Verdadeira Face

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Capítulo 30

O senhor das trevas pode ouvir a marcha dos soldados, ele pode ouvir o farfalhar dos metais e a batida frenética dos corações desesperados, suas faces podiam estar frias e sem expressão mas, sua humanidade jamais esconderia os verdadeiros sentimentos que os tomavam naquele momento que a esperança lutava contra o medo. Ele podia sentir sua boca salivar, as imagens daquela centena de corpos sobre as terras amaldiçoadas lhe parecia um banquete, se sentia extasiado pelo pensamento de derrotar os traidores, imaginar a expressão de terror quando ele se juntar aos seus sete filhos e revelar sua verdadeira face será uma visão para se deleitar.

Sua face pálida encarava o espelho enquanto Edmund o vestia com uma armadura, era sombria e ostentava uma enorme capa, os soldados estavam se posicionando no pátio com pressa após as notícias de Sea, a carta de Vitia era clara que não tinham muito tempo por conta de possíveis traidores e a confiança dos Dominic apenas alimentava essa ideia. O desespero poderia ser o pior inimigo do falso rei assim como sua confiança, aquele que regia as trevas estava se divertindo com o que acontecia ao redor, aquelas palavras esperançosas que muitos deixavam escapar eram como sonhos se desmanchando no ar, as esperanças seriam esmagadas em pouco tempo e ele ansiava para esse momento chegar.

Em toda sua grandeza ele odiava que muitos se dirigissem a ele como Wilfried, o homem que foi escolhido para cuidar daquilo que lhe pertencia e o traiu mesmo após tanta confiança, os humanos eram traidores e ele agora tinha certeza que jamais voltaria a colocar algum deles no poder. O céu avermelhado anunciava que a profecia estava prestes a se concretizar e Elaja se sentaria no trono, a cor de seus olhos jamais seriam as mesmas, desapareceriam assim como a lua de sangue dando início a algo muito maior.

Cada um deles levou consigo algo de si, as sete criaturas que criou eram fragmentos de seu ser e assim ele os transformou em sua espada, aqueles que lutariam e levariam o nome da valentia e a cor do poder em si. Aqueles olhos mais vermelhos que qualquer rosa já vista, o fogo ardia neles, o poder emanava de seu olhar e jamais alguém ousaria os confrontar, tudo foi feito por um proposito e agora ele finalmente estava próximo, o poder desejado por eles estavam ao seu alcance e nada poderia mudar o curso dessa história, estava escrito pelo fogo no dia em que os olhos de Elaja se abriram.

Sua primeira criação era a mais poderosa, entregou sem hesitar seu poder na casca perfeita que moldou e olhando para a joia rara lapidada por ele teve a certeza que era perfeito para subir ao trono e unir os dois mundos, o conhecido e o desconhecido se tornariam um só, o céu avermelhado gritava que o fim de um mundo estava chegando para o começo de outro. O calor desaparecia, o frio soprava e tudo se escurecia, o cenário para seu espetáculo estava se formando e quando chegassem ao topo da colina as cortinas iriam se abrir.

O pobre criado sentia, ele estremecia pelo vento frio que soprava, suas mãos tremiam sem parar e se arrepiava quando tocava a pele pálida exposta de seu senhor, os olhos que o fitavam estava ainda mais obscuros, sem brilho algum e a pele se assemelhava a de uma pessoa que já deixou este mundo. Ele perdia o ar, sentia a morte cada vez mais perto, ficar ao lado de Wilfried era sufocante, cada passo seu era hesitante e assim que aquela voz o chamava um arrepio percorria seu corpo.

Não só a morada de Onfroi havia mudado, todo o reino tinha suas cores mais apagadas e frias, as únicas cores que pintavam o céu era o cinza e o vermelho e ninguém reconhecia mais o regente, mesmo que tentasse suas ações e palavras eram frias, se tornou tão distante e aterrorizante que quando seus passos ecoavam pelo palácio muitos se encolhiam, não havia calor, não havia vida em seus olhos, ele não se parecia com a mesma pessoa que partiu para Sea.

— Você sente, sabe há muito tempo que já não sou o mesmo... — a voz rouca quebrou o silêncio entre os dois.

Edmund evita encontrar o olhar de seu senhor e continua arrumando suas vestes, sua boca está seca e seu coração está acelerado, aquele homem diante dele exala poder, mistério e sua aura pesada, sua pele fria e pálida, assim como suas ações que tornam seus medos ainda maiores. Cada palavra que escada de seus lábios vermelhos parecem ser propositalmente escolhidas para instalar o desespero em seu ser.

A Mansão Escarlate (Romance Gay)Where stories live. Discover now