Parte 32

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No exato momento em que Raquel foi enfeitiçada, a Rainha Valéria perdeu o ar e o equilíbrio. A imagem do rosto de sua filha, inconsciente e sujo de terra, apareceu de relance em sua mente. Não soube ao certo o que havia acontecido, mas não precisava de mais detalhes, tinha era de fazer alguma coisa, ajudá-la de alguma forma.

Estava em seu quarto, no alto de uma das torres do palácio, sozinha. Era um cômodo amplo, bem mobiliado, repleto de tapeçarias, vasos de cerâmica, e diversas outras peças decorativas que ela nunca desejou ter, mas que havia recebido em algum momento da vida. A cama do casal era grande, coberta por uma colcha vermelha com bordados dourados. A cama com um espaço mais vazio do que aparentava estar, faltando o calor de um corpo que já não voltava para lá fazia tempo.

A Rainha cambaleou até a porta, sempre havia algum guarda do lado de fora, poderia ao menos mandar que procurassem por Raquel. Deu poucos passos, e então escutou um barulho, um baque surdo vindo do corredor, como se algo pesado tivesse caído no chão. Valéria, por instinto, recuou.

A porta foi escancarada e uma figura entrou no quarto. Usa máscara preta e uma capa cobrindo o corpo, aproximou-se da Rainha com passos rápidos e decididos. Valéria berrou enquanto tentava se afastar, tropeçou na barra de seu vestido e caiu para trás. O maldito vestido longo e pesado, um dos poucos luxos que gostava mesmo de manter. O encapuzado tentou agarrá-la, a Rainha lutou contra, mas sua força era pouca. Ele a levantou, a pôs sobre seu ombro e, para o desespero da Rainha, o sujeito andou até a varanda, e jogou-a para fora.

Valéria viu-se em queda livre, sentiu o coração vir a boca e nem mesmo teve tempo de organizar a mente e gritar. Percebeu que o chão se aproximava e o desespero tomou conta de seu corpo, mas, de súbito, parou de cair. Foi sua impressão, em verdade, pois não parou em pleno ar. A velocidade com a qual descia diminui tanto que causou tal sensação. Olhou para o chão, outras três figuras de máscara a esperavam lá embaixo, um deles com os braços erguidos, pronto para segurá-la. Valéria tentou evitar, balançando os braços de forma estabanada, como se pudesse fugir. O encapuzado a puxou e, com a ajuda dos outros, amordaçou-a e jogou-a para dentro de uma charrete.

O mascarado restante saiu do quarto da mesma forma que a Rainha, pulou para fora da varanda e um de seus companheiros fez um movimento com as mãos e diminuiu a velocidade da queda.

A charrete passou pelos muros do palácio por um portão lateral, pequeno, que era vigiado apenas por dois soldados. Naquele momento, os dois guardas estavam mortos, mas pregados ao muro para permaneceram de pé. A Rainha tentou gritar por socorro, mas o pano amarrado em sua boca não permitia a voz sair com a altura necessária. Tentou se arrastar para fora da charrete, mesmo com os pés e mãos atados, mas um dos sujeitos a puxou de volta pelas pernas e lhe deu um chute no estômago, como advertência.

O grupo não teve dificuldades de sair da cidade, a vigilância era muito menor na saída do que na entrada. Logo se afastaram de Cáhida, carregando Valéria, amordaçada, em meio a caixotes vazios e pilhas de feno.

Naquele sol, Rainha e Princesa desapareceram.

Leonel, o último herdeiro do trono, bebia vinho na varanda de seu quarto, observando as montanhas através de olhos entorpecidos.

Enquanto Zaras entrou no salão real, vazio e desvigiado, e sentou-se no trono. 

Livro 1 - A Elfa, O Homem e a Ordem [completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora