo vidro, descendo pelos telhados, segurando-se de forma quase mágica aquelas paredes e insistindo em fazer a biblioteca desaparecer por entre as folhas.

O Rei e a princesa se perderam por um longo momento, observando a fachada. Anluath olhava deles para a biblioteca, com um sorriso orgulhoso no rosto. O elfo gostava daquele lugar, apesar de não visitá-lo com frequência. Sentia-se confortável, assim como quase todos que ali chegavam. Apesar disso, o real motivo de ter se voluntariado para levar os convidados reais à biblioteca nada tinha a ver com seu amor por ela. Em verdade, desde que Ara havia lhe contado sobre os planos da Virtude, Anluath começara a se preocupar com o bem estar do Rei e, principalmente, de sua herdeira. Preferia estar por perto, era uma forma de garantir sua segurança.

— Bom, querem entrar? Ela é tão bonita dentro quanto por fora. — Anluath falou, despertando Lázaro e Raquel de seu transe.

Passaram pelas portas abertas. A biblioteca não tinha um teto, não por completo, mas sim uma treliça de galhos, por entre a qual cresciam trepadeiras, flores, um ou outro cogumelo. Borboletas e passarinhos entravam e saíam por ali, faziam parecer que continuavam ao ar livre. Poucos passos após a entrada, longas estantes já dominavam a vista, mas não carregavam nenhum livro.

Nas muitas prateleiras de madeira escura, posicionadas de forma equidistante, estavam variadas pedras, de tamanhos e cores diversas. Sem entender nada, Raquel e Lázaro se aproximaram.

— Pegue, qualquer uma delas. — Anluath incentivou.

Raquel, divertindo-se, escolheu uma pedra do tamanho da palma de sua mão, negra e polvilhada de pontos brilhantes. Olhou para o pai, como se questionando se deveriam pegar mesmo aquela, e Lázaro assentiu. A princesa ergueu a pequena rocha.

Livro 1 - A Elfa, O Homem e a Ordem [completo]Where stories live. Discover now